Once Upon a Time in Vogue: a realeza britânica nas capas da revista

Catarina Garcia
Semiosis
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19 min readDec 8, 2022
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Uma análise à capa da revista Vogue de agosto de 1981, que nos mostra a dualidade da realidade vivida por Diana, Princesa de Gales, durante o seu casamento com o Príncipe Carlos.

  1. Introdução

A moda desde sempre que ocupou um marco importante na sociedade, abrangendo vários parâmetros, como a política, a ciência, a economia, a cultura e a educação. Como tal, sempre foi utilizada como objeto de estudo e assunto de interesse para os órgãos de comunicação e para um público específico, tenho ganho um lugar num mercado emergente para o mundo jornalístico e para todos aqueles que trabalham ou se interessam pela área.

As primeiras manifestações impressas sobre o tema datam o início do século XVIII. A partir desse momento deu-se um processo de valorização da moda, nomeadamente em França onde, entre 1710 e 1750, o jornalismo de moda circulava. Os periódicos mais importantes da altura eram: La Quintesse des Nouvelles, que tinha uma visão crítica da forma de vida parisiense e do quotidiano da sociedade da época e Le Nouveau Magasin Français, que propagava as novas tendências e fazia reflexões críticas e intelectuais da moda da altura.

Mas foi com o aparecimento do Journal de la Mode et du Goût e do Le Journal dês Dames et dês Modes, que foram introduzidas diversas novas formas de abordar o tema, onde as publicações vinham acompanhadas de figuras e ilustrações de roupa e looks completos onde as leitoras se podiam inspirar.

Foi no século XIX, que se fez sentir uma enorme evolução no jornalismo de moda, em que as publicações que surgiam já traziam moldes e modelos com medidas de modo que quem lesse pudesse copiar as roupas. Foi por esta altura que o modelo das magazines e publicações se começou a aproximar do que o que encontramos atualmente, em que a moda deixou de ser o único foco, surgindo publicações que se dedicavam à generalidade do universo feminino: moda, receitas, bordados, decoração, saúde, peças de teatro, etc.

Com o passar dos anos, a popularidade deste tipo de revistas e periódicos começou a aumentar exponencialmente, alargando-se a outros países e tornando-se objeto de interesse de pessoas de todas as idades e classes sociais. Com esta difusão do mundo da moda e dos artigos e críticas sobre o tema, a criação de conteúdos deixou de existir apenas na Europa e começou a aparecer em novas revistas nos Estados Unidos, e mais tarde por toda a parte do mundo.

2. Semiótica

A origem da Semiótica remonta á Grécia Antiga, onde a palavra semeon deu origem ao termo na forma como o conhecemos atualmente. Desenvolvida com o intuito de podermos entender a linguística conjuntamente com os respetivos aspetos semiológicos, a semiótica foi ganhando relevância ao longo dos tempos, uma vez que se chegou á conclusão de que a língua, fora de um contexto, não se faz língua, sendo somente um signo, palavra.

Embora a semiótica se tenha vindo a desenvolver ao longo dos anos desde a Grécia Antiga, foi no século XIX, que através do trabalho e investigação de Ferdinand Saussure e Charles Sanders Peirce, a mesma foi desenvolvida e reconhecida como uma ciência.

Durante a análise do processo de significação e produção de signos sugiram duas abordagens bastante distintas — uma abordagem europeia e outra americana. A tradição europeia, de inspiração linguística, estrutural e formalista nasceu pelas mãos de Saussure, enquanto a tradição americana, com base na lógica e na matemática surgiu a partir das reflexões de Peirce.

A partir destas duas abordagens, a semiótica desenvolveu-se num conjunto de saberes teóricos e metodológicos, que lhe deram a possibilidade de observar para os fenómenos da comunicação, desconstruindo os seus discursos de modo a compreendermos mais profundamente as experiências que temos diariamente na nossa relação com o mundo.

Inicialmente, a semiótica foi entendida como a ciência dos signos com fundamentos teóricos abrangentes, mas com o passar do tempo, a conceção de semiótica e de signo sofreu diversas alterações e caraterizações. Atualmente, podemos caracterizá-la como sendo a ciência da significação, que se encontra em constante evolução e desenvolvimento, e que é uma ferramenta imprescindível na interpretação de signos, verbais e não verbais, usados nas mais variadas formas de comunicação.

Sendo assim, podemos afirmar que o objeto de estudo da semiótica é formado por todos os possíveis tipos de signos, verbais e não verbais, os respetivos modos de significação, de denotação e conotação, assim como os seus comportamentos e propriedades, e tem como objetivo estudar a forma como os signos se contextualizam, se estruturam, como são emitidos e produzidos, e que efeitos e consequências podem provocar nos seus interpretantes, a curto, médio e longo prazo.

1.1. Semiotica Peirceana

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A teoria semiótica adotada para a análise de imagens apresenta duas vertentes divergentes: uma proposta por C.S. Peirce (1966), no final do séc. XIX nos EUA, e outra proposta por F. de Saussure (1916) no início do séc. XX, na Europa. Ambas as teorias são de grande relevância quando se estuda e analisa as imagens e os seus significados.

De acordo com Sturken e Cartwright na sua obra Practices of Looking (2001:25) os significados da imagem não estão somente nos seus elementos, “mas são adquiridos quando esses elementos são consumidos, vistos e interpretados”. Ou seja, as imagens e fotografias geram e modificam os seus significados, de cada vez que são vistas e analisadas, dependendo do contexto sócio histórico de quem a produz e de quem a vê.

Quando se reflete sobre o significado de uma imagem fotográfica, quando e onde a mesma foi tirada, o que mostra, qual o tipo de relação que as pessoas e os objetos estabelecem entre si, tenta-se interpretar e entender o significado da imagem e o que a mesma significa para nós. Ao fazer-se esta análise, inconscientemente utiliza-se recursos da semiótica, tanto para entendê-la, como para lhe atribuir um significado.

Charles Sanders Pierce foi um filósofo, matemático e físico norte-americano que trouxe contribuições importantes no campo da semiótica. O estudo da Semiótica Peirciana foi baseado na fenomenologia, que tem como função estudar o modo como os aparecem na mente humana. Para estudar estes fenómenos associados à imagem, Peirce desenvolveu e estruturou um modelo triádico, dividido em três categorias, onde procurou explicar os processos mentais que permitem a interpretação de uma mensagem.

Para o filosofo, contemplar um objeto ou vivenciar um fenômeno leva quem está a observar, logo no primeiro instante em que recebe o estímulo exterior, a experienciar a categoria fenomenológica de primeiridade. Após este choque com a exterioridade, quase que instantaneamente, ocorre a secundidade, que Peirce considerou como sendo a reação da mente ao choque. Ambas as categorias acontecem ao nível de experiência, e a partir da secundidade inicia-se o processo de conceção e atribuição de significado áquilo que está a ser visto. Este processo de significação é considerada como sendo a terceira categoria, a terceiridade.

Mediante o exposto, todos estes processos representacionais começam na primeiridade, caracterizada pelas qualidades superficiais, as sensações e os sentimentos não elaborados, que posteriormente passarão para a secundidade, onde se formam as causas de efeito, ação e reação e os registos sentimentais mais elaborados e a comparação dos fatos. Por fim, a terceiridade, é a interpretação das impressões e a formação de um contexto para o signo.

Peirce definia signo como aquilo que, de alguma forma, representava algo para alguém, pois o signo, mesmo que inconscientemente, já possuía elaborações criadas nas mentes e tinha como função principal ativar recordações, sentimentos e pensamentos. Para este, a linguagem e o pensamento eram processos de interpretação de signos, sendo assim, o filosofo propôs certas categorias para os signos, que se baseavam nas diferentes relações que se estabeleciam entre o significado e o significante. Na sua análise dos signos, Peirce considerava três partes:

a) o representamen — que se referia à forma física apresentada pelo signo que o signo;

b) o interpretante — referia-se ao sentido que era atribuído ao signo;

c) o objeto — aquilo a que o signo se refere;

Foram esses pilares que deram origem à sua tricotomia e que explicam mais profundamente a representação dos signos.

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3. Vogue

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A comemorar este ano o seu 130 aniversário, a Vogue é uma das revistas mais icónicas no mundo inteiro, onde são abordados os mais diversos tópicos entre os quais: moda, beleza, cultura, estilo de vida e passarela. Publicada mensalmente desde 1892, pela empresa Condé Nast Publications, em 21 países, a revista alberga diversos trabalhos de estilistas, de fotógrafos, de escritores e de designers, numa ótica requintada do mundo da beleza e da Moda.

As primeiras revistas de Moda existentes ficaram conhecidas pelas suas publicações em torno de conteúdos relativos às virtudes da moralidade da época a que a feminilidade estava associada. Posteriormente, estas revistas passaram a focar na beleza e no bom gosto da classe burguesa, e compostas por diversas secções distintas como, ficção, crítica literária, gestão do lar, jardinagem, conselhos para o “bem vestir” e dos bons costumes, e higiene e saúde. Foi no final do século XIX que, com o crescimento significativo do consumo de revistas femininas, constatou-se que o crescimento económico se tinha refletido numa maior mobilidade social e num aumento da produção em massa. Ao longo do século XIX, as revistas femininas eram maioritariamente lidas por mulheres de classes sociais distintas, o que permitiu que as publicações fossem progressivamente moldando a sua identidade, em conformidade com os gostos e preferências das suas leitoras.

Idealizada por Arthur Baldwin Turnure e Harry McVickar e lançada em 1892, na cidade de Nova York, a Vogue é atualmente constituída por diretores, editores, jornalistas, colaboradores, criadores, modelos, fotógrafos e artistas, que tornaram possível que a revista se tornasse num sucesso e marcasse o mundo inúmeras vezes.

Pelas mãos de Turnure, e posto à venda pelo preço de dez cêntimos, o primeiro número da Vogue chegou às bancas de Nova Iorque a 17 de dezembro de 1892, com o intuito de transmitir aos leitores “uma publicação digna e autêntica da sociedade, da moda e do lado cerimonial da vida.”

Composta de edições textuais e visuais destinadas à classe burguesa, a revista começou primeiramente por ser considerada uma gazeta social, sendo que foi durante os seus primeiros trinta anos, que a Vogue fortaleceu a sua expansão cultural. A denominação Vogue foi atingida por Condé Nast em 1909, tendo este vindo posteriormente a tornar-se no primeiro presidente da Vogue Company.

Se inicialmente a revistas era exclusivamente publicada na cidade de Nova Iorque, foi durante o século XX que a mesma começou a ser publicada em diferentes países, assim sendo, a revista italiana foi primeiramente publicada no ano de 1964, com a designação de Vogue&Novità, passando em 1966 a ser intitulada por Vogue Itália. Em 1975, a equipa Condé Nast lançou a primeira edição Vogue Brasil e em 1979 reabriu a Vogue alemã, que se havia estreado em Abril de 1928 e fechado no mesmo ano.

As publicações da revista até ao ano de 2010 refletiram bastante o impacto que a Vogue teve na difusão da moda e na produção visual a nível internacional, uma vez que, ao longo de todo o seu percurso e da sua história, a revista conseguiu conquistar um alto capital simbólico. Impulsionadora da história da fotografia de moda, a revista contou por diversas vezes com a colaboração dos fotógrafos mais conhecidos mundialmente, que trabalharam arduamente e da sociedade de épocas históricas anteriores.

Atualmente, a Vogue através de celebridades, tendo em conta o valor figurativo que existe das mesmas aos olhos do público, cria e lança novas imagens, looks e tendências, exportando e importando produção e cultura visual em torno da Moda. Podemos por isso considerar a Vogue como sendo um ícone de Moda visual e cultural, que se empenha em satisfazer o seu cliente e inovar constantemente, através da criação de novas imagens, tendências e inovações estilísticas. É por todos estes motivos que se considera esta revista como sendo uma das instituições mundiais que mais transforma o vestuário em produtos simbólicos e de consumo.

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Lançada semanalmente com notícias, poesia e desenhos humorísticos, a Vogue, que foi em tempos um verdadeiro retrato da sociedade, passou a acompanhar a mudança dos gostos e dos hábitos de consumo da sociedade, e as páginas que abordavam os assuntos a ver com Moda começaram a ocupar cada vez mais espaço. Foi nesta altura que a revista passou a fazer jus ao seu nome, que tem como significado “moda prevalecente em determinada época”, sendo a palavra atualmente bastante utilizada na expressão in vogue para caracterizarmos algo que está “na moda”.

3.1. Once Upon a Time in Vogue

A primeira capa da Vogue

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Nova Iorque, 17 de dezembro de 1892.

A poucos dias do Natal, a história que viria a mudar para sempre o mundo da moda e das tendências escreveu a sua primeira palavra: Vogue. Segundo Sarah Jessica Parker, a palavra vogue tem um dos seguintes significados: “o modo ou moda prevalecente em determinada época; receção, reputação ou estimativa populares; moeda comum. Atualmente é bastante utilizada também na expressão in vogue, descrevendo algo que está na moda como algo que está in vogue. Desenhada por A. B. Wenzell, e fiel à elite e ao tipo de leitores que o seu criador queria atingir, a primeira capa da revista ficou caracterizada pela sua névoa emergente de borboletas e rosas, onde no meio pousa uma jovem, de aura etérea e delicada. A rapariga da imagem seria o tipo ideal de leitor de elite nobre ou da classe burguesa, a que a revista se dirigia. A utilização dos tons de bege e cinza ao invés do banal preto e branco da época sugeriam essa mesma elite e superioridade da senhora na imagem, dando uma sensação de pureza, conservadorismo, superioridade, nobreza e distinção.

A primeira edição da Vogue na Condé Nast

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Nova Iorque, 24 de Junho de 1909.

A primeira edição da Vogue na Condé Nast chegou às bancas no dia 24 de junho de 1909, com uma elegante ilustração a cores. Mais uma vez se vê ilustrada a imagem da jovem de elite nobre ou da classe burguesa que a Vogue tinha como “ideal de leitora” e principal publico a atingir. A utilização das cores castanho e vermelho no vestido da rapariga demonstram a juventude da mesma, assim como a sua classe e conservadorismo. Mais uma vez os tons de bege e branco sugerem a riqueza e a superioridade da rapariga, dando uma sensação de pureza, conservadorismo, superioridade, nobreza e distinção. Os tons de verde na imagem, para além de caracterizarem o universo limpo e de natureza que a rodeiam, transmitem harmonia, saúde e prosperidade.

A primeira Internacionalização — Vogue Britânica

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Londres, 15 de Setembro de 1916.

Foi em 1916 que a Vogue, atualmente com 25 edições internacionais, viu a sua primeira internacionalização. Fruto da crise consequente da Primeira Guerra Mundial, foi criada a edição britânica da Vogue, como forma de fazer face aos crescentes custos do papel nos Estados Unidos da América, assim como contornar as restrições de envio internacional que foram criadas na época, e que passaram a impossibilitar que a revista chegasse a território europeu, por ser considerada como um bem “não-essencial”. Esta primeira edição, com o nome de Forecast of Autumn Fashions, fez uma compilação de tendências e roupas que se previam ser a moda de outono do ano de 1916. Decorada com cores mais escuras, secas e fazendo jus à estação, a imagem ilustra um espetáculo de marionetas que, vestidas com roupas da época, fazem do palco um desfile de moda nomeado de L’Automne.

3.3. A realeza britânica nas capas da Vogue

Foi em 1927 que a então princesa Elizabeth, com apenas um ano de idade, apareceu pela primeira vez na revista. Desde então que a Vogue tem acompanhado de perto a vida e os marcos importantes na história da família real britânica, tendo já fotografado quatro monarcas, três coroações, os funerais de dois reis, uma abdicação ao trono, uma investidura real, muitos casamentos e uma caixa de joias de jubileus em prata, rubi, ouro, diamante, safira e platina.

Quatro mulheres distintas, quatro estilos diferentes, mas apenas uma família — a família real britânica: rainha Elizabeth, princesa Anne, princesa Diana e Kate Middleton, foram as quatro mulheres da nobreza que tiveram o privilégio de protagonizar a capa da mais importante revista de moda do mundo inteiro.

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Londres, Setembro de 1971.

Quando nasceu, em 1950, tornou-se imediatamente o centro das atenções da família real britânica e do mundo. Aquela que veio mais tarde a tornar-se numa elegante jovem, de olhos azuis e cabelos dourados, sempre se recusou a seguir modas e nunca foi dada a excentricidades, demonstrando desde cedo a sua forte personalidade.

Foi no ano em que completou os seus 21 anos, que a princesa Anne foi pela primeira vez fotografada para a capa da Vogue Britânica. Retratada numa bonita imagem, quase como se tivesse sido acabada de pintar, a fotografia apresenta-nos aquela que seria a única filha da rainha Elizabeth II, uma mulher determinada e olhar penetrante. Vestida com um vestido elegante, de cores quentes, mas suaves, adornado com uma gola cheia de folhos, Anne mostrou a sua delicadeza, elegância, mas segurança, ao ser retratada quase sem maquilhagem, naquela que ficou conhecida como tendo sido a primeira aparição da família real nas capas da Vogue Britânica.

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Londres, Novembro de 1973.

Foi no ano de 1973, que a “princesa modelo” da coroa britânica voltou a aparecer, em celebrações do seu noivado com Mark Phillips. Vestida com um exuberante casaco de pelo branco, uma tiara e decorada com luxuosas joias, simples, mas vistosas, a princesa Anne demonstrou o contraste da sua personalidade, poderosa, mas delicada, ao aparecer, mais uma vez, na capa de uma das revistas mais conhecidas mundialmente.

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Londres, Junho de 2016.

Em 2016, em celebração dos 100 anos da Vogue, foi a vez de Kate Middleton, a Duquesa de Cambridge, a protagonizar uma das suas capas, com uma fotografia capturada pela lente de Josh Olins, em Norfolk, marcando um século de estilo.

Vestida com um look descontraído, com estilo campestre e uma maquilhagem discreta, Kate Middleton surgiu com um vestuário a condizer com o cenário campestre de Norfolk, numa fotografia cujas cores e tons rapidamente nos transmitem esse mesmo cenário de campo e de natureza.

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Londres, Abril de 2022.

Foi em abril de 2022 que a rainha Elizabeth II, aos 95 anos, teve a sua fotografia estampada na cada da Vogue Britânica. Em saudações pelo seu 70º ano de reinado, a Vogue preparou um conjunto duplo de capas.

Com ar delicado e responsável, a rainha surgiu numa fotografia a preto e branco, tirada em 1957, quando a mesma tinha apenas 31 anos, utilizando joias de pérolas e a sua coroa de diamantes, demonstrando simultaneamente o seu poder e a sua serenidade.

4. Análise Semiótica a uma capa da Vogue: agosto de 1981, Diana, Princesa de Gales

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A arte em geral, tem como objetivo principal transmitir uma mensagem, provocar impacto e produzir sentimentos no público-alvo, sejam sentimentos de felicidade, de tristeza, ou de qualquer outro tipo. Este, foi sempre um dos objetivos principais da Vogue, ao criar capas que chamassem a atenção, tanto pelas suas cores e informação, como pelas pessoas que as protagonizavam.

Na altura em que a Moda gritava a excessos e excentricidades, a elegância parecia concentrar-se no País de Gales, onde Diana lhe abriu as portas. Foi no ano de 1981 que o mundo a conheceu, com o vestido de noiva altamente criticado e o seu anel de noivado, decorado de safiras e diamantes. O seu sumptuoso vestido decorado com mais de 10 mil pérolas e lantejoulas, e com uma cauda com mais de sete metros, marcou o início de uma era, de um novo capítulo na história da moda.

Durante a década de 80 foi adotado um estilo mais exagerado e irreverente, que assentava em cinturas e quadris definidos e ombros marcados por grandes ombreiras. A silhueta feminina passou a inspirar-se no vestuário masculino, os blazers e as minissaias tornam-se peças chave no vestuário feminino, os produtos da marca Chanel e o visual e estilo icónicos da princesa Diana passaram a ser alvo de desejo pelas massas. Nesta altura, a alta-costura francesa deixou de ser a tendência de moda dominante, dando liberdade a cada país de criar o seu próprio estilo e as suas próprias tendências de moda. Podemos dizer que foi a Diana a grande implementadora da moda fitness, que passou a ser base de criação de muitos visuais de moda, levando à criação de peças de vestuários com modelagem e conceito com inclinações para essa prática desportiva.

Foi no dia 29 de julho de 1981 que, Diana Spencer, uma tímida noiva, se tornou na princesa de Gales e protagonizou aquele foi considerado como sendo o “casamento do século”. Estima-se que cerca de 75 milhões de pessoas terão assistido à cerimónia através do ecrã, uma vez que aquele que foi o primeiro casamento televisionado da monarquia.

Com tamanho acontecimento, era claro que veríamos Diana em todas as capas de revistas e jornais na altura, e a Vogue não ficou indiferente ao sucedido. Na edição de Agosto de 1981, apareceu na capa de uma das revistas mais icónicas da altura, onde utilizou luxuosas joias adornadas de diamantes.

Tendo em conta a ordem de significação introduzida por Pierce, temos a Primeiridade

Começando pela primeira ordem de significação introduzida por Peirce, a Primeiridade, podemos identificar vários elementos que constituem a capa. Temos o fundo da capa, que por ter uma cor neutra contrasta com a figura de Diana, ressaltando a sua expressão facial, os acessórios que a mesma usava e as restantes cores presentes na imagem. Por baixo do nome da revista encontra-se a frase “The Day of the Wedding: Prince Charles and Lady Diana Spencer” escrita a letras brancas de modo a captar a atenção do leitor, ao fazer contraste com as cores da imagem, e ao mesmo tempo não retirar o protagonismo à figura da princesa, convidando o leitor a fazer uma reflexão em relação à frase e à expressão da mesma. A vermelho, no lado inferior esquerdo da capa, encontramos a frase “Fashion and Beauty Now”, que chama a atenção do leitor para o facto de aquela ser uma revista direcionada à moda e às tendências.

Sem que se lhe atribuísse qualquer qualidade, foram identificados os elementos que, de acordo com a conceção de Pierce, constituem a primeira fase do nível de pensamento, fundamentada pela liberdade, possibilidade e independência, e descrita como a fase que não se relaciona com o mundo exterior.

De acordo com Pierce, o conceito de signo é descrito a partir de uma relação triádica entre signo, objeto e interpretante. Assim sendo, de forma mais pormenorizada, este designa o signo como sendo o objeto percetível. O signo é o primeiro a estabelecer uma relação com o segundo elemento, o objeto, que por sua vez determina o terceiro, o interpretante. Pierce propõe que a primeira tricotomia simboliza a relação do signo com ele próprio, explicando que o mesmo pode ser:

· Quali-signo, ou seja, uma qualidade, ou primeira impressão;

· Sin-Signo, ou seja, algo existente ou a personificação de si em que são transmitidas as suas qualidades;

· Legi-Signo, ou seja, uma lei mediada de convenções;

Neste caso, podemos apresentar como quali-signos, o fundo acinzentado e as letras a branco e a vermelho. Estes traços são considerados quali-signos, uma vez que representam a qualidade da cor, sendo estas signos que não podem operar como tal até se corporificarem.

A conceção de índice nasceu da relação entre signo e objeto, dizendo respeito à segunda tricotomia. Assim sendo, um índice é um signo que apresenta relação de semelhança com aquilo que representa. O índice da capa é, portanto, toda a figura de Diana que, de certo modo, se relaciona com as frases apresentadas pela peça, ou seja, os quali-signos.

Posto isto, comparam-se as características e estabelecem-se relações associativas, marcando a entrada no segundo nível do pensamento — a Secundidade. Aqui, é possibilitada a comparação e a experiência no tempo e no espaço, inserindo-se um sin-signo, um objeto (relação de causa efeito) e o interpretante.

Logo, é nesta fase que são criados os primeiros elos e associações. Deste modo, temos a frase “The Day of the Wedding: Prince Charles and Lady Diana Spencer”, associada à expressão facial de Diana. Apesar da capa ser uma celebração ao casamento de Diana com o príncipe Charles, momento que supostamente seria de alegria, contentamento e felicidade, a imagem mostra-nos uma princesa de olhar triste, melancólico e pesado. O seu grande sorriso contrastava com os seus tristes olhos azuis, que em nada passavam a sensação de felicidade, de certo modo mostrando que, apesar de sempre ter demonstrado uma grande simpatia, satisfação e confiança ao seu público, Diana vivia triste e descontente com o seu casamento e tinha imensos problemas relacionados com a sua saúde mental. A sua expressão facial na imagem demonstra essa mesma dualidade da princesa, que contrastava com o cenário de comemoração pretendido pela revista.

Melhor imagem não poderia ter sido escolhida de modo a encaixar com a frase “Fashion and Beauty Now”, uma vez que nos é apresentada Diana, que só por si já era uma figura lindíssima e que chamava a atenção pelo seu olhar sensível e puro, utilizando brincos e um colar de diamantes que faziam referência à parte da moda, das tendências e do mundo “fashion” que era abordado na revista.

Por último, a terceiridade, representa uma conexão entre a qualidade e um facto e tem a capacidade de previsão de uma ocorrência. A mesma é caraterizada pela continuidade e representação do objeto, sendo, portanto, a categoria da ação vivida e da reflexão.

Como podemos observar na capa, a frase “Fashion and Beauty Now” e a própria palavra “Vogue” representam a revista e distinguem-na das restantes como sendo uma revista que aborda temas relacionados com moda e beleza. O vermelho utilizado nesta frase representa determinação, energia, otimismo e fama, e a sua mensagem remete-nos para toda a história e conceito da própria revista — a revista de moda mais famosa e conceituada no mundo inteiro. Mais uma vez a utilização da imagem de uma figura pública de grande importância na altura demonstra a fama e o valor da Vogue e os acessórios, a maquilhagem e o visual da princesa remete-nos para os temas abordados nos artigos da revista.

Referências Bibliográficas

Chitas, I. (30 de Agosto de 2019). My Fair Lady: o estilo da eterna Princesa Diana. Obtido de Vogue: https://www.vogue.pt/my-fair-lady?photo=Diana%201981b.jpg

Gonçalves, J. C. (2020). Entre o branco e o azul: Uma pausa no caos (Uma leitura semiótica de capas da revista Vogue durante a pandemia).

Pedro, E. (2019). Relatório de Estágio na Revista Vogue Portugal.

Santos, C., & Oliveira, A. (s.d.). A Comunicação pela imagem: Análise semiótica de campanhas publicitárias da FArm.

Sara, I. (2017). A Mensagem Visual da Moda: O caso da Vogue Portugal.

Taravela, P. (s.d.). Análise semiótica de imagens (Peirce). Obtido de Studocu: https://www.studocu.com/pt/document/universidade-lusofona-de-humanidades-e-technologias/semiotica/analise-semiotica-de-imagens-peirce/4232781

Catarina Garcia Penedo Pinheiro Gabriel, Nº 75978

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