Antropofagia

An.tro.po.fa.gi.a

Isabela Jaha
Cursinho Arte Pra Quê
3 min readJun 10, 2021

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Movimento artístico-literário fundado em 1928 pelo Clube de Antropofagia. Até os dias atuais, é um termo usado para obras que “deglutem” a cultura colonizadora (europeia) em favor da cultura nacional (brasileira). A pintura “Abaporu”, de Tarsila do Amaral, é o estopim da Antropofagia, onde a visualidade antropofágica se refere às cores, formas, paisagens e objetos presentes nas obras. A Antropofagia é diretamente crítica ao eurocentrismo.

Só a Antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente.

Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz.

Tupi, or not tupi that is the question.

Contra todas as catequeses. E contra a mãe dos Gracos. Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago.

Estas são as palavras que dão início ao Manifesto Antropófago, um ensaio poético escrito por Oswald de Andrade, em 1928. É com as palavras do Manifesto que se inicia um movimento artístico e literário no Brasil, o chamado “Movimento Antropofágico”. Nascido oficialmente na Revista de Antropofagia, o Movimento foi uma maneira de produzir obras artístico-literárias com um propósito além de uma estética europeia; o que esses artistas clamavam era por uma arte de cunho nacional, de maneira que a cultura brasileira deveria superar as barreiras de uma arte colonizada, de ares e visualidades provenientes das vanguardas europeias.

Tarsila do Amaral, Abaporu, 1928. Óleo sobre tela, 85 x 73 cm, Colección Constantini, Buenos Aires, Argentina.

Marcada pelo modernismo brasileiro, a Antropofagia é um termo utilizado até os dias atuais, quando procuramos nos referir a obras que subvertem o olhar europeu e colonizado. Na década de 20, a Antropofagia se mostrou presente sobretudo em obras de três grandes artistas e intelectuais: Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Tarsila do Amaral. Poemas, livros, pinturas, desenhos e fotografias foram os principais suportes desses artistas. O célebre “Macunaíma, o Heroi sem Nenhum Caráter”, de Mário de Andrade, assim como o “Abaporu”, de Tarsila do Amaral, são duas das maiores obras provenientes do Movimento Antropófago.

Tarsila do Amaral, Antropofagia, 1929. Óleo sobre tela, 126 x 142 cm. Acervo Fundação José e Paulina Nemirovsky, São Paulo — SP.

Literalmente, o que se esperava na Antropofagia era a deglutição de uma cultura, como forma de restabelecer o território brasileiro aos próprios brasileiros, sem as amarras da cultura europeia. Diferente do Movimento Pau-Brasil de 1924 — que considerava que a cultura brasileira e europeia poderiam caminhar juntas — o Movimento Antropófago clamava por uma estética que valorizasse a cultura, paisagem, comida, música, dança etc. da terra brasileira. Uma arte que coloca em xeque a arte “primitiva” (ameríndia e africana) e latina (de herança cultural europeia).

Oswald de Andrade, Manifesto Antropófago, 1928.

Referências bibliográficas

ANDRADE, Oswald de. Manifesto Antropófago. Em: Revista de Antropofagia. São Paulo: 1928. Disponível em: https://pib.socioambiental.org/files/manifesto_antropofago.pdf. Acesso em: 10 de Jun. 2021.

ANTROPOFAGIA . In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2021. Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo74/antropofagia. Acesso em: 10 de Jun. 2021.

MANIFESTO Antropófago. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2021. Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo339/manifesto-antropofago. Acesso em: 10 de Jun. 2021.

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