3 da Manhã
“They’re coming to get you, Barbara!”
Há quem diga que por trás de um bom filme sempre há um bom roteiro. Eu prefiro dizer que sempre há um bom diretor (ou minimamente um diretor inspirado). E Otávio Gaudencio confirma minha opinião ao lançar seu segundo curta de horror, 3 da Manhã (2020), demonstrando amadurecimento de ideias e desenvolvimento de um estilo peculiar de contar — e fazer — suas histórias de terror, as quais não precisam de falas e diálogos para serem compreendidas ou estruturadas.
Mais uma vez um horário dá titulo a um de seus filmes. Três da manhã, de acordo com o catolicismo, é considerado “a hora do diabo”, pois seria o horário oposto às três da tarde (momento em que Jesus morreu crucificado), simbolizando a vitória das trevas sobre a luz. Acredita-se que nesse horário emblemático os demônios despertam e perturbam o sono e o descanso das pessoas, fazendo-as acordar ou ter uma noite de sono inquieta. E eu suponho que é subliminarmente através dessa crendice que a trama do curta se desenrola.
A protagonista, interpretada por Bruna Bernardo (que também protagonizou o curta anterior a este, Depois da Meia-Noite), desperta às três da manhã. Sozinha em casa, tendo somente a TV ligada com o clássico A Noite dos Mortos-Vivos (1968) passando ao fundo, logo ela percebe que talvez haja alguém — ou algo — a mais além do filme lhe fazendo companhia.
Este é um horror sobrenatural que imediatamente nos faz lembrar do cinema asiático, o qual é especialista em tramas fantasmagóricas de arrepiar os cabelos, tais como O Chamado (1998) e O Grito (2002). Filmado num preto e branco granulado e se utilizando de mais conhecimentos e recursos técnicos para esta obra, aqui Gaudencio mostra uma evolução como realizador cinematográfico, fazendo diferentes cortes e planos cinematográficos para conseguir os efeitos desejados. E consegue! Criou um ambiente totalmente imersivo e apreensivo, cuja trilha musical contribui para intensificar essas sensações.
Evocando Drew Barrymore em Pânico (1996) não somente na aparência icônica, Bruna Bernardo chama a atenção e consegue esboçar com naturalidade as reações e expressões necessárias para estrelar esse pequeno conto de horror, que é curto, conciso e coeso. Na medida certa, como todo bom filme — feito por um bom diretor — tem que ser.
3 da Manhã
Direção: Otávio Gaudencio
Ano: 2020