Fim

“Todas as famílias felizes se parecem entre si; as infelizes são infelizes cada uma à sua maneira.”
Liev Tolstói

A produtora e diretora de arte paraibana Ana Dinniz ocupa pela primeira vez em Fim, curta de 2018, a cadeira de diretora.

É visível no filme, dono de uma fotografia deslumbrante, a experiência pregressa de Dinniz no trato com a imagem. Desde o começo, a força imagética é algo que chama a atenção no curta: com uma imagem difusa e desfocada, o filme começa ganhando foco a partir de uma conversa telefônica entre duas irmãs, interpretadas por Fabíola Morais e Ana Marinho.

É interessante notar como Dinniz e suas atrizes caracterizam as personagens a partir de contrastes: enquanto uma delas parece estar imersa em trabalho, se senta de modo altivo, fala de maneira animada, usa joias e maquiagem; a outra está em casa, fala de maneira mais pausada, se senta confortavelmente em duas cadeiras e mostra calma e doçura na voz. E mais interessante ainda é perceber que, apesar das diferenças, as duas mulheres compartilham laços de sangue e de afeto.

Com naturalidade e química, as duas atrizes conversam sem se preocupar em contextualizar para o espectador sobre o que estão falando. Estamos diante de uma conversa aparentemente real e banal a respeito de algo que não sabemos direito do que se trata.

Sem entregar o jogo, o roteiro do filme insinua que mais tarde, naquele mesmo dia, as mulheres se encontrarão em um evento familiar, aparentemente enfadonho e modorrento.

Pintando com cores naturalistas e opacas mais de dois terços da metragem de Fim, Dinniz ainda faz sua protagonista rodar pelo trânsito de João Pessoa e confirma, enquanto isso, o caráter pragmático de sua personagem na organização e resolução de problemas.

Mas o ponto de virada se dá no final da obra, quando o evento sobre o qual falaram durante todo o curta finalmente se revela. Descrever ou dar detalhes sobre ele é estragar a experiência de quem não assistiu ao filme.

Quebrando qualquer expectativa possível, Dinniz abraça uma direção oposta ao naturalismo e desnuda aspectos até então desconhecidos sobre o evento e sobre as personagens que acompanhamos. Enchendo o curta de vida, a diretora transforma seu filme numa celebração à vida, vibrante e colorida, nos forçando a pensar, de maneira retrospectiva, sobre o que vimos até então.

A alegria diante do todo parece ser a única saída possível para as personagens e também para nós, espectadores. Baita estreia.

Fim
Direção: Ana Dinniz
Ano: 2018

Veja o filme aqui.

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Thiago Dantas
curta curtas :: curtindo curtas, curtindo cinema

Uma espécie de Macabéa, só que mais trouxa. 31 anos, paulistano, comunicólogo e professor.