Partir

Filme concretiza sensações oriundas das tramas da memória e do ato de se despedir

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curta Partir

Partir (2018), de Sonia Guggisberg, é um filme constituído da sobreposição de imagens da casa da diretora à época em que ela era criança e filmagens do mesmo lugar hoje em dia.

No passado, crianças, danças e sorrisos preenchiam o ambiente. No tempo presente, destroços de concreto, marcas de demolição e a fundação aparente da casa revelam a impiedade do tempo.

A fórmula, aparentemente simples, levanta duas questões que perpassam toda a obra, guiando-a temática e estruturalmente.

A primeira pergunta é óbvia: do que é feita a memória? Guggisberg usa sons de sua infância somados a vídeos em Super 8. A sensação de nostalgia se exponencia graças à trilha sonora: uma voz feminina canta velhas canções em italiano (a voz da própria mãe da diretora, em registro antigo), colorindo as imagens com sépias de saudade.

A segunda questão, menos óbvia, e mais difícil de se responder é: quanto tempo demora uma despedida? Estendendo a mesma ideia de sobrepor as imagens ao som da música saudosista durante toda a duração do filme, Sonia parece revisitar o seu passado por tempo suficiente para, como o título sugere, finalmente partir. Mas a questão é que se o filme tivesse a metade da duração que tem, para efeito prático, a sensação despertada seria igualmente eficaz. E se a metragem durasse o dobro ou até o triplo, idem.

Porque se é fácil responder do que a trama da memória é feita (de passos de dança, de uma música, de rostos tingidos em vídeos antigos), não é tão fácil assim determinar quanto tempo uma despedida deve ter.

A resposta que Partir oferece é sete minutos. O suficiente para comover tanto a diretora e, provavelmente, seus familiares, como também qualquer um que, de coração aberto, se disponha a assistir ao filme e ter acesso a intimidade de outrem.

Partir
Direção: Sonia Guggisberg
Ano: 2018

Infelizmente o filme não está mais disponível para ser visto online na íntegra. Veja aqui um teaser.

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Thiago Dantas
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Uma espécie de Macabéa, só que mais trouxa. 31 anos, paulistano, comunicólogo e professor.