Praça Walt Disney

Curta de Sérgio Oliveira e Renata Pinheiro apresenta o cotidiano de uma parte de Recife

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Durante décadas, o cotidiano de muitas sociedades foi retratado na literatura e nas adaptações cinematográficas, com seus autores construindo paralelos entre as pessoas inseridas nessas realidades e os espectadores de suas obras. Seja no “mundo real”, seja na ficção, observamos hábitos, comportamentos e sensações que se misturam, tornado-os diferentes.

Diante desse contexto, o curta documental Praça Walt Disney (2011) surge como um recorte da sociedade pernambucana e de seus costumes. Não se trata de um retrato fictício, mas sim do registro de personagens e situações reais. Afinal, vemos um recorte da realidade, como uma espécie de documentário da rotina dos trabalhadores, dos banhistas e das pessoas que buscam pela sobrevivência na orla da praia Boa Viagem, uma das principais de Recife.

Em meio a esse cenário, a ótica de Oliveira e Pinheiro, os diretores, foca seus olhares numa praça exótica — cujo nome intitula o filme — cercada por brinquedos que chamam a atenção do espectador. Detalhistas, os dois conseguem captar as diferentes camadas do local, além de construir paralelos entre os elementos típicos da brasilidade e a cultura internacional.

Dos grãos de areia às ondas do mar, toda região é revestida por formas coloridas que fazem alusão aos clássicos da Disney, como o conjunto de bolas que modula o rosto de Mickey Mouse. Ainda que pareçam exagerados, os tipos dali encantam o público, como se fossem um entretenimento único. Nesse contexto, é interessante o modo com o qual o roteiro conduz as cenas, criando uma espécie de ilusão escapista para os personagens reais da história. As figuras que por ali caminham conseguem fugir um pouco dos problemas e da realidade que vivem, como se o ambiente colorido e alegre forjasse uma alienação e uma válvula de escape.

Quem nunca quis um espaço para esquecer os dilemas da vida?

Entretanto, o curta se torna prejudicado quando se limita somente a retratar as reações das pessoas, sem construir diálogos e ou pensar em uma trama ao fundo das imagens. Embora a premissa do filme seja documental e haja uma crítica velada ao sistema capitalista (o apego das pessoas ao bem material e à representação dos brinquedos denotam isso), o ritmo da narrativa soa meio cansativo e tudo parece girar em círculos, principalmente quando percebemos que a duração de pouco mais de vinte e um minutos parece um pouco excessiva. Material para algo além tinha, mas, infelizmente, não foi aprofundado.

Entre erros e acertos, o filme tenta se firmar na proposta de ser um documento de registro e cativa em alguns bons momentos, podendo gerar até uma identificação do espectador com o cenário. Para isso, Pinheiro e Oliveira fazem uso de um tom que busca essa aproximação.

Ao final, Praça Walt Disney funciona como uma boa oportunidade de reflexão para que possamos repensar nosso estilo de vida e, talvez, ressignificar nossos hábitos, sem perder a essência de quem somos.

Praça Walt Disney
Direção: Renata Pinheiro e Sérgio Oliveira
Ano: 2011

Assista ao filme aqui.

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