Cannes, futebol e lacração

Em meio a jogos em horário comercial, PLs venenosas sendo aprovadas na moita e tombos em campo, um grande evento aconteceu — mesmo que abafado pela emoção de uma possível revanche contra sete humilhações.

Mayra Schultz
curto
3 min readJul 24, 2018

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É, o Festival Internacional de Criatividade de Cannes aconteceu e ninguém, além de quem ganhou, lembrou disso. Mas se você se interessou e quer saber o que aconteceu, a gente te conta.

Como se fosse necessário, criaram mais uma categoria: a Creative eCommerce.

Depois de um total de zero pesquisas e uma mão na consciência, descobriu-se que para vender não adianta mais fazer um comercial conceito de chorar, implorar com um brinde de plástico ou botar o preço 10 centavos menor que o seu concorrente. A galera quer sentir que perdeu o rumo, sentir uma paixão lancinante pelo produto, não conseguir pensar em outra coisa.

Pois muito que bem, mas cadê o que importa?

Ah sim, vamos ao que importa.

Entre um camarão e outro, alguns profissionais acabaram perdendo o memorando e criando coisas inovadoras.

O Grand Prix foi pra conta da Microsoft, com a plataforma Xbox Design Lab: The Fanchise Model, numa parceria com a McCann London. Essa belezinha dá aos gamers não só a oportunidade de customizar seus controles remotos, como também tirar uma grana vendendo eles na plataforma, angariando uns créditos para trocar por produtos. Sim, o usuário cria, vende e quem ganha é você (só que não).

Outra galera que tomou um ou dois ácidos e se destacou na categoria foi a Volvo, que quis facilitar a vida de quem troca de carro todo ano (não sei quem são), e criaram um serviço de assinatura para utilização de carros on demand, tudo por meio do aplicativo Care, criação da Grey NY. E mesmo que o público ainda seja restrito, por motivos óbvios de VOLVO, a ideia nem é tão esquizofrênica assim, seguindo a vibe de compartilhar mais e possuir menos.

Já a Isobar NY desceu pro play pra brincar com a bola quadrada. Criaram para o músico Billy Corgan uma experiência baseada em conteúdo imersivo usando VR (tipo LSD), sugando os fãs e admiradores para a cabeça do músico por meio dos óculos de Realidade Virtual. Claro, levaram o Grand Prix de Digital Craft.

E você que achava que esses óculos só serviam para acalmar criança mal-educada, né?

Lindíssima, falou tudo. Mas… Só isso?

Claro que não, pois a menina Apple tava na roda pra jogo, mostrando as inovações na jornada de compra da Apple com uma mão, enquanto que com a outra recebia o Grand Prix de Brand Experience & Activation, com o projeto Today at Apple.

Enquanto isso, no Departamento de Lacração…

O CMO da Unilever, Keith Weed, liderou uma roda com os fundadores de três marcas de produção sustentável que agora são da Unilever. Agora, traduzindo para o português, isso significa que abrindo a casa para marcas locais e sustentáveis, a Unilever veste a carapuça como a empresa gigante que é e tenta limpar sua barra apostando em conexões humanas. Se vai funcionar? Claro que sim, essa gente não dá ponto sem nó.

Mas o troféu Lacre da Noite foi para o painel Bridging the gender divide: Supporting Each Other, idealizado pelo The Female Quotent, que calou a boquita de uma galera falando o óbvio:

"O rompimento do silêncio das mulheres está gerando um desconforto nos homens, e revelou que há homens que têm medo de um confronto maior ou má interpretação nas formas de relação profissional com mulheres."

O que escapou ao Tim Armstrong, chefão da Oath que disse que “colegas e colaboradores de uma empresa não devem se sentir intimidados ao convidar uma mulher para um almoço” é que o histórico de assédio não começou ontem e que respeito deveria vir de berço.

Igualdade de gênero e quebra de estereótipos estão pairando no ar como uma nuvem de gafanhotos, e enquanto renderem status de desconstruidxs para as marcas, serão usados até a exaustão. Seja para vender batom ou para parecer boazinha.

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Por hoje é só, pe-pe-pessoal!

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