Migrando de tecnologia: não entre em pânico

Elias Medeiros
CWI Software
Published in
4 min readMar 11, 2019
saiba onde deixou sua toalha

Mudar nossa principal ferramenta de trabalho nos coloca na situação de ser novamente aprendizes. Lidar com esta perspectiva é um desafio com o qual muitos de nós ainda vão se defrontar.

Ao longo de quase uma década, passei por algumas transições tecnológicas no trabalho. Comecei desenvolvendo, em meio a atendimentos de suporte, com PL/SQL, Oracle Forms & Reports; sim, não tenho saudades. Mais tarde conheci o Java, especialmente Groovy com Grails, além de ExtJS numa época onde fui full stack. E, desde 2017, estou um desenvolvedor iOS. Sem falar nos casos avulsos, como Angular, Kotlin, React Native, Android.

Baseado nestas experiências de trânsito entre saber e ter que aprender tudo de novo, resolvi compartilhar algumas ideias e percepções.

Aqui eu falo sob o ponto de vista de um desenvolvedor de software, que afinal é meu ofício. Mas penso que este texto possa ser aproveitado por qualquer um que se veja em situação semelhante, mesmo que as ferramentas sejam outras.

O que há algum tempo era jovem e novo, hoje é antigo. E precisamos todos rejuvenescer (Belchior)

Ser um júnior novamente

Ao atingir um alto nível de maturidade e proficiência, conseguimos encarar os desafios diários com um certo conforto e segurança. Migrar o nosso foco principal para uma nova linguagem ou framework pode despertar algumas incertezas.

Em diversos aspectos, a experiência e conhecimento adquiridos, e principalmente a vivência no ambiente de trabalho fazem muita diferença. Só que a produtividade já não é a mesma, nem a capacidade de investigar e resolver problemas.

Então, quando for estudar seu novo desafio, tome o seu tempo. Não pule etapas achando que vai conseguir entender tudo porque no fundo só muda a sintaxe. Claro, talvez você consiga. Outra possibilidade é que, um belo dia, falte algum conceito básico que você deveria ter aprendido no começo, mas achou irrelevante. Eu já me dei mal exatamente assim.

as melancias podem voar da carroça

Alguma coisa fica para trás

Uma mudança de rotina é também um choque cultural. E alguns hábitos podem ser ofendidos nesta migração; eu, por exemplo, tinha firmada uma cultura muito mais decente em relação à escrita de testes quando já era mais experiente com Grails. Ao sofrer o cast para dev iOS, tive que aprender muita coisa em pouco tempo e não consegui, de imediato, reconstruir esta cultura na minha nova casa. Pode apedrejar, tudo bem.

Eis um desafio: reconhecer onde e por que estas perdas ocorrem e encontrar tempo para compensá-las — tudo isso enquanto o mundo não para.

git checkout .

Podemos chamar esta dica de: errar de montão. Não tem problema. Começar preocupado com boas práticas e arquiteturas legais pode parecer o correto, afinal são valores que nós cultivamos ao longo dos anos. Porém, buscar já de início a excelência em algo que ainda não se domina pode esconder uma fossa desmotivadora. Neste estágio, o importante mesmo é aprender como a nova tecnologia funciona, quais problemas ela resolve, quais ela cria e quais armadilhas provavelmente enfrentaremos — de preferência antes.

Faz muito bem ter uma caixinha de areia para brincar, testar e observar os comportamentos e resultados. Só não esqueça de descartar os experimentos e refazer o que for virar código de produção. Ele pode parecer bonitinho hoje, mas quando for mais velho…

Foque no que você sabe mais ou menos

Esta é uma dica ambígua, pois depende muito da forma como se encara a dificuldade e como se lida com a frustração que pode acompanhar os tropeços.

Por exemplo: para quem já sabe programar, é muito mais fácil aprender Swift do que o sistema de auto layout do iOS. Focar primeiro no que nos é mais difícil pode ser interessante, já que estamos cheios de energia no início. Enquanto começar pelo que for mais familiar pode ser motivador, pela sensação de progresso logo de cara.

Tente entender o que lhe serve melhor, mas bata a cabeça apenas o suficiente.

Tire um dia para si

Fazer cursos — só comprar não basta, ok? — ler artigos, participar de treinamentos, tudo isso nos ensina o que precisamos saber. Mas uma coisa que faz toda diferença, para trocar de mindset e cimentar o conhecimento, é pegar uma ideia, algo motivador, divertido, e tirar um dia pra imergir naquilo e programar como se não houvesse amanhã.

Não é necessário finalizar, nem ser algo destinado ao sucesso. Não precisa ser uma grande novidade, nem algo com espaço no mercado.

Quando eu resolvi aprender Angular, há alguns anos, comecei bem cedo em um sábado a desenvolver um sisteminha pra criação de fichas de personagens de RPG. Entrei o domingo com a mão na massa e, com o pouco que eu sabia, mais dezenas de buscas no Duck Duck Go, consegui algo tosco que funcionava, e aprendi muito no processo. Mesmo não tendo trabalhado muito com este framework no dia a dia, ainda tenho bem gravadas algumas destas lições.

Seja por paraquedismo, uma nova oportunidade, ou óbito de um antigo projeto: eu mudei, você mudou. Mas não há o que temer. Abrace a mudança; encare o desconforto do aprendizado; deguste a novidade e faça bom uso de suas novas habilidades.

Aprender é maravilhoso, cansativo e desafiador. Mais do que tudo, é o que nos diferencia como espécie. Por isso, queremos receber mais dicas! Compartilhe conosco suas estórias, fale sobre suas mudanças e os desafios que elas trouxeram.

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Elias Medeiros
CWI Software

Enfileirar palavras é meu ofício; algumas vezes em português, outras em Swift ou Kotlin :)