Ver, prever e fazer ver: uma trilogia sobre o agir estratégico do Design.

Manu Nascimento
CWI Software
Published in
4 min readJan 21, 2019

— Entendendo a perspectiva do Design —

Tendo em vista que as novas tecnologias permitem que as vantagens competitivas das empresas sejam baseadas na maneira em como suas ofertas são pensadas e desenvolvidas, o Design mostra-se como um ativo estratégico de alto potencial, pois busca aliar suas práticas à estratégia, trazendo uma visão diferenciada dos demais processos de desenvolvimento de produtos e serviços.

A perspectiva do Design valoriza a articulação entre os diferentes pontos de contato, que englobam os produtos e serviços, dentro e fora das organizações. Dessa forma, destaca-se por sua ação projetual, que busca desenvolver soluções que englobam o ponto de vista da empresa, dos fornecedores, dos colaboradores e dos usuários em um único processo de coprodução de valor. Por isso, tem sido considerado por muitos pesquisadores e profissionais um recurso indispensável para os processos organizacionais, o desenvolvimento e o aprimoramento de estratégias empresariais e, fundamentalmente, para o alcance da inovação.

A relação entre Design e Estratégia acontece na medida em que o design converge com questões de natureza complexa ou mal definida. Assim, o designer não aceita, simplesmente, um problema, mas desenvolve a configuração desse problema, especulando as fronteiras que o cercam e trazendo, para o projeto, contribuições críticas. Desse modo, passa de executor a proponente de uma determinada visão que possa influenciar e modificar o contexto no qual está inserido.

Mesmo existindo diferentes leituras sobre o que é Design, é possível reconhecer pontos recorrentes nas mais variadas definições, como: sua capacidade de Ver, Prever e Fazer Ver. A capacidade de Ver permite a compreensão e interpretação de comportamentos, habilitando o designer a extrair a essência do contexto para identificação de oportunidades. Já a habilidade de Prever favorece a criatividade e o desenvolvimento de cenários futuros, a partir do que é observado. E, por fim, Fazer Ver torna-se a habilidade que sustenta a ação estratégica do Design, tornando visível no campo do possível ideias e conceitos.

NASCIMENTO (2017)

Entende-se então, que o Design objetiva projetar produtos, serviços, comunicação e experiências, se distanciando de algo apenas destinado à forma e função. Por isso, as empresas, por meio do Processo de Design, podem criar vantagens competitivas desde a construção de estratégias e concepção de ideias até a finalização de um projeto.

Por se estabelecer em um processo aberto, é através da transdisciplinaridade e do diálogo que o Design se relaciona com áreas distintas, possibilitando uma visão mais completa do todo e das partes:

NASCIMENTO (2017)

A área de Tecnologia/Engenharia contribui para as definições relacionadas às características físicas de uma solução, articulando com as Artes a sua forma e a sua função. Na área de Economia/Gestão, a colaboração está ligada ao custo, preço, distribuição e mercado, que ao se relacionar com a área das Humanidades, configura a proposta de valor para os usuários. À Humanidades junto à Artes, tem como função construir significados e produção de linguagens, devido a sua dimensão cultural. Assim, a capacidade de articulação, integração de estímulos, síntese e oportunidades no agir estratégico do Design resulta na união entre forma, função, valor e sentido.

Compreendendo que o Design orienta seus esforços a questões que vão além da forma e função, o seu processo deixa de ser um mecanismo simples de criação de valor apenas a fatores técnicos, para se tornar um fenômeno complexo e humanístico, que incide de forma mais acentuada sobre elementos intangíveis dos artefatos. Assim, sua ação projetual foca no desenvolvimento do Sistema Produto-Serviço, com o intuito de gerar inovação.

NASCIMENTO (2017)

Tal abordagem orienta o ponto de atenção do designer a um conjunto de elementos, que contemplam todo o Sistema de Oferta. Sua atividade refere-se ao corpo integrado de produtos, serviços e estratégias de comunicação que uma rede de atores desenvolve para alcançar resultados específicos. A integração desses fatores ocorre de maneira conjunta, sustentada pela lógica de sistema e identificada nas habilidades do profissional em Ver, Prever e Fazer Ver — às quais irei aprofundar com conceitos e exemplos nos próximos textos.

Referências:

NASCIMENTO, M. Inovação pelo Design no Setor de TI: um estudo de caso em empresas de softwares do RS. Dissertação (Mestrado) — Universidade do Vale do Rio dos Sinos-UNISINOS, Programa de Pós-Graduação em Design Estratégico. Porto Alegre, 2017.

ZURLO, F. Design strategico. In: XXI Secolo, vol. IV, Gli spazi e le arti. Roma: Enciclopedia Treccani. 2010.

FRANZATO, C. O design estratégico no diálogo entre cultura de projeto e cultura de empresa. Strategic Design Research Journal, Porto Alegre, v. 3, n. 3, p. 89–96, set./dez. 2010.

MERONI, A. Strategic design: where are we now? Reflection around the foundations of a recent discipline. Strategic Design Research Journal, v. 1, n. 1, p. 31–38, 1 dez. 2008.

--

--

Manu Nascimento
CWI Software

Engenheira de Soluções na CWI Software; Professora de Design; Mestre em Design Estratégico.