Um pouco de Serial Experiments Lain [+SPOILERS]
“Present Day…
“Present Time.”
Talvez não o primeiro mas com certeza o mais envolvente anime cyberpunk que já vi, LAIN — Serial Experiments merece a atenção de qualquer um que goste deste subgênero de sci-fi. Traz questões psicológicas e filosóficas atreladas ao envolvimento do ser humano com a tecnologia, planeta Terra, outros seres humanos e o próprio Deus.
A série de 13 “layers” (episódios) foi lançada pelo estúdio Triangle Staff, dirigida por Ryutaro Nakamura e desenhada por Yoshitoshi Abe na TV Tóquio em 1998. Os elementos comumente encontrados nas obras cyberpunk como teorias da conspiração, grandes corporações, uma grande rede mundial que é capaz de conectar seres humanos através de interfaces cérebro/máquina, condição questionável do ser humano e muito mais são combinados com questões filosóficas e psicológicas de alta complexidade, o que deu a série o título de uma das mais complexas já criadas (vide as diferentes interpretações na web). Uma grande rede mundial de computadores (e humanos como se percebe) liga todos a uma mesma dimensão — a WIRED — uma espécie de evolução da nossa já tão complexa Internet. Me refiro a esta rede como dimensão pois é exatamente o que se mostra ser: possui sua altura, largura, profundidade e eventos revelam que o tempo passa de maneira diferente. Durante todo o anime as dimensões se confundem de maneira gradualmente crescente até que a nossa realidade se confunde com a do anime, deixando uma sensação de Inception.
Pretendo abordar futuramente o conceito filosófico e ocultista da Singularidade já que não é incomum encontrá-lo em animes cyberpunk. A Singularidade é a denominação dada a um evento futuro previsto por alguns cientistas e engenheiros biotecnológicos, em que tanto humanos quanto máquinas se “fundirão”. O que vemos em LAIN é a Singularidade como um meio para atingir um alvo ainda maior: um consciente humano coletivo, um “mar de consciências”, em que humanos e máquinas poderiam se comunicar através de uma rede que se utiliza de um meio ainda mais curioso — a ELF (Extremely Low Frequence) adicionando uma “consciência” humana ao planeta Terra. O projeto ECHO nomeia-se assim devido ao sonar dos golfinhos, que de forma similar dão “consciência” ao mar.
Uma coisa bem presente neste anime, assim como em Neon Genesis Evangelion, é a importância dos OUTROS para o EU. Mas Lain — S.E. trata o conceito da definição do ego através das memórias de outros, interações e paixões. Assim, para reparar todo o mal que fizer basta apagar as memórias relevantes e como os cérebros são parecidos com computadores neste aspecto, o Perdão Perfeito é possível. Complexo mas não necessariamente confuso. Profundo e interessante. Minimalista na linguagem — se há diálogos há pouco em imagens; se muitas imagens pouco em diálogos. Sem dúvidas uma viagem interessantíssima e uma das poucas que dão vontade de refazer/reviver. Muito mais para se falar sobre esta obra sim, OBRA, que com certeza rende proveitosíssimas conversas sobre cyberpunk, vida, religião e muito mais. Reverei ele em breve para fazer um review. No mais, assistam.
Originally published at cyberpunkbr.blogspot.com on May 9, 2018.