Laike, elfo guerreiro da Floresta das Trevas. Personagem de Gabriel. Fonte: Pinterest

Crônica de RPG O Senhor dos Anéis: A Tempestade Vem do Norte

Capítulo 1: Laike, filho de Aeron

Temporada 1: Guardiões do Norte

Vinicius I.S. Lara
Dá XP?
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10 min readNov 10, 2020

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Dia 7 de Outubro de 3.008 da Terceira Era. Valfenda.

Demorou, mas finalmente Laike estava sendo requisitado para uma tarefa.

Os últimos meses foram puramente ocupados por treinos e, verdade seja dita, em seu âmago agradecia ao ferreiro Baradan pelos ensinamentos preciosos sobre a arte de luta com espadas.

Laike, um elfo da Floresta das Trevas, era uma raridade para todos de seu povo. Jovem e, portanto, imaturo e imprudente, nada se assemelhava com os altivos e sábios elfos que moravam em Valfenda, a Última Casa Amiga e lar de Elrond, o Meio-elfo.

A estrada de sua vida fez com que saísse de sua terra natal, a Floresta das Trevas, e acompanhasse seu renomado pai, o Comandante Aeron, numa missão ordenada pelo próprio Rei Thranduil: Aeron Morian deveria levar uma carta escrita pelo seu Rei para o Mestre Elrond, em seu território, do outro lado das Montanhas Sombrias.

Aeron Morian, Comandante da Floresta das Trevas e pai de Laike Morian. Fonte: Pinterest

Aeron Morian achou que seria uma ótima oportunidade para seu filho mais novo, Laike, começar a desenvolver algumas habilidades fundamentais e, acompanhado de seu filho e de uma dúzia de seus soldados mais fiéis, iniciou sua marcha.

Mas o destino não quis que Aeron Morian, Comandante da Floresta das Trevas, chegasse a Valfenda. Sobrepujados em número, os elfos caíram um a um, ao serem emboscados por uma força de orcs habilidosos, assim que desciam a parte ocidental das Montanhas Sombrias, deixando Caradhras para trás.

Todos os elfos tombaram, exceto um: Laike. Mas não foi por mérito, e sim por pura sorte que Laike sobreviveu. Desarmado e inexperiente, foi deixado por último pelos orcs, mas não era sua hora, pois os filhos gêmeos de Mestre Elrond, Elladan e Elrohir, acompanhados do Mestre Ferreiro Baradan, chegaram no momento certo.

Rechaçaram o bando de orcs — cansados e feridos pelas baixas provocadas por Aeron e seus soldados. Mas chegaram a tempo de salvar apenas Laike, que, atônito por ainda estar vivo, correu até seu pai, apenas para constatar que ele estava morto.

Laike apanhou as duas espadas, outrora do Comandante Aeron, e procurou pela carta escrita pelo seu Rei Thranduil.

Mas a carta havia sumido. Juntamente com os orcs.

Baradan se compadeceu do jovem elfo, e o levou para Valfenda.

Laike precisaria saber lutar e sobreviver sozinho, caso desejasse recuperar a mensagem perdida escrita na carta e retornar para Floresta das Trevas.

Por isso, foi com ansiedade que recebeu a convocação de seu mentor e ferreiro Baradan.

Eles iriam investigar a Mata dos Trolls.

O Grupo de Elladan

Elladan, um dos filhos gêmeos de Elrond, liderava um grupo com a missão de encontrar um acampamento de orcs, que, até onde sabiam, poderia ser um dos causadores de parte da destruição que assolava o norte de Eriador.

Valendil, filha de Valur, uma dúnedan hábil no arco e na espada e estudiosa na história de Númenor e nos artifícios do Inimigo. Fonte: Luisa J. Preissler

Valendil, uma dúnedan experiente conhecida por seus estudos da história de Númenor e dos segredos dos Sábios, identificou sinais nas proximidades de Valfenda. Sua angústia em salvar vidas inocentes de homens (principalmente de descendentes de Númenor) lhe permitiu ser ouvida.

Não era o primeiro nem o último relatório que Elrond receberia: a ausência de Aragorn e de Gandalf começava a ser sentida pelas pessoas mais simples, que só desejavam viver em paz.

Algo precisava ser feito.

Então Elrohir foi enviado para o sul, acompanhado de outros elfos habilidosos.

Glorfindel viajou para o oeste, entre a Última Ponte e o Vau do Bruinen, limite do território (e das influências) do Mestre Elrond.

E Elladan, neste momento, estava mais ao norte, nas bordas da Mata dos Trolls.

Com ele estava o Mestre Ferreiro Baradan Anvelari, a Espada-Mortal; os irmãos Annatar Arco-veloz e Alassë Luz-da-lua; Erudhir Flauta-dourada e Laike, o espadachim da Floresta das Trevas.

Além, claro, de Valendil, Filha de Valur.

Charneca Etten

O grupo parou próximo das bordas da Mata dos Trolls.

Elladan fitava as árvores escuras e retorcidas como se esperasse que elas ganhassem vida.

- Espero que esteja pronto — Baradan aproximou-se de seu aluno.

- Pronto? Para quê? — Laike fitou os olhos serenos de seu mentor.

- Para decidir. Ainda não percebeu? Discutiram sobre o nosso objetivo o tempo todo.

Laike estava sentado, olhando as chamas frágeis da fogueira que Valendil acabara de fazer. Ao comentário de seu mentor, estudou seus companheiros.

Valendil parecia ansiosa, olhando desconfiada para os outros como se soubesse que não teria ajuda dos elfos. Elladan mantinha-se lacônico. Já os outros três, continuavam num debate infrutífero.

Infrutífero, pois os três já haviam dado seus argumentos e opiniões.

- Seria mais sensato convocarmos uma força maior para entrarmos na Mata dos Trolls — Alassë, conhecida por sua inteligência e cautela, parecia amedrontada só de estar na presença daquelas árvores.

- É o que eu digo — concordou Erudhir. — Uma coisa é uma missão de rastreamento, outra, completamente diferente, é invadir o reduto de Trolls.

- Valendil já havia nos dito que a trilha segue até a Mata — disse Annatar. — Viemos para isso.

- Então pretende entrar? — disse Alassë.

- Não. Mas não pretendo voltar.

- Então o que quer dizer, irmão?

- Podemos vigiar a Mata dos Trolls. Caso haja um bando grande de orcs partindo daqui para pilhar os arredores, cedo ou tarde saberemos, e poderemos emboscá-los.

- Caso haja? — a voz de Valendil se elevou mais do que o necessário. — Eu digo que há!

- Basta — Elladan voltou-se para os companheiros. Sua voz dura os calou feito mordaça. — Faremos uma votação. Esta missão não me agrada. Mas tampouco me agrada saber que há bandos de orcs matando e pilhando viajantes e aldeões. Se houver alguma chance de cessarmos essa violência, agirei. Além do mais, o pouco que conheço de Valendil me diz que ela entrará na Mata dos Trolls, mesmo que tenha que ir sozinha.

- Obrigada, Senhor.

- Não sou seu Senhor, a considero uma amiga dos elfos, não há necessidade de tanta formalidade.

Valendil corou, desviando o olhar.

- Eu também irei — decretou Baradan.

- De Valendil, todos sabem sua vontade — disse Elladan. — E vocês, o que me dizem?

- Eu não quero entrar na Mata — Alassë sustentou o olhar furioso da dúnedan.

- Eu também não. Prefiro o plano de Annatar — disse Erudhir.

- Bem — sorriu Annatar. — Eu prefiro o meu plano.

Foi então que Laike percebeu os olhos de todos sobre ele. Estava na segunda missão de sua vida. A primeira foi um desastre completo… Agora, após meses de treinamento com Baradan, estava ávido para provar sua capacidade. Precisava provar para si mesmo de que era capaz de proteger seus companheiros.

Além do mais, não iria a lugar algum sem Elladan e Baradan. Portanto, pronunciou:

- Vamos entrar na Mata dos Trolls.

- Obrigada, elfo — Valendil pareceu aliviada.

- Não me agradeça, não faço isso pelos homens, e sim porque me parece certo matar essas criaturas quando temos a chance.

Os olhos de Valendil queimaram num ódio mudo.

O Reduto

No dia seguinte, aos primeiros raios de um sol pálido de outono, Valendil liderou os seis elfos para dentro da Mata dos Trolls.

As árvores próximas umas das outras eram volumosas, com galhos mirando em todas as direções, fazendo com que o vento frio que preconizava o inverno não conseguisse entrar. Rapidamente a atmosfera ficou abafada.

A dúnedan seguia na frente, acompanhada de Elladan. Os dois iam agachados, tentando encontrar qualquer sinal que pudesse saltar aos olhos.

Tarefa difícil, pois o chão estava todo forrado de folhas que caíam das árvores e, o tempo todo, tinham que se desviar da rota que tomavam: a Mata dos Trolls era repleta de escarpas, colinas, paredes rochosas íngremes e inúmeros precipícios.

O dia inteiro foi assim: com avanços sofridos e rastros fracos.

Até que, depois de escalarem uma colina angulosa e dura, chegaram numa clareira ampla e fétida.

O sol tingia o cenário num laranja preguiçoso, pronto para se deitar no oeste, quando todos terminaram a escalada.

- Chegamos — disse Valendil, vitoriosa.

E, à frente deles, uma laje plana se abria com trapos e sujeira para todo o lado. Ao centro, um pequeno círculo de fogueira ainda emanava uma linha tênue de fumaça.

- Seja quem for que acampa aqui — disse Laike, puxando suas duas espadas das costas. — Saiu há pouco tempo. A fogueira foi recentemente apagada.

Pedaços de roupas, cobertores e mantas se espalhavam em pequenas pilhas, ocultando dejetos e restos de comida. As mocas zumbiam, incomodadas pela presença de intrusos.

- Devemos nos apressar — disse Erudhir, preocupado.

E não era para menos, pois a atenção de todos voltava-se para o outro lado da clareira. Um portal sinistro marcava a entrada de uma caverna de quase quatro metros de altura. Tiras de couro foram penduradas, com pedaços de ossos costurados por toda a extensão. Aquilo formava uma cortina macabra que chacoalhava ao menor sinal do vento, produzindo uma canção mórbida.

Incrustada numa colina escarpada, aquela caverna mais parecia a torre de um castelo.

- Achou algo? — Elladan vasculhava entre os montes de lixo, apressado em encontrar algo. Achou uma faca denteada de lâmina negra e resolveu guardá-la.

- Nada — resmungou Valendil.

- Vamos, vamos — pressionou Erudhir.

- Um instante! — Valendil corria os olhos, alucinada. Precisava encontrar algo. — Chegamos aqui, achamos o acampamento. Meus palpites estavam corretos. Um instante, precisamos descobrir algo que nos indique para onde o bando pode ter ido.

Então um estrondo explodiu de algum ponto detrás da caverna. Foi como o som conjunto de uma dúzia de tambores de guerra rugindo num único golpe.

BUUUMM!!!

O som se propagou no solo rochoso, reverberando por todos os lados. Até as árvores, raras e escassas na borda daquela clareira, sacolejaram desconfortáveis.

Assim que os últimos ecos da explosão sonora morriam, uma baforada de fumaça negra e repugnante emergiu do topo da colina escarpada, abrindo-se feito um cogumelo. Um manto fétido a barrar a luz benfazeja do sol poente.

- Vamos! — ordenou Elladan. — Vamos descer, agora!

Baradan, o Mestre Ferreiro de Valfenda. Fonte: (não encontramos a fonte dessa imagem! Quem souber, favor nos comunicar)

Não havia necessidade de repetir a ordem. Baradan ainda aguardou: claramente seria o último a sair. O elfo, coberto de cota de malhas, equilibrava sua incrível espada de duas mãos nos ombros, encarando a caverna como o faminto encara um prato de comida.

- Eu sabia, vejam! Feitiçaria! — Valendil apontou para a fumaça. — Isto é obra de feiticeiros, com certeza.

- Não importa — resmungou Baradan, agarrando um dos braços da mulher. — Vamos embora.

Valendil se soltou num movimento brusco. — Sim, vamos embora. A missão era apenas de reconhecimento, eu sei disso.

Mas não foram embora. Não tão cedo.

Pois, da escuridão da caverna, um urro furioso escapou. As cortinas dançaram no ar freneticamente, os ossos entoando uma canção de ameaça.

O Troll

Annatar não hesitou: num único movimento, girou o corpo enquanto encaixava uma flecha em seu arco longo, puxando a corda e soltando-a numa velocidade rápida demais para enxergar.

A flecha voou com ferocidade, mergulhando na escuridão da caverna.

O grito furioso da criatura revelou que Annatar acertara o alvo.

E, de lá, como que cuspido por uma fera colossal, um imenso Troll saiu num embalo cego. Com raras tiras de couro presas ao corpo, ele saiu babando e rugindo.

Estava com fome e, bem ali, na sua frente, um belo banquete se revelava. As duas mãos cavernosas envolveram um enorme porrete de pedra, que desceu com toda a força que aquela criatura poderia conter.

Lascas de pedra explodiram para todo o lado.

Annatar disparou outra flecha, mas desta vez o tiro não foi tão certeiro.

Elladan apanhou seu arco e somou uma flecha às de Arco-veloz.

Baradan afastou os pés e ergueu sua espada, murmurando uma prece. — Que Honra à Oromë se regozije em seu sangue, criatura imunda.

Laike, assustado, tentou controlar o pavor que ameaçava dominá-lo, puxou seu punhal e arremessou, apanhando sua espada novamente. Ficaria ao lado do seu mentor, independente do que acontecesse.

O punhal ricocheteou na pele dura do Troll que, furioso, disparou contra o grupo.

A investida veio num rompante, a enorme clava de pedra varrendo cegamente o ar.

Baradan demorou um pouco para agir, recebendo o golpe desajeitado. Por sorte a arma não o atingiu em cheio, mas seu ombro lembraria daquele golpe por dias...

O Mestre Ferreiro rolou no chão por alguns metros. O Troll urrou, ansioso para fazer sua primeira vítima. A criatura ergueu a clava e preparou o golpe que esmagaria o elfo ousado.

Mas Alassë foi mais rápida. O medo e a urgência fizeram-na vacilar, mas sua segunda tentativa foi decisiva.

Intensas ondas de luz branca emanaram de suas mãos, como se estas fossem feitas de cristal e o sol estivesse queimando forte bem ali, ao lado deles.

Pego de surpresa, o Troll soltou a arma recuando e protegendo o rosto. Rugia de frustração.

- Agora! — Erudhir chamou-os à razão. — Vamos, deixem a criatura para traz!

- Erudhir tem razão — ordenou Elladan, instigando os companheiros a correr. — Valendil, vamos!

Eles correram. O som os acompanhava de perto, indicando que o Troll havia se recuperando do truque de luz e estava no encalço deles. Alassë tropeçou, mas foi rapidamente erguida por Elladan. Annatar, durante a fuga, disparou mais duas flechas, enquanto Erudhir ia à frente, mostrando o caminho.

Laike e Baradan foram os últimos a sair.

E isso foi um golpe de sorte, pois Valendil prendeu o pé num emaranhado de raiz que se retorcia na borda do pequeno precipício. Enquanto os elfos meio desciam e meio caiam pela escarpa, Baradan, num único gesto, colocou a mulher nos ombros e jogou-se ladeira abaixo.

Mas teria sido esmagado, se Elladan não tivesse atraído a atenção do inimigo. No entanto, não foi rápido o suficiente para evitar o golpe com as costas de uma das mãos chatas que o Troll lhe aplicou.

Laike, enquanto descia a escarpa, viu Elladan rolar a parede rochosa, caindo ruidosamente entre arbustos e pedras. E foi aliviado que observou seu líder se levantar (com dificuldade, mas pelo menos estava vivo).

Ao menos estavam todos juntos e inteiros. E tinham encontrado o acampamento dos orcs. Agora, precisavam sair da Mata dos Trolls antes que o sol parasse de lançar seus dedos dourados na borda do mundo, no oeste distante.

Nota da Edição: Este trabalho é uma adaptação das sessões de RPG de mesa, que estamos desenvolvendo para um formato de texto, romanceado. Quaisquer erros de informação quanto às Fontes (de imagem e demais documentos) ou erros quanto à informação do universo de Tolkien, nos comuniquem que atualizaremos.

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Vinicius I.S. Lara
Dá XP?

Escritor Independente. Narrador de RPG nas horas vagas. Tentando sonhar menos e realizar mais...