Do topo à decadência e vice-versa: a movimentada história da Rua Augusta em São Paulo

Fernanda Cui
Da Massa
Published in
5 min readSep 29, 2018

Por Fernanda Cui e João Pedro Calachi

A tão famosa Rua Augusta, localizada na Região Central de São Paulo, teve seu significado criado e recriado pelos moradores da maior cidade Sul-americana. Ao longo dos anos, foi uma rua luxuosa, palco de bares e festas, passou por uma desvalorização total, mas hoje se encontra reestruturada muito em função do público jovem. A rua, que atualmente é um atrativo para quem procura diversão na noite paulistana, começou a sua vida como um local de compras da elite paulistana, passando nos anos 70 por uma grande desvalorização e apesar de todas as mudanças sempre foi muito marcante e relevante dentro da selva paulistana. Com isso, preparamos uma linha do tempo dos acontecimentos na Rua Augusta que explicam a sua função hoje e justificam o imponente valor da rua para a cidade de São Paulo.

Anos 1800

As primeiras referências da rua se dão no ano de 1875, quando ela ainda se chamava “Rua Maria Augusta” e era uma trilha que ligava a entrada da Chácara do Capão até a Estrada Real Grandeza, atual Avenida Paulista. A rua ficava dentro das terras do português Mariano Antonio Vieira e foi construída com o intuito de ligar a Avenida Paulista às outras regiões. Em 1897, seu nome foi oficialmente alterado para “Rua Augusta” — segundo as ordens de Mariano, que buscava dar um título de nobreza à rua que seria referência para a elite paulistana. Em meados de 1900 a trilha passou a ganhar forma e se tornou caminho certo rumo aos bairros dos Jardins e seus clubes, como o Club Athletico Paulistano, a Sociedade Harmonia de Tênis e o Esporte Clube Pinheiros, trazendo consequentemente uma harmonia luxuosa e elitizada para o local que aos poucos viu no comércio a melhor forma de se desenvolver economicamente.

Registros da região do Jardim Paulista

1900–1950

Até os anos 1950, a rua se manteve como uma clara representação da camada mais alta da sociedade, mas ainda sem muito desenvolvimento, mantinha uma harmonia interiorana com ruas de barro. Sempre muito bem arrumados, os pedestres que ali passavam podiam encontrar diversas opções de lazer que chamavam a atenção principalmente das famílias e mais tarde, dos jovens. As lojas faziam parte de um comércio fino e muitas delas eram de decoração, já as residências eram em sua maioria, casas muito grandes e confortáveis. Nesse período, a Rua Augusta em extrema expansão não só em tamanho mas no volume e interesse social, sofreu algumas alterações em seu caminho, sendo recorrentemente prolongada e readaptada as principais rotas da elite.

Região dos entornos da Rua Augusta em 1902.

1950: o topo

Se até o inicio da década de 50 a rua era dominada por casas confortáveis e pelos comércios de alto padrão, seria dali em diante que as mudanças começariam a acontecer. Esse período ficou marcado pelo domínio burguês e sequentemente pela primeiras influências de um movimento de cultura juvenil, que desejava romper com os padrões impostos e logo depois seria continuado pela chamada “Jovem Guarda”.

Assim, numa conexão entre moda e música, a rua foi se tornando cada vez mais um atrativo para uma juventude que desejava inovar em todos os sentidos. Enquanto a estrutura imobiliária da região se modificava com os chamados “edifícios mistos”, que a priori trouxeram um enorme desenvolvimento para a região, o local se transformava no principal ponto de encontro da elite paulistana que passeava pela via fazendo compras e via o local como sinônimo de luxo, exclusividade e status.

Porém, aos poucos acompanhando a moda e os temas da época, a Rua Augusta foi se tornando propícia para que uma nova cultura tomasse forma na sociedade. Assim como os principais pontos de encontro atuais, a Rua foi se popularizando, principalmente entre os jovens com as novas lojas de discos e os clubes de dança, que mostravam o reflexo de um novo movimento jovem, mais desapegado, esclarecido e despojado.

Rua Augusta nos anos 60.

1970: a decadência

Após as décadas de 50 e 60, com o boom de um movimento contra cultural, o tráfego de carros e pessoas também aumentou e consequentemente, a região começou a sofrer com maior criminalidade. Isso afastou as camadas mais altas da sociedade que passaram a frequentar os inéditos Shoppings Centers. Em consequência, os imóveis sofreram uma desvalorização e começaram a dar espaço a prostíbulos que se identificavam como “casas de massagem”, “casas de banho” ou “american bar”. O aumento gigantesco no movimento da Rua Augusta, em conjunto com a não aceitação da elite em partilhar sua exclusividade, geraram no cenário paulistano uma mudança muito importante no significado da rua para a sociedade, que se antes a classificava como um local refinado e exclusivo para se entreter, agora já a entendia como um local chulo, comum e vulgar. Consequentemente e não por acaso, a década de 70 na Rua Augusta foi dominada pela prostituição, que se tornou marca da via por muitos anos.

Rua Augusta nos anos 70

Hoje

Atualmente, a Rua Augusta se tornou uma referência de vida noturna para a juventude paulistana. Após muitos anos com domínio em massa dos prostíbulos, renasceu a sede dos jovens em vivenciá-la. Quem passa por ali durante o dia, encontra desde restaurantes comuns e baratos até lojas de brechó, que vendem roupas em sua maioria em um estilo alternativo. Já durante a noite, o local abriga bares e baladas para todos os gostos e estilos musicais e o movimento é muito intenso.

Porém, apesar de toda essa reestruturação, principalmente do Baixo Augusta — onde os prostíbulos hoje coexistem com as demais atividades — o que mais identifica a via, independente do horário, é a sua diversidade. Uma clara representação da nova sociedade multicultural e de muitas facetas, a região se tornou símbolo dos aspectos de pluralidade social e dos principais movimentos que buscam maior representatividade no país.

Rua Augusta atualmente.

--

--