Fanzines: uma velha forma de se discutir gênero

Maria Clara Vieira
Da Massa
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2 min readAug 28, 2018

Por: Maria Clara Vieira

Entre os dias 21 e 24 de agosto, a USP foi palco para o evento “Fazendo e desfazendo gênero na ECA (Escola de Comunicações e Artes)”. O acontecimento pretendia colocar em discussão o tema e trazer debates entre a comunidade “ecana”, a USP e a sociedade.

Uma das mesas do segundo dia, 22, abordou gênero e educação, e trouxe diversos profissionais para exporem seus projetos. Um deles foi apresentado pela professora de ensino médio Victória Santos, da cidade de Alfenas, Minas Gerais. A proposta de cunho independente da professora, que teve como tema “Representações do masculino e feminino durante a ditadura militar”, levou aos alunos um debate sobre a questão de gênero, e surgiu como uma forma de responder a um estudante que, em uma aula, perguntou se existia índio gay.

A inspiração para iniciar o projeto veio de um trecho do livro de Jane Austen, A abadia de Northranger, que abordava a questão de instruir as crianças sem atormentá-las, ou seja, de como é necessário tornar o aprendizado algo prazeroso a elas. Baseadas nisso, as professoras dos terceiros anos do ensino médio da Escola Estadual Dr. Emílio Silveira incentivaram seus alunos a criarem fanzines que retratassem a questão de gênero no período da ditadura militar brasileira. Para chegar ao produto final, foi necessário muito debate e conversa com os alunos sobre o assunto, para que produzissem um material que, além de respeitar os direitos humanos, retratasse a verdadeira condição das mulheres, principalmente.

Mas o que são os fanzines?

Os fanzines são publicações não profissionais e não oficiais que tiveram seu auge no Brasil durante o período da ditadura militar. São produzidos por um grupo de

pessoas seguidoras de um fenômeno cultural específico, para outras que compartilhem dos mesmos interesses (no caso do projeto dos alunos da Escola Dr. Emílio, o fenômeno foi a questão de gênero).

Para Victória, produzir os fanzines foi essencial para colocar em discussão esse tema que é tão importante e ainda pouco difundido nas escolas. Como essa foi uma ferramenta literária muito utilizada nas décadas de 60 e 70, a professora aponta que a sua produção por parte dos alunos ajudou a inseri-los no período em questão, sem deixar de lado o foco principal, que era a discussão sobre gênero. Ela acredita, ainda, que essa foi uma excelente forma de aprender fazendo, e, assim, instruir os alunos para repensarem a questão de gênero.

Todo o material independente produzido pelos alunos formaram o site fanzinestadual.wordpress.com

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