MUSEU DO IPIRANGA: O DESCASO DO ESTADO COM O PATRIMÔNIO PÚBLICO

Fernanda Cui
Da Massa
Published in
4 min readNov 13, 2018

Projeto prevê início das reformas em 2019 e reabertura do Museu fechado há quatro anos para 2022.

Por: Fernanda Cui e João Pedro Calachi

O mais antigo museu de São Paulo se tornou um dos maiores símbolos de descaso ao patrimônio público. Interditado no dia 3 de agosto de 2013 por conta de problemas em sua estrutura, o Museu deve iniciar suas reformas em 2019. O projeto que venceu o concurso promovido pela Universidade de São Paulo (USP), administradora do edifício, foi entregue em março e propõe a reabertura do museu em 2022, ano que se completam 200 anos da Independência do Brasil.

Figura 1. Edifício — Monumento e entorno dos jardins. Foto divulgação: USP.

O edifício histórico localizado no Parque da Independência, conhecido como Museu do Ipiranga, foi inaugurado em 7 de setembro de 1895 como museu de História Natural e também como marco representativo da Independência. Seu primeiro núcleo de acervo foi a coleção do Coronel Joaquim Sertório, que constituía um museu particular em São Paulo. Atualmente o Museu conta com um acerto de mais de 125.000 unidades, entre objetos, iconografia e documentação textual, do século 17 até meados do século 20.

Projetado pelo engenheiro-arquiteto italiano Tommaso Gaudenzio Bezzi e executado pelo conterrâneo Luigi Pucci, o museu se tornou um marco arquitetônico concebido para resistir durante o tempo. Mas, na primeira metade do século XX sapatas de sustentação do subsolo foram cortadas porque impediam a abertura de portas e passagens. Essa reforma, comprometeu a rigidez da fundação e em 1995, o prédio passou por uma grande reforma logo depois do seu centenário de abertura. Porém, nem todos os problemas foram resolvidos. O forro do auditório e da biblioteca, construído com folhas de palmeira juçara, não resistiu a anos de infiltração, em agosto de 2013, o museu teve de ser fechado e desde então apenas serviços emergenciais foram feitos, como escoramento do forro e a realização de estudos de diagnóstico para a verificação completa dos problemas.

Figura 2. Edifício-Monumento visto da do entrada Parque da Independência. Foto divulgação: USP.

O antigo projeto proposto pelo arquiteto Nestor Goulart dos Reis Filho, ex diretor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, previa além da restauração e recuperação estrutural do museu, a melhoria na acessibilidade. A entrada do público passaria a ocorrer pelo subsolo, que seria expandido, ganhando um auditório com 380 lugares e salas de aula. Seria também construído um novo edifício para laboratórios em um terreno ao lado do parque da Independência.

No entanto, a USP engavetou o projeto, e durante o Sete de Setembro do ano passado, lançou um concurso público para escolher um projeto de reforma. A empresa que venceu o concurso em março deste ano, tem um ano para apresentar o projeto de restauro e só depois que as obras terão início, ou seja, em 2019. A modernização do Museu do Ipiranga deve custar entre R$ 80 milhões e R$ 100 milhões, que serão bancados por empresas que queiram investir no projeto.

A diretora do museu, Solange Ferraz de Lima, afirma que diversas razões explicam a demora para o início do restauro do prédio. Segundo ela, a restauração e a modernização de um edifício que abriga um museu de história, depende de uma complexa logística. A primeira providência foi buscar espaços que pudessem abrigar os acervos e as equipes para garantir a continuidade nas atividades de pesquisa e ensino. Para ela, a opção de um concurso para definir o projeto a ser apresentado é uma oportunidade para o avanço do debate, da pesquisa e da prática da arquitetura e da engenharia, permitindo a emergência de novos conceitos e soluções.

Para suprir a ausência do museu que está com as portas fechadas há quase cinco anos, um projeto-piloto colocou em parceria com a Wikimedia, colocou no ar no ano passado, as primeiras fotos de seu acervo digital. A abertura do conteúdo para uso e apreciação livre permite que as reparações históricas sejam feitas pela própria população. Para os visitantes do Parque da Independência, onde o edifício fica localizado, o Museu faz muita falta por sua capacidade de atingir culturalmente a população, como afirma Hélio Carvalho, morador do bairro do Ipiranga: “O museu faz falta para muita gente. Por exemplo, meus filhos, um de 6 e outro de 7 anos, ainda não tiveram a oportunidade de conhece-lo, e eu, como pai, sei que a visita agregaria muito culturalmente para eles”.

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