Wescley Matos em sua passagem pelo Nova Iguaçu do Rio de Janeiro — Patrick Bruno / NIFC

A IMPORTÂNCIA DO CAMPEONATO ESTADUAL PARA OS CLUBES DE MENOR INVESTIMENTO

Patrick Bruno
Dados e Jornalismo
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5 min readApr 12, 2021

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Sem o apoio das federações de cada região, clubes buscam recursos para se manterem vivos

Por: Patrick Bruno e Breno Martins

Mesmo sendo de suma importância para os clubes de menor investimento, os Campeonatos Estaduais, que acontecem nos 27 estados do país com clubes das respectivas regiões, mais uma vez são tema de discussão. Isso porque com um calendário ainda mais apertado, devido à temporada atípica de 2020, que se encerrou apenas em 2021, por conta da paralização causada pela pandemia do Novo Coronavírus, o intervalo entre uma competição e outra ficou ainda mais curto. Com isso, volta-se ao questionamento: “há necessidade deles acontecerem ou não?”

Essas competições que já foram tão desejadas nos anos 80, 90 e início dos anos 2000, cada vez mais perdem importância, por uma narrativa criada pelos detentores dos direitos televisivos e por clubes da elite que possuem um calendário apertado.

Mas vale lembra que essas competições tem um papel fundamental para a existência de diversas equipes. É com a cota de televisão, patrocínios para jogar essa competição e venda de jogadores que se destacam na mesma, que muitos clubes conseguem sobreviver até hoje. E da mesma forma alguns jogadores enxergam essa competição como uma porta de entrada para algum clube grande.

Wescley Matos, jogador do URT, clube da primeira divisão do Campeonato Mineiro, vive isso na prática. O atleta relatou um pouco da dificuldade que é a realidade sua e dos seus companheiros, e como é a experiência de jogar os Campeonatos Estaduais.

“Para a minha carreira é o campeonato que dá a chance de conquistar coisas maiores, de forma individual, como um atleta. Porque é a onde o jogador de menor expressão tem uma oportunidade de aparecer. Tem muita gente que no segundo semestre fica desempregado por conta do calendário, então o jogador aguarda o começo dos estaduais, pois as portas de emprego se abrem de uma maneira gigantesca.”

Para os atletas profissionais, além do fator financeiro, tem também o lado físico. Quando um jogador desses clubes está sem jogar por falta de competição precisa fazer o que pode para manter a saúde e o corpo em dia até a próxima temporada.

“Em 2019 eu passei por essa situação, eu joguei o Campeonato Catarinense e depois acabou que não aconteceu nada e fiquei em casa. Mas, graças a Deus, hoje nós temos como pagar um personal e eu tenho essa possibilidade. Mas nem todo mundo tem essa condição. E o cara que não consegue ter esse treinamento ele vai correr na rua, vai fazer alguma coisa, mas, mesmo sempre tentando fazer tudo isso, a gente sai atrás. O atleta, ele tem que está jogando, tem que está com a bola.” disse o Wescley Matos.

Se focarmos apenas nos times do Rio de Janeiro para esse Brasileirão de 2021 das séries A,B e C, apenas cinco times cariocas estão classificados para essas competições, onde entre eles estão os quatro grandes clubes, Flamengo (Série A), Fluminense (Série A), Vasco (Série B) e Botafogo (Série B); e um time de menor expressão que é o Volta Redonda (Série C).

Todos os clubes que não conseguiram se classificar para esses campeonatos ficam o resto do ano parados, tendo que se sustentar através de rendas paralelas e dispensando todos os seus jogadores. “O fim dos Campeonatos Estaduais também seria o fim de muitos times, pois é o campeonato que nos dá acesso ao Brasileirão, onde a CBF dá mais apoio financeiro aos clubes”, diz Paulo César de Oliveira Sabino, presidente do Duque de Caxias.

“A FERJ ( Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro) não dá nenhum suporte. O campeonato acaba e a federação se desliga dos times menores que não se classificaram para Copa do Brasil ou Série C. Só clubes que possuem sedes próprias, como o Duque de Caxias, conseguem sobreviver de aluguel e campeonatos regionais, os demais clubes dispensam jogadores e comissão técnica e recontratam no ano seguinte”, diz Sabino.

Além da premiação pela federação por participar do campeonato e patrocínios, uma grande fonte de renda por jogar o estadual é a cota de TV, pelo direito de transmissão dos jogos. Porém, essa divisão muita das vezes é também tema de discussão, pois os grandes clubes tentam sempre ter direito a mais. E nesta temporada, por preocupação com seus torcedores, os clubes de menores investimentos do Rio de Janeiro se uniram para criar um pay-per-view, pago por eles, para que seus torcedores não ficassem sem assistir os seus jogos, pois com a pandemia os estádios com públicos estão proibidos.

Para algumas pessoas, a alternativa para essa competição voltar a se tornar desejada por todos seria uma integração ao calendário nacional de futebol. Ou seja, uma reformulação, e não o fim delas. Para o jornalista e pesquisador Irlan Simões, o ideal seria esse formato de competição se tornar algo nacional criando novos níveis. Espalhando todos os times que necessitam dessa renda em todo o território brasileiro em outras categorias, por exemplo, uma criação de novas séries como quinta e sexta divisão, que conseguiriam incluir esses times em um calendário mais longo.

Jornalista Irlan Simões em uma palestra — Divulgação internet

“Colocar os Campeonatos Estaduais na pirâmide do futebol Brasileiro, e isso pra mim, para começo de conversa, é colocar uma quinta divisão ou uma sexta divisão. Porque do jeito que esta não é bom para ninguém. Para mim, o campeonato é o grande cerne do problema financeiro da maioria dos clubes brasileiros. Eles estão inseridos, são obrigatoriamente inseridos, em sistema que só a eles prejudicam.” Disse Irlan Simões.

A Inglaterra, que é o maior exemplo de inclusão aos clubes de menores investimentos, possui um campeonato nacional com seis divisões profissionais. Mesmo sendo um país muito menor os ingleses possuem um dos modelos de futebol mais inclusivos.

Já o Brasil que no ano de 2019, segundo uma pesquisa feita pela empresa Pluri Consultoria, totalizava um número de 650 clubes profissionais, e tendo apenas quatro divisões nacionais.

Portanto, com uma reformulação dessa competição poderemos mais vezes ver o que aconteceu, por exemplo, com a Chapecoense que se tornou um grande clube brasileiro após subir da quarta divisão até a elite do futebol em apenas cinco anos. Pois os clubes terão mais competitividade e mesmo não tendo um time no nível dos clubes da elite, por jogarem mais terão maiores chances.

Time do Bangu em 87 — Reprodução internet

Além disso, conseguiremos ver novamente times com prestígios no passado podendo novamente cativar suas torcidas e paixões, que muita das vezes fica presa somente no regional. Como os clubes do Bangu, Campo Grande e América no Rio de Janeiro e muitos outros espalhados por todo o Brasil.

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