A importância dos estádios no faturamento dos clubes brasileiros
Com campanhas e ações promocionais, equipes brasileiras têm aumentado a renda com bilheteria nos últimos anos, mas fatia ainda representa menos de 15% do faturamento anual na média das grandes equipes do país
Estudante de jornalismo e apaixonada pelo Flamengo. Natural de Volta Redonda, Thaynara Barbosa, 22, não perde um jogo do time do coração. O amor pela equipe carioca começou desde o berço, mas o apoio mais de perto se iniciou mesmo em 2010, quando o craque Ronaldinho Gaúcho vestiu as cores do time da Gávea. A simpatia pelo ídolo e o amor pelo clube do coração foram alguns dos incentivos para a torcedora marcar presença nos estádios em quase todas as partidas do rubro-negro por toda a temporada.
“Viajava para o Rio de Janeiro sempre, pois morava em Angra dos Reis na época e dali em diante que eu realmente me considero torcedora, então o que me despertou mesmo foi a chegada do Ronaldinho Gaúcho. O Estádio é onde o torcedor pode dizer que é seu, tem aquela identificação com o clube, cria-se um espaço de intimidade. E não é à toa que os clubes que possuem estádio viram uma referência. E fora que um clube obtendo um estádio, os gastos são menores do que alugar um estádio e pode fazer um ingresso mais em conta dando espaço pra todo mundo assistir futebol”, diz Thaynara.
Com os organizadores do Maracanã cobrando um aluguel caríssimo por partida e com a CBF proibindo jogos de clubes mandantes fora de seu estado de origem, a solução do Flamengo foi reformar e fazer da Arena da Ilha a sua casa. Apesar de uma empolgação inicial da torcida da nova casa, a renda e a média de público do rubro-negro no Brasileirão despencaram em comparação aos últimos anos, onde esteve na liderança nas estatísticas. Segundo dados do site SrGoool, o rubro-negro é apenas o 9º na média de público (14.081) de 2017. O Corinthians lidera com 38.968 torcedores. Além da diminuição da taxa de ocupação, o torcedor flamenguista, que não é associado ao clube, tem sofrido com ingressos mais caros para ver jogos do seu time de coração: R$56,15 é a média do preço dos bilhetes das partidas do Flamengo, ficando atrás apenas do Palmeiras, com R$60,36.
O Brasil é o país do futebol, mas o sucesso em campo muitas vezes não é revertido em dinheiro para os clubes, que estão percebendo a necessidade de aprimorar os métodos de arrecadação, seja buscando cotas de TV mais justas, patrocínios na camisa, engajamento e campanhas no universo digital e também com a renda de bilheteria, por exemplo. Essa última, por sinal, não chega nem a 15% do faturamento anual na média dos principais times do país, segundo um levanto realizado pela BDO.
O Corinthians, que inaugurou a sua arena em 2014, sofre com um contrato de financiamento público (por volta de R$400 milhões) que prevê que todo o dinheiro com bilheteria em seu estádio seja para pagar as dívidas de sua construção e também a manutenção do local, que gira em torno de R$2,5 milhões mensais. Segundo reportagem do UOL em agosto de 2017, a renda de todos os jogos do clube paulista na Arena Corinthians desde a inauguração geraram cerca de R$200 milhões de reais, mas que não chegaram aos cofres do clube. Pode-se dizer que esse também é um dos motivos que irão fazer o Corinthians chegar ao sétimo ano seguido em deficit, segundo previsão orçamentária. O valor do prejuízo em 2017 deve ser de R$33,1 milhões.
Apesar disso, o Timão é um dos clubes que mais geram renda em seu estádio e também possui uma das melhores taxas de ocupação em partidas em casa no futebol brasileiro. A boa campanha é um dos fatores determinantes para o grande apoio dos torcedores, segundo Bernardo Pontes, gerente da Arena Corinthians entre os anos de 2016 e abril de 2017 e com passagens por Vasco e Fluminense.
Sem dúvida nenhuma. Principalmente aqui no Brasil, que ainda não existe a questão do season ticket, que você compra os ingressos no início do ano para todas as partidas da temporada. O termômetro do time, contratação de grandes jogadores e busca por títulos é fundamental para aumentar a média de público e também o número de sócios-torcedores”, diz o profissional.
Ainda segundo Pontes, o Corinthians, em parceria com a Arena, criaram campanhas e ações promocionais com o intuito de aproximar os torcedores do clube.
“O Corinthians, no contrato de comercialização do estádio, abriu mão da receita de bilheteria para que ela seja responsável por amortizar a dívida da elaboração do projeto. O que tentamos fazer é criar experiências e iniciativas tanto para os torcedores, quanto para os sócios. Criamos o Esquenta Fiel, ações no camarote e de engajamento dos corintianos com os jogadores. A nossa meta sempre foi mostrar o potencial que um estádio pode oferecer ao clube e em retorno também aos patrocinadores”, destaca.
Além da Arena Corinthians, outro exemplo de sucesso no futebol brasileiro é o Allianz Parque. Com o seu estádio reformado, o Palmeiras foi o clube que mais lucrou com renda de bilheteria nos últimos cinco anos: R$ 80 milhões. Só em 2016 foram R$31 milhões de renda líquida, o dobro conseguido pelo Corinthians, segundo colocado. Dados como esse demonstram que um estádio próprio a longo prazo pode ser considerado um diferencial no balanço financeiro dos clubes no final do ano.