A importância dos estádios no faturamento dos clubes brasileiros

Com campanhas e ações promocionais, equipes brasileiras têm aumentado a renda com bilheteria nos últimos anos, mas fatia ainda representa menos de 15% do faturamento anual na média das grandes equipes do país

Matheus Alves
Dados e Jornalismo
5 min readOct 30, 2017

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Estudante de jornalismo e apaixonada pelo Flamengo. Natural de Volta Redonda, Thaynara Barbosa, 22, não perde um jogo do time do coração. O amor pela equipe carioca começou desde o berço, mas o apoio mais de perto se iniciou mesmo em 2010, quando o craque Ronaldinho Gaúcho vestiu as cores do time da Gávea. A simpatia pelo ídolo e o amor pelo clube do coração foram alguns dos incentivos para a torcedora marcar presença nos estádios em quase todas as partidas do rubro-negro por toda a temporada.

“Viajava para o Rio de Janeiro sempre, pois morava em Angra dos Reis na época e dali em diante que eu realmente me considero torcedora, então o que me despertou mesmo foi a chegada do Ronaldinho Gaúcho. O Estádio é onde o torcedor pode dizer que é seu, tem aquela identificação com o clube, cria-se um espaço de intimidade. E não é à toa que os clubes que possuem estádio viram uma referência. E fora que um clube obtendo um estádio, os gastos são menores do que alugar um estádio e pode fazer um ingresso mais em conta dando espaço pra todo mundo assistir futebol”, diz Thaynara.

Thaynara na torcida pelo Flamengo no Maracanã

Com os organizadores do Maracanã cobrando um aluguel caríssimo por partida e com a CBF proibindo jogos de clubes mandantes fora de seu estado de origem, a solução do Flamengo foi reformar e fazer da Arena da Ilha a sua casa. Apesar de uma empolgação inicial da torcida da nova casa, a renda e a média de público do rubro-negro no Brasileirão despencaram em comparação aos últimos anos, onde esteve na liderança nas estatísticas. Segundo dados do site SrGoool, o rubro-negro é apenas o 9º na média de público (14.081) de 2017. O Corinthians lidera com 38.968 torcedores. Além da diminuição da taxa de ocupação, o torcedor flamenguista, que não é associado ao clube, tem sofrido com ingressos mais caros para ver jogos do seu time de coração: R$56,15 é a média do preço dos bilhetes das partidas do Flamengo, ficando atrás apenas do Palmeiras, com R$60,36.

Pesquisa divulgada pelo GloboEsporte.com em maio mostra que clubes ainda possuem grande dependência pelas cotas de TV no faturamento anual

O Brasil é o país do futebol, mas o sucesso em campo muitas vezes não é revertido em dinheiro para os clubes, que estão percebendo a necessidade de aprimorar os métodos de arrecadação, seja buscando cotas de TV mais justas, patrocínios na camisa, engajamento e campanhas no universo digital e também com a renda de bilheteria, por exemplo. Essa última, por sinal, não chega nem a 15% do faturamento anual na média dos principais times do país, segundo um levanto realizado pela BDO.

O Corinthians, que inaugurou a sua arena em 2014, sofre com um contrato de financiamento público (por volta de R$400 milhões) que prevê que todo o dinheiro com bilheteria em seu estádio seja para pagar as dívidas de sua construção e também a manutenção do local, que gira em torno de R$2,5 milhões mensais. Segundo reportagem do UOL em agosto de 2017, a renda de todos os jogos do clube paulista na Arena Corinthians desde a inauguração geraram cerca de R$200 milhões de reais, mas que não chegaram aos cofres do clube. Pode-se dizer que esse também é um dos motivos que irão fazer o Corinthians chegar ao sétimo ano seguido em deficit, segundo previsão orçamentária. O valor do prejuízo em 2017 deve ser de R$33,1 milhões.

Apesar disso, o Timão é um dos clubes que mais geram renda em seu estádio e também possui uma das melhores taxas de ocupação em partidas em casa no futebol brasileiro. A boa campanha é um dos fatores determinantes para o grande apoio dos torcedores, segundo Bernardo Pontes, gerente da Arena Corinthians entre os anos de 2016 e abril de 2017 e com passagens por Vasco e Fluminense.

Sem dúvida nenhuma. Principalmente aqui no Brasil, que ainda não existe a questão do season ticket, que você compra os ingressos no início do ano para todas as partidas da temporada. O termômetro do time, contratação de grandes jogadores e busca por títulos é fundamental para aumentar a média de público e também o número de sócios-torcedores”, diz o profissional.

Bernardo Pontes em sua passagem pela Arena Corinthians

Ainda segundo Pontes, o Corinthians, em parceria com a Arena, criaram campanhas e ações promocionais com o intuito de aproximar os torcedores do clube.

“O Corinthians, no contrato de comercialização do estádio, abriu mão da receita de bilheteria para que ela seja responsável por amortizar a dívida da elaboração do projeto. O que tentamos fazer é criar experiências e iniciativas tanto para os torcedores, quanto para os sócios. Criamos o Esquenta Fiel, ações no camarote e de engajamento dos corintianos com os jogadores. A nossa meta sempre foi mostrar o potencial que um estádio pode oferecer ao clube e em retorno também aos patrocinadores”, destaca.

Além da Arena Corinthians, outro exemplo de sucesso no futebol brasileiro é o Allianz Parque. Com o seu estádio reformado, o Palmeiras foi o clube que mais lucrou com renda de bilheteria nos últimos cinco anos: R$ 80 milhões. Só em 2016 foram R$31 milhões de renda líquida, o dobro conseguido pelo Corinthians, segundo colocado. Dados como esse demonstram que um estádio próprio a longo prazo pode ser considerado um diferencial no balanço financeiro dos clubes no final do ano.

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Matheus Alves
Dados e Jornalismo

Estudante de Jornalismo. Trabalhei por três anos na assessoria de imprensa do @vascodagama e agora estou na @oficial_best_!