Cinema para todos

Ricardo Fontes
Dados e Jornalismo
Published in
4 min readApr 17, 2019

Demorou, mas o cinema percebeu a importância da representatividade

Por: Luis Mendes e Ricardo Fontes

Mais uma década vai se aproximando do seu final e, com números fechados até 2018, já podemos desenvolver um balanço do panorama do cinema na década. Na segunda metade dos anos 2010, vimos um movimento diferente do tradicional feito pelo cinema americano e mais representatividade nas telonas, bastante relacionada às lutas sociais que marcam a nova geração. Filmes com protagonistas femininas e homossexuais eram massacrante minoria e tem tido cada vez mais espaço. No entanto, se o cinema internacional parece caminhar para um novo momento, o cinema brasileiro segue estagnado: Apenas 3 dos 20 filmes mais assistidos no Brasil em 2018 foram produções nacionais.

Matheus MAD é roteirista e produtor e escreveu recentemente o seu primeiro filme, atualmente em pré-produção, chamado “Operação Batom na Cueca”, cuja previsão de lançamento é no início de 2020. Perguntado sobre o momento do cinema nacional, Matheus disse acreditar que a crise que o cinema vive possui dois motivos preponderantes:

“O cinema brasileiro é desvalorizado pelo público e pelos nossos governantes. As pessoas generalizam os filmes nacionais e acabam deixando de assistir os bons e os ruins. Já o governo não está investindo e com esses cortes de gastos, está desvalorizando toda uma indústria. Eu acho que o cinema é uma arte que deve ser fomentada, não só pelo entretenimento, mas também pelo poder transformador nas pessoas. A arte transforma as pessoas.”

Matheus MAD é roteirista, comediante e produtor (foto: Arquivo)

Com ingresso médio de R$15, o cinema no Brasil tem se tornado um lazer cada vez mais caro

Ir ao cinema é um hábito de muitas pessoas ao redor do mundo. No Brasil, em algumas cidades é uma atividade de lazer relativamente cara. Com preço médio do ingresso sendo de 15 reais, não são todas as pessoas que tem a condição financeira de ir ao cinema com muita assiduidade. Desta forma, os consumidores são obrigados a escolher dias promocionais, caso queiram ver mais de um dos filmes em cartaz. Isso faz com que muitos clientes escolham com cuidado os filmes que eles vão ver, estabelecendo prioridades. Portanto, muitos vão escolher filmes com atores famosos estrangeiros ou filmes que são continuações de franquias de sucesso. No site Observatório Brasileiro do Cinema e do Audiovisual, podemos conferir o balanço dos 20 filmes mais assistidos lançados em 2018 até o dia 30/11.

20 filmes mais assistidos no Brasil em 2018 (até novembro). Fonte: site Observatório Brasileiro do Cinema e Audiovisual

Apenas 3 filmes brasileiros estão no top 20 filmes mais vistos nos cinemas em 2018. O filme “Nada a Perder” que conta a história do bispo Edir Macedo foi o segundo filme mais visto nos cinemas em 2018. Os outros filmes nacionais que estão na lista são: “Os Farofeiros” na 16° posição e “Fala Sério, Mãe!” em 18° no ranking. Isso ilustra bem como os filmes produzidos por aqui não têm a mesma força dos filmes estrangeiros.

Se contarmos apenas os filmes de super-heróis na lista, eles estão em maior número que os filmes nacionais como um todo nesta lista. Curiosamente, enquanto filmes de comédia são praticamente os únicos filmes nacionais que conseguem certo sucesso de bilheteria no Brasil, vemos diretores mexicanos dominando o Oscar: Cinco dos últimos seis vencedores do Oscar de Melhor Diretor foram cineastas mexicanos e isso não é uma simples coincidência. O país é conhecido por ter uma das escolas de roteiro mais renomadas do mundo. Atualmente, um dos grandes exemplos de política pública que incentiva a produção audiovisual na América do Sul é a Colômbia, que recentemente triplicou os recursos públicos para a área no país.

Nova fase: Pantera Negra se torna o primeiro filme com protagonista negro a chegar ao bilhão de dólares

Um detalhe importante nesse gráfico é o sucesso do filme “Pantera Negra”, um filme com o protagonista negro e praticamente todo o elenco também. O filme se passa boa parte do tempo em Wakanda, um país fictício localizado no continente africano. Isso é uma quebra nos padrões dos filmes de Hollywood com protagonistas brancos, europeus ou norte-americanos. Pantera Negra terminou sua passagem pelos cinemas do mundo com 1.4 bilhão de dólares em bilheteria, tornando-se assim a 9ª maior bilheteria da história do cinema e é o primeiro filme protagonizado por um negro a passar da barreira do bilhão.

Outro filme da Marvel que vem batendo recordes é “Capitã Marvel”, lançado em março de 2019. Protagonizado por uma mulher, ele também quebra um padrão hollywoodiano que fica claro quando o estúdio, que já passou da marca de 20 filmes lançados em 11 anos de atividade, demorou tanto tempo para apostar em um filme cuja personagem principal é uma mulher. O filme ainda não deixou os cinemas mas já se tornou a 1ª produção de 2019 a passar de 1 bilhão de dólares em bilheteria, sendo o 7°filme da Marvel Studios a chegar a essa marca. Sua importância histórica é comparável à de Pantera Negra, visto que é o 1º filme com protagonista feminina que atinge o bilhão, marca sonhada por todos os estúdios de Hollywood.

Esse movimento deixa claro para o mundo que é possível fazer sucesso sem estar preso a padrões estabelecidos e que não aceitavam a diversidade. Para Matheus MAD, é apenas o começo de uma grande mudança vindo por aí:

“É uma tendência mundial. Com o mundo ficando cada vez mais consciente e abandonando preconceitos, o cinema precisa acompanhar. Pantera Negra e Capitã Marvel refletem muita coisa na nossa sociedade, pois mostra pessoas que são alvos de preconceitos prosperando e isso faz o público se identificar e se sentir representado. Muda também a cabeça das pessoas que tem preconceitos sobre essas classes”.

--

--