Futebol antes da Covid

As médias de público nos Campeonatos Brasileiros de 2015 a 2019

Nathan Carvalho
Dados e Jornalismo
4 min readApr 12, 2021

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Desde março de 2020, estádios como o Maracanã, templo do futebol, estão fechados para torcedores. Enquanto na Europa e em outros países o público vai voltando, no Brasil a situação é bem oposta, tendo em vista o momento delicado que se vive por conta da Covid-19. E isso afetou diretamente os clubes economicamente, muito por conta da queda de arrecadação com a presença da torcida.

A saudade de ver o time do coração de perto, de torcer, celebrar, comemorar, entre todos os outros sentimentos envolvidos tocam a cada dia mais os torcedores. E Felipe Gavinho é um desses exemplos de quem sente isso na pele. Estudante de Jornalismo da PUC-RJ e apaixonado pelo Flamengo, o jovem de 25 anos perdeu apenas um jogo do clube no Maracanã em 2019, último ano em que o futebol ocorreu de forma normal no país.

Felipe esteve presente na final da Libertadores 2019, no Peru (Foto: Reprodução / Arquivo pessoal)

Entre todos os jogos que torceu in loco para o Rubro-Negro carioca, o principal deles foi a decisão da Libertadores, no Peru, onde o Flamengo sagrou-se campeão ao bater o River Plate por 2 a 1 nos acréscimos em um duelo inesquecível. Esse foi o último título que Felipe presenciou. Não só ele, como todos flamenguistas.

Diante desse cenário de hiato da abertura dos estádios brasileiros para os torcedores, um estudo geral das médias de público nos Campeonatos Brasileiros de 2015 a 2019, com base no levantamento da equipe de Dados Esportivos da Globo, mostrou o reflexo dentro do futebol.

Vale destacar que a coleta de números se dá através da consulta do borderô de todos os jogos do campeonato, o que mostra a veracidade dos dados divulgados.

Veja a média de público nos estádios no Brasileirão 2019

Foto: Infoesporte / GE

Conforme demonstra o levantamento, os últimos dois anos foram de sucesso para a competição. Em 2018, a média chegou perto de quebrar um recorde que já durava 31 anos. E não parou por aí. No ano seguinte, o último com público até aqui, o recorde caiu. Em 2019, a média de torcedores por jogo foi de 21.237 pagantes, enquanto em 1987 foi de 20.877.

Conversamos com o jornalista Roberto Maleson, formado na UFRJ, e que trabalha na equipe de Dados Esportivos e no Espião Estatístico do GE, sobre o levantamento e alguns pontos de destaque.

Perguntado sobre o motivo do sucesso do Brasileirão de 2019, o jornalista apontou o desempenho do Flamengo de Jorge Jesus, campeão da competição naquele ano, como um grande for, tendo em vista que a torcida rubro-negra deu um show nos estádios.

“Um dos principais motivos foi o Flamengo, sem dúvidas. A média do time como mandante no Brasileirão foi maior do que 55 mil pessoas, com 84% de ocupação dos estádios. Isso é muito relevante. Não a toa o clube foi quase imbatível. Mas vale destacar também o Fortaleza, que tinha acabado de voltar para a Série A, e o Corinthians, que sempre fica entre os três com maior média de público. Foi um campeonato de sucesso, sem dúvida”, disse.

Roberto Maleson, jornalista da TV Globo

Já o ano de 2016 foi o que teve a menor média de público entre os cinco que foram objeto de estudo: 15.200 pagantes. Questionado sobre o motivo do “fracasso”, Roberto apontou o ticket médio e também a baixa porcentagem de presença da torcida dos clubes cariocas.

“Em 2016 a média de preço do Brasileirão foi de R$ 35 reais, o que querendo ou não vai de desencontro ao cidadão brasileiro. Apesar de Corinthians, Palmeiras, Flamengo e São Paulo, os quatro que tinham ingressos mais caros, terem sido os que tiveram mais público, no geral isso não se sustenta. Além disso, o Flamengo teve apenas pouco mais de 18 mil pagantes de média, enquanto os outros cariocas nem entre os primeiros 20 clubes com maior média ficaram, o que influencia diretamente também”, afirmou.

O principal destaque com relação à presença de público é novamente o Flamengo. Em 2017, teve apenas 14.484 pagantes de média. No ano seguinte, subiu para 47.139, um aumento assustador e que justifica o sucesso futebolístico e econômico do clube.

Infográfico da média de público do Brasileirão entre 2015 e 2019. Por Caio Carvalho e Nathan Carvalho

Por fim, o jornalista abordou um fato que marcou o Brasileirão de 2019: a queda do Cruzeiro. Mesmo com a crise interna vivida pelo clube e os resultados insatisfatórios dentro de campo, a torcida da Raposa não deixou a equipe na mão e teve a oitava maior média de público, com 22.438 pagantes.

“Pelo jeito que o Cruzeiro iniciou o ano, com o time cheio de estrelas, na Libertadores, ninguém imaginava que isso poderia acontecer. Ao meu ver, a presença da torcida cruzeirense no Mineirão é o retrato da paixão aqui no Brasil, onde o torcedor vai até o fim, não abandona. Apesar do quebra-quebra no estádio na última rodada, a torcida acreditou. E além disso, confiou no ditado de que ‘time grande não cai’, mas não deu”, destacou.

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Nathan Carvalho
Dados e Jornalismo
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20 anos, estudante de Jornalismo e apaixonado por futebol