Leitura no Brasil: conheça o gosto e as motivações do leitor

A saga de literatura fantástica “Harry Potter” está na lista dos livros mais marcantes para os leitores brasileiros

Rafaela Alves
Dados e Jornalismo

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Por: Rafaela Alves

O Brasil sofreu uma diminuição de 4% dos seus leitores, o que equivale à 4,6 milhões, segundo a 5ªedição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil. O tema ou assunto continua sendo o fator que mais influencia na hora da compra, e o gosto ainda é a principal motivação para ler um livro.

Essa pesquisa é realizada pelo Instituto Pró-Livro e sua 5ªedição levou a participação do Itaú Cultural, o que ampliou as amostras da pesquisa. A período da coleta de dados foi entre outubro de 2019 e janeiro de 2020.

O professor de Comunicação Social e doutor em Letras, Ricardo Benevides, acredita que a diminuição dos leitores no Brasil se dá por conta de vários motivos: “O primeiro deles tem a ver com o reflexo do governo atual e o recrudescimento de todas as políticas voltadas para a formação de leitores no Brasil nos últimos anos”.

“É lógico que o próprio governo, e a própria eleição do Jair Bolsonaro, tem a ver com um olhar, e com uma certa abordagem dos temas da política e da vida que refletem uma parte da sociedade brasileira que efetivamente não lê”, conta o professor.

Os leitores entrevistados responderam qual seu último livro de literatura lido, e a Bíblia aparece em primeiro lugar, como na pesquisa anterior de Retratos da Leitura no Brasil. Em seguida, aparecem O Pequeno Príncipe, Diário de um Banana, Harry Potter, A Cabana, A Culpa é das Estrelas e Dom Casmurro.

A Retratos da Leitura no Brasil buscou conhecer o que os entrevistados fazem em seu tempo livre, e a atividade mais comentada foi assistir televisão, com 67%. Em seguida, está o uso da internet (66%), o uso do Whatsapp (62%), escutar música ou rádio (60%) e assistir vídeos ou filmes em casa (51%).

A leitura de livros em papel ou livros digitais (24%) aparece abaixo de outras atividades. O uso das redes sociais como Facebook, Instagram e Twitter cresceram 9% em relação à pesquisa anterior, e o uso da internet cresceu em 19%. Entre os leitores entrevistados, 82% gostariam de ter lido mais.

Analfabetismo Funcional

No Brasil existem 29% de analfabetos funcionais, de acordo pesquisa do INAF de 2018. Esse grupo de pessoas possui dificuldade em ler e interpretar textos, apesar de serem teoricamente alfabetizados. Em relação à leitura, 51% dos estudantes brasileiros estão abaixo do nível 2, considerado básico para a leitura, segundo dados do PISA de 2018.

Para a pesquisa, são considerados leitores os que leram, inteiro ou em partes, um livro nos últimos 3 meses. Os não leitores são os que não leram um livro dentro dos 3 meses anteriores à pesquisa. Os brasileiros leem em média 4,95 livros por ano, e os considerados leitores leram em média 5,04 livros nos últimos 3 meses.

O professor Ricardo Benevides acredita que a formação de leitores “depende de programas de incentivo, da criação de novas bibliotecas, da compra de livros para abastecer as bibliotecas públicas dos colégios e as bibliotecas públicas que não estão ligadas à rede escolar”.

“Para se ter uma cultura do livro é preciso ter um investimento maciço em educação ampla, inclusiva e de qualidade, outro tipo de investimento que o Brasil nunca fez. Isso já é um impedimento histórico” . — Ricardo Benevides

Literatura fantástica e a formação de leitores

Os livros do gênero Literatura Fantástica, como a saga Harry Potter, Senhor dos Anéis e as Crônicas de Nárnia estão entre os livros mais vendidos da história.

O Senhor dos Anéis vendeu em média 150 e 170 milhões de cópias, o conto O Leão, A Feiticeira e o Guarda Roupa, de As Crônicas de Nárnia, vendeu entre 75 e 90 milhões de cópias. O livro Harry Potter e a Pedra Filosofal vendeu de 110 à 130 milhões de cópias.

A saga Harry Potter aparece em 6º lugar na lista de livros mais marcantes da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, e Crepúsculo aparece em 9º.

Benevides, que também é escritor de livros para crianças e jovens, respondeu se livros de literatura fantástica podem fazer os jovens entrarem no mundo da leitura no geral.

“Eu acredito que toda leitura possa, desde que feita com qualidade, apresentada no momento certo. É muito comum pensar que outros tipos de narrativas não despertam tanta curiosidade. É um tanto falso isso. Há leitores que são fisgados com outro tipo de livro. A gente tem que olhar cada leitor como alguém que está no caminho.”

‘Essas pessoas podem continuar no ritmo de uma formação, ou efetivamente abandonar a leitura. A gente acrescenta mais um elemento à essa história, que é o papel do mediador, do professor, do pai, da mãe, do tio e tia, do avô e da avó.”, comentou.

O estudante de publicidade Vinicius Barros, de 23 anos, começou a gostar de ler livros a partir de sua leitura dos livros de Harry Potter. Ele comenta sua experiência com a leitura:” Meus primeiros livros concretos foram os do Harry Potter, o que acabou me incentivando a buscar histórias parecidas quando acabava de ler as dele.

“ Acho que a grande sensação que define a leitura é o entretenimento e a familiaridade, porque eu sempre vi os filmes e gostei, então mergulhar naquele mundo de uma maneira mais ‘profunda’ era sempre muito divertido e me deixava muito preso.” — Vinicius Barros

O estudante adquiriu o hábito de leitura com 13 anos. Ele também comenta sobre sua vida de leitor após ter lido Harry Potter: “Depois, fui buscar os livros que originaram outros filmes que eu gostava: Nárnia e A bússola do ouro. Continuei me mantendo nesse gênero, até que comecei a me interessar por crepúsculo, que me fez ler mais romances sobrenaturais. Hoje eu tento ler de tudo, da literatura brasileira clássica e atual até os latino-americanos”.

Ao ser perguntado se a literatura fantástica é uma estratégia para trazer os jovens para o mundo da leitura, ele afirma “ Não acho que seja uma estratégia específica por parte nem dos autores nem das editoras, só é um gênero que acaba atraindo muito pela questão da fantasia e da aventura, que são gêneros muito familiares”.

Harry Potter cresce na quarentena

Box da saga Harry Potter publicado em 2016 pela editora Rocco
O box foi publicado em 2016 pela editora Rocco | foto: saraiva

O box de livros de Harry Potter está em 3º lugar entre os livros mais vendidos nas primeiras semana de setembro, na categorial geral da Publish News, e além disso, esse box está há mais de 3 meses entre os mais vendidos.

A estudante de jornalismo Amanda Reis, 19 anos, assistiu os filmes e começou a ler os livros de Harry Potter pela primeira vez em 2020, e comentou a sua experiência:

“Eu nunca tive paciência pra ver os filmes, mas depois que eu parei pra assistir, me apaixonei. Então comecei a procurar mais sobre, e foi aí que eu li os livros.”

“Eu senti como se eu tivesse sido ‘aparatada’ pra outro universo, ainda mais na situação caótica que estamos vivendo, ler o livro me distraiu.. Ler algo que me leva mentalmente para um lugar que não existe foi terapêutico.” — Amanda Reis

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