Duelo Nacional de Mcs em BH (FDR — Famíia de Rua)

O crescimento do rap no cenário brasileiro

Érica Azevedo
3 min readNov 29, 2020

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O gênero está ganhando cada vez mais espaço nas playlists brasileiras e mudando vidas de jovens do país

Kauay, hoje com 19 anos e artista independente, se viu dentro do cenário musical aos 12, quando começou a escrever letras do ritmo que domina as periferias da região Sudeste: o funk. Mesmo totalmente inserido e acostumado com a cultura do funk e tendo o sonho de ser MC, ele sentia que não era bem aquilo que ele realmente queria fazer e foi aí que entrou o rap.

Navegando no YouTube e vendo batalhas de rima, que são eventos onde MCs se reúnem e disputam com rimas improvisadas, seja de maneira individual ou em grupo, Kauay se encantou. Foi amor ao primeiro beat. A forma de cantar, os beats, o estilo dos MCs, tudo aquilo parecia dar a certeza que faltava: era rap que ele realmente queria fazer.

No Brasil, as rodas de rima fazem parte do cenário cultural de maneira regular e organizada desde 2003, mas já aconteciam antes disso, tendo revelado muitos MCs importantes para o cenário nacional (Emicida, Djonga, Rashid, Orochi, Choice, etc). Dentre as inúmeras batalhas espalhadas pelo território nacional, as mais conhecidas são: Batalha do Tanque (RJ), Batalha do Santa Cruz (SP), Batalha da Estação (MG), Batalha da Aldeia (SP), Batalha do Real (RJ), Batalha da Escadaria (PE), entre outras.

Kauay em estúdio (Instagram)

Em meio às pesquisas na internet, ele conheceu o trap, um subgênero estadunidense do rap. Junto com um amigo, ele começou a investir de verdade na música, como profissão, e em 2019, ano que o consumo de rap apresentou um crescimento de 15,4% no Brasil, Kauay viu sua vida mudar por ser MC.

De acordo com os serviços de streaming usados pelos brasileiros, o rap vem crescendo cada vez mais (46% em relação ao ano de 2017), aumentando seu número de ouvintes mensalmente e ganhando espaço entre os gêneros mais populares do Brasil: sertanejo, funk e pagode. O sertanejo, ritmo mais ouvido no Brasil, contava, em 2019, com 7 artistas entre os 10 mais ouvidos, tendo um impacto de 29% nas rádios brasileiras. Parte do crescimento do rap, que conta com um público diferente dos demais ritmos mas já começa a se mesclar, como vemos no projeto Poesia Acústica, com milhões de visualizações em seus vídeos e presentes em playlists de diversas camadas de idade, gênero e classe, se deu pela popularidade que o trap conquistou, tendo um aumento no consumo de 61% de 2016 a 2019, e pela mistura de ritmos, alcançando um número maior de ouvintes.

Liderando o ranking de rappers brasileiros mais ouvidos no Spotify temos o carioca Xamã, com 4,6 milhões de ouvintes, seguido de Filipe Ret, com 4,1, e Matuê, com 4. A única mulher na lista dos mais ouvidos é a jovem Lourena, que ocupa a sexta posição. Vale destacar que, se tratando de rap nacional, a Pineapple lidera o ranking geral, com mais de 4,7 milhões de fãs mensais graças aos seus projetos "Poesia Acústica”, "Poetas no Topo” e mais.

De 2019 pra cá, o trap vem roubando a cena no Brasil, e mostrando talentos fora do eixo Rio-São Paulo. O jovem Matuê, do Ceará, é um dos maiores nomes e conta com mais de 4 milhões de ouvintes mensais. Djonga, rapper mineiro e primeiro brasileiro indicado ao BET Hip-Hop Awards, também surgiu nas batalhas de rima e, lançando um álbum por ano, já deixou seu nome na história do rap brasileiro. Nomes como Mc Taya, Mc Igu, Ebony, Raffa Moreira, Recayd, todos eles estão dando forma brasileira ao trap americano.

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Érica Azevedo

Jornalista em formação, amante do futebol por natureza.