Em 2019 o futebol feminino passa a ser obrigatório

A partir deste ano, todos os 20 clubes participantes da Séria A do Brasileiro precisarão manter um time de futebol feminino adulto e base

Gabriel M
Dados e Jornalismo
Published in
5 min readApr 24, 2019

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Por Gabriel Marchese

Apesar de ter sido inventado na Inglaterra, o Brasil é considerado por muitos o país do futebol. Mesmo antes de se tornar cinco vezes campeão do mundo o país já tinha esta fama. Tendo isto em mente, muitos brasileiros crescem com o sonho de se tornar jogador de futebol, e ter seu nome gritado pela torcida.

Existem cerca de 25 mil atletas de futebol profissionais no Brasil e a maioria recebe um pouco mais que um salário mínimo de pagamento, 82% destes atletas ganham ate R$1.000 reais.

O mundo do futebol é muito disputado e competitivo, são raras as pessoas que chegam a se tornar profissionais. Para as mulheres o caminho é ainda mais complicado, pois além da insegurança financeira muitas atletas sofrem com machismo.

Para a atual atacante do Flamengo/Marinha, Raiza Canhotinha, não foi diferente. No clube a 2 anos e 4 meses, a atleta decidiu aos 9 anos que queria ser jogadora de futebol mas admite que a questão financeira foi sua maior dificuldade para realizar seu sonho: “ As dificuldades foram muitas, mas a incerteza de salário foi a mais complicada”.

Flamengo/Marinha é um dos principais candidatos ao título do campeonato brasileiro/ Foto: Caio Sertori

Até nos lugares mais desenvolvidos o esporte se encontra em uma situação complicada. Um estudo feito pelo FIFPro (Sindicato Internacional de atletas de futebol) em parceria com a Universidade de Manchester, que teve a participação de 3.600 jogadoras, apresentou que metade das atletas não tem contrato e nem recebem qualquer salário para jogar.

Gabriel Marchese

Ainda que o cenário atual esteja longe do desejado pelas atletas, o futebol feminino está em processo de transição para melhor, recebendo mais investimento e estrutura. Cada vez mais jogadoras lutam por seus direitos e cada vez mais clubes montam equipes femininas para a disputa das principais competições nacionais e internacionais.

No ano da Copa do Mundo da França, a edição deste Campeonato Brasileiro feminino, que contará com 52 equipes está sendo tratada como um divisor de águas. Além de ser imposta uma lei que obriga todos os 20 times participantes da Série A do Brasileiro a manter um time de futebol feminino a CBF aumentou o calendário de competições nacionais femininas e criou o Brasileirão Sub-18.

Um levantamento aponta que cerca de 15% dos times tem todas jogadoras registradas com carteira profissional, apenas 8 dos 52 times. Os times que não possuem as atletas no regime CLT (consolidação das leis de trabalho) oferecem faculdades, uniformes para venda, outros apenas ajuda de custo.

Assim como muitas atletas do esporte, Raiza nunca teve sua carteira assinada como jogadora de futebol. No caso do Flamengo existe uma parceria com a Marinha na qual todas as jogadoras participam de um edital para entrar na Marinha do Brasil e se tornam terceiro sargento, desta forma, obtendo todos os direitos garantidos.

Gabriel Marchese

A atacante norueguesa Ada Hegerberg foi a primeira atleta a ganhar a Bola de Ouro do futebol feminino, prêmio que até então era conferido apenas para homens. Ada é um símbolo da luta por melhorias da modalidade. Em protesto à falta de apoio ao futebol feminino na Noruega, ela não participará da Copa do Mundo na França.

Ada Hegerberg de 23 anos se tornou a primeira futebolista a ganhar a Bola de Ouro / Foto: the18.com

O jornalista Rafael Machado coloca a divulgação como um dos grandes motivos para esta diferença de valores entre as modalidades: “As competições importantes ja existem, mas ainda não recebem devida atenção, pois não são divulgadas pela mídia e tampouco recebem capital de possíveis parceiros. Quando os patrocinadores reconhecerem o esporte como um produto de alto lucro e atrair o público, é possível que se aproxime dos valores do futebol masculino”

A lei

Em 2016 a Fifa publicou um documento que previa o incentivo ao futebol feminino dentro e fora dos campos. Pensando nisso, a Conmebol passou a exigir que os clubes interessados em disputar as competições masculinas, como a Copa Libertadores, invistam em torneios femininos. Esta regra passou a valer no início de 2019.

A CBF em 2017 criou o Licenciamento de Clubes, com 34 medidas, para a disputa de suas competições oficiais. A manutenção de um time de futebol feminino adulto e de base está entre estas medidas.

O clube que não estiver dentro das regras do Licenciamento, de acordo com a CBF, estará sujeito a ficar de fora das competições que exigem a licença — caso da Série A do Brasileiro, Copa Sul-Americana e Libertadores.

Após ouvir sobre esta nova lei, a atacante do flamengo se animou .”O esporte está começando a melhorar como um todo, mas pode ir muito além disso”, disse a atleta que sonha em vestir a camisa da seleção brasileira.

Marta é a jogadora de futebol mais bem paga entre as brasileiras / Foto: modices.com

Ao questionado sobre a lei imposta pela CBF, o jornalista Rafael Machado afirmou : “Os clubes devem estar mais atentos e valorizar o futebol feminino. Com a lei, o clube fica responsável de todo ano fazer o investimento necessário na equipe e procurar patrocínios para ajudar com as despesas.”

Esta medida é um grande passo para o esporte, pois vai aumentar a procura e gerar mais vagas para quem sonha em ser jogadora e consequentemente, maior será o interesse dos patrocinadores impulsionando mais ainda o crescimento da modalidade. Porém a medida não significa que todas as jogadoras terão carteira assinada e salários. Assim como no caso da Raiza, as atletas poderão ser remuneradas de outras formas. Alguns clubes fornecem recursos como auxílio financeiro, departamento médico, faculdade, camisas do time, entre outros.

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