Barbie: a boneca que segue os moldes do corpo considerado perfeito

Mídia e padrão de beleza

Marcela Linhares
Dados e Jornalismo
Published in
4 min readJun 26, 2019

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Como o padrão midiático é capaz de afetar a rotina da brasileira

Por: Marcela Linhares e Jéssica Ziehlsdorff

“Já deixei de sair com meus amigos por não estar feliz com meu peso”, essa é a realidade da carioca Daniela Oliveira*, estudante de jornalismo na FACHA de 22 anos, que relata o quanto a sua aparência já a impediu de realizar atividades do dia a dia. Essa insegurança faz parte da realidade de diversas mulheres em todo o mundo. Em pesquisa realizada pela Dove, empresa de cosméticos, em 2016 com 6.800 mulheres, oito em cada 10 mulheres disseram que já evitaram qualquer compromisso social por não se sentirem bem com seu próprio corpo.

Seja na TV, revistas, outdoors e, agora também, nas redes sociais, o padrão de beleza feminino está implicitamente e explicitamente arraigado em todos os lugares. Com isso, mulheres se sentem pressionadas a se encaixarem dentro de um padrão social para se sentirem bem.

A busca pelo corpo ideal requer sacrifícios. Desde dietas completamente restritivas, exercícios físicos em excesso a remédios sem orientação médica. Há casos ainda mais críticos onde a mulher chega a ingerir medicamentos para induzir o vômito para causar a falsa sensação de que não houve a ingestão de certas calorias. Daniela comenta que nunca passou por sua cabeça tomar laxante, mas que já chegou a ficar muitas horas sem comer e tomava remédios sem ter receita médica. “Eu costumava malhar todos os dias e não via o resultado que eu queria. Senti que estava na hora de tentar outras coisas. Comecei com remédios que eliminavam a gordura dos alimentos e, quando me toquei, já estava em remédios mais fortes sem nenhum médico me orientando”.

De acordo com o relatório global de autoconfiança feminina Dove (Dove Global Beauty and Confidence Report), relatório este que entrevistou 10.500 mulheres e meninas em 13 países, 71% das mulheres gostariam que a mídia se esforçasse mais para retratar mulheres com diferentes tipos de beleza física como negras, indígenas, asiáticas, maior diversidade de idade, raça, biótipo e tamanho. Daniela acredita que tenha começado a ser influenciada desde quando era nova. “Eu ia acompanhar minha mãe no salão de beleza e, pra passar o tempo, ficava lendo as revistas que tinham lá. Me lembro de só ter revistas de fofoca e fotos de mulheres com corpo perfeito. Aquilo entrou na minha cabeça como algo que eu deveria seguir. Falava pra mim mesma que só ia ter destaque ou ser famosa se eu tivesse um corpo daqueles”.

No Brasil, 76% das mulheres cita a crescente pressão por parte de propagandas e da mídia para que elas atinjam um padrão de beleza irreal como uma causa importante de sua ansiedade com a própria aparência. Como consequência, mulheres que não alcançam este padrão determinado ficam frustradas e deprimidas. Essa busca incessante pela beleza é algo tão alarmante que 7 em cada 10 responderam que se sentem pressionadas sim a nunca demonstrarem fraquezas ou a cometerem erros.

Na busca para mudar essa sua autopercepção, Daniela foi orientada por amigos bem próximos a iniciar terapia. A estudante de jornalismo confessou que no início passou por muitas dificuldades até conseguir tocar nesse assunto, mas, hoje em dia, consegue falar sobre isso sem ter problemas e diz que o autoconhecimento é fundamental. “O autoconhecimento é algo extremamente necessário e vejo que são poucas as pessoas que buscam se conhecer. Eu sei muito mais sobre quem eu sou e meus limites. Hoje não me cobro mais tanto até para não ficar frustrada com possíveis resultados negativos. Busco uma lição em tudo que acontece em minha vida e até minha relação com meu corpo mudou.”

Blogs, sites e redes sociais vem com força para buscar mudar esse paradigma. Até mesmo campanhas em redes sociais começam a exaltar padrões de beleza alternativos trazendo assim a diversidade e buscando que ela seja a cada dia mais aceita. Fotos de mulheres com estrias, mulheres aceitando mais seus próprios cabelos quando antigamente somente o cabelo liso escorrido era o mais aceito, mulheres exibindo seus corpos não depilados com orgulho e provando que isso não é desleixo. Todos estes são exemplos de mudanças que estão surgindo para mudar essa ideia de padrão ideal. É uma barreira muito grande ainda, mas que vem sendo desconstruída aos poucos.

*Nome trocado para preservar a identidade da entrevistada

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Marcela Linhares
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