O perigo do uso sem regras do Youtube

Os desafios do século XXI em limitar e auxiliar crianças a usarem a plataforma

Luiza Braz
Dados e Jornalismo
4 min readApr 25, 2018

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Texto escrito em parceria com Thaís Tavares

A geração Z compreende as pessoas que nasceram a partir de 1995, aquelas que não conhecem o mundo não digital e sem internet. Elas possuem quase uma relação simbiótica com o ambiente digital através de óculos de realidade aumentada, smartphones, iPads, dentre outros. São indivíduos hipercognitivos capazes de viver várias realidades ao mesmo tempo.

A pesquisa “Geração YouTube” de 2016 feita pela ESPM Media Lab com coordenação da pesquisadora Luciana Corrêa identificou que o Brasil é o segundo maior consumidor mundial de vídeos no YouTube. Esse estudo focou nos 100 canais com maior audiência no país e constatou que 36 são voltados apenas para o público infantil.

Desses 100 canais que foram mapeados a maioria, 39, é direcionada para a temática videogames. Outros 22 canais são vlogs (formato de blog em vídeo) de youtubers mirins ou teens e apenas um é voltado para a educação. Um dos fatos mais assustadores da análise foi que bebês e crianças, de zero a 12 anos, foram responsáveis por quase 53 bilhões das visualizações na plataforma até setembro de 2016.

Mesmo com a rotina agitada, Pedro passa quase um quarto do dia conectado

Foto: Reprodução

Conversamos com Pedro, um menino de 10 anos, que estuda e mora na Zona Sul do Rio de Janeiro. Além de estar na escola de 7h às 12h50, ele faz atividades como: judô, futebol, natação e tem aulas particulares de matemática antes das provas.

“Quando eu chego em casa já ligo o celular e entro no Youtube para ver meus vídeos. Só paro para fazer dever de casa e quando acabo entro de novo”, conta Pedro.

O garoto passa em média cinco horas por dia conectado jogando videogame no Playstation, assistindo séries na Netflix e vendo vídeos no Youtube. Dentre seus youtubers favoritos estão os gamers Jazzghost e Authentic Games, o vlogger Mr Poladoful e o canal de filmes Operação Cinema. Dos jogos de videogame prediletos ele lista Minecraft, Knack e Lego — Star Wars.

A grande questão dos pais, mães e responsáveis pelas crianças da Geração Z é como monitorar o conteúdo consumido por eles.

Esses responsáveis são, em sua maioria, da Geração X, que compreende de 1961 a 1981, e ainda estão aprendendo a lidar com democratização do acesso às tecnologias.

O professor e comunicador Márcio Gonçalves, que atualmente dá aulas sobre tecnologia para crianças de 9 a 12 anos, enfatiza que precisamos ensiná-las a usar esses novos meios de comunicação com responsabilidade.

“Na escola, por conta da política de acesso à internet, alguns vídeos não abrem. Nessa hora é que o papel do educador se faz presente. É a oportunidade para inserir o conteúdo sobre privacidade e segurança em ambiente digital”, ele explica.

Essas ferramentas precisam ser encaradas como parceiras do aprendizado e da escola, atraindo mais crianças para o ambiente educacional. Márcio acrescenta: “Eu consigo fazer tarefas integradas e isso é bastante novo para eles. Torno o aluno produtor de conteúdo e, não apenas, consumidor de informação. Mostro que eles podem criar histórias maravilhosas e compartilhar com o mundo digital”.

O Youtube tem vários canais voltados para o aprendizado e que colaboram com a formação acadêmica das crianças e adolescentes que não recebem tanta atenção. O canal Manual do Mundo, por exemplo aborda curiosidades científicas e chama a participação dos pais para as atividades propostas. O canal Papo de Biólogo traz vídeos explicando sobre a diversidade da fauna brasileira.

Os desafios que uma sociedade imersa em tecnologia são recentes e ainda ativos. Por essa questão é difícil a compreensão dos seus benefícios e malefícios, uma vez que a novidade de hoje amanhã será superada por outra mais inventiva e digitalizada. A adaptação se dá num intenso momento de transição analógico-digital e aqueles que nasceram dentro dessa rede tem o importante papel de efetivar a boa relação da sociedade com a tecnologia. Cabe a nós, pré-touchscreens, pavimentarmos o entendimento saudável desse novo mundo totalmente interligado onde todos absorvem cliques, fotos, compartilhamentos e informações, além de produzirem, todo dia, mais e mais desses dados.

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Luiza Braz
Dados e Jornalismo

Jornalista que podia ter feito Moda, Direito ou qualquer outra coisa.