Os super-heróis através das décadas

Luca Tornaghi
Dados e Jornalismo
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8 min readApr 26, 2022

Adaptações passaram por transformações até a indústria se tornar o que é hoje

Por Luca Tornaghi e Carlos Gabriel Tolêdo

Adataptações de Super-Heróis para o Cinema (Imagem: AdoroCinema)

Não é segredo para ninguém que a maioria dos filmes e séries produzidos por Hollywood seguem certas fórmulas para fazer sucesso, isso é especialmente verdade quando tratamos de produções em live action voltadas para o universo de super-heróis. Um foco em aventura ou ação, algumas pitadas de comédia, elementos da jornada do herói e uma classificação indicativa atraente para o público adolescente, esses são alguns elementos presentes em quase todas as adaptações do tipo.

A indústria não começou como é hoje. Décadas se passaram antes que super-heróis fossem algo tão comum nas telonas. A primeira adaptação vista foi de “Mandrake o Mágico”, lançada pela Columbia Pictures em 1939 no formato de filme serial. O herói Mandrake é considerado por estudiosos como o primeiro a existir na mídia de quadrinhos. O conceito, extinto hoje, se tratava de um seriado exibido nos cinemas, com cada capítulo tendo tamanho médio inferior a vinte minutos.

Foi com o filme serial que os heróis tiveram vez. Um total de oito foram lançados entre 1939 e 1950, entre eles as primeiras versões de Batman, Super-Homem e Capitão América. O homem de aço foi também quem veio a ter o primeiro filme, “Super-Homem e os Homens Toupeira” estreou nos cinemas em 1951, o que também viria a ser a última produção voltada para as telonas por quinze anos.

O herói originário de Krypton é um dos mais icônicos de todos os tempos, então não deve ser surpresa que ele fez história também com a primeira série televisiva: “As Aventuras de Super-Homem” foi exibida pela primeira vez em 1952, e durou um total de seis temporadas, chegando ao fim em 1958 apenas porque dois atores do elenco principal vieram a falecer.

As décadas seguintes foram marcadas por poucas adaptações em filme ou série (valendo menção ao lendário Batman de Adam West), a indústria optou por seguir outros rumos. O ponto chave para a virada foi em 1978 com o Super-Homem estrelado por Christopher Reeve, que ousou ao investir uma enorme quantia de dinheiro e se tornar o filme de maior orçamento da história na época, chegando a contratar Marlon Brando para viver Jor-El. Após a fantástica recepção do público, três sequências acabaram sendo lançadas, assim como um filme derivado focado na Supergirl, esse foi o primeiro caso de uma franquia de filmes adaptando histórias de super-heróis.

Chuck Klosterman, autor do livro “The Nineties: A Book”, argumenta que a primeira metade da década de 90 era dominada por filmes independentes. Com a evolução tecnológica, produções de baixo orçamento passaram a ser possíveis sem comprometer drasticamente a qualidade. Essa tendência seguiu até um filme mudar tudo: Titanic. O longa alcançou uma bilheteria nunca antes vista e liderou uma revolução na indústria cinematográfica, que passou a investir em grandes produções de alto orçamento. O fenômeno visto antes com o herói da DC estava prestes a tomar novas magnitudes.

O crescimento ao longo das décadas (Imagem: Arquivo Pessoal)

A partir dessa nova tendência, Hollywood passou a procurar formas de manter a alta bilheteria, tornando hábito a criação de sequências para as grandes produções de sucesso. A Marvel pegou tal prática e a elevou mais ainda, criando um universo inteiro em torno de seus filmes e séries, com garantia de interesse por parte do público de massa.

O avanço tecnológico tornou possível a criação de filmes ainda mais atraentes, com os efeitos especiais sendo capazes de apresentar elementos fictícios de forma revolucionária. Outro ponto no qual a tecnologia mudou tudo foi com as plataformas de streaming, que alteraram a maneira como o conteúdo audiovisual é consumido pelo espectador e possibilitaram a expansão do mercado de séries.

Marvel e DC são responsáveis por 90% dos conteúdos live action produzidos, e esse número não é à toa. As gigantes do entretenimento, hoje pertencentes à Disney e Warner respectivamente, tem a maior quantidade de personagens queridos pelo público e investem em peso no mercado, com algumas das séries mais conhecidas:

Marvel/ Disney+: Uma das maneiras que a Marvel encontrou para expandir ainda mais o seu universo cinematográfico, foi através do Disney+. Logo após o lançamento do serviço de streaming no Brasil (16 de novembro de 2020), a Marvel tinha em seu calendário as primeiras séries que iriam aprofundar histórias e acrescentar personagens novos, como é o caso de WandaVision (que introduziu a SWORD), Falcão e o Soldado Invernal (que nos apresentou o novo Capitão América) e Loki (que literalmente abriu o multiverso da Marvel). No final do ano de 2021 também tivemos a série do Gavião Arqueiro, que nos apresentou diversos novos personagens e teve o retorno de Vincent D’Onofrio como o Wilson Fisk, o Rei do Crime.

Marvel/ Netflix: Em 2015, a Netflix introduziu a Marvel e seu universo cinematográfico ao mundo das séries. Nessa expansão que começou com Demolidor (2015–2018), vieram as produções Jessica Jones (2015–2019) , Luke Cage (2016–2018), Punho de Ferro (2017–2018), O Justiceiro (2017–2019) e por último, a série que juntaria os personagens das quatro primeiras, Defensores (2017). Todo esse universo feito pela Netflix, teoricamente, se passaria no mesmo que o do cinema, mas depois de tanto roteiro bagunçado e a abertura do multiverso em Loki (2021), as coisas podem e provavelmente vão mudar. Todas as séries eram muito violentas, brutas e bastante sangrentas, dedicadas ao público jovem adulto e adulto.

Seviços de Streaming (Imagem: Pixel Nerd)

CW: Diferente de como foi feito com a Marvel, a Netflix não participou da produção de nenhuma série da DC Comics, ela apenas as distribuiu. Foi assim com Titãs (2018-) e Gotham (2014–2019), que foram produzidas pela própria DC e pela FOX respectivamente. O canal de TV americano The CW Television Network fez a famosa série do super-homem, Smallville. Porém, o cardápio que a CW nos apresentaria não estava nem no começo. Em 2012, ela lançou a série sobre o Arqueiro Verde, Arrow (2012–2020). Criando e expandindo universos a partir dali, a CW foi criando spin offs atrás de spin offs. Foi daí que nasceu The Flash (2014-), Legends of Tomorrow (2016-), Constantine (2014–2015), Supergirl (2015–2021), Batwoman (2019-) e Raio Negro (2018–2021). Com todas essas séries juntas, foi criada a possibilidade da adaptação de um dos arcos mais famosos da história dos quadrinhos, A Crise nas Infinitas Terras. Com a finalização deste crossover, a terra primordial foi criada e assim surgiu a série Superman e Lois (2021-).

DC/ HBO MAX: Algumas adaptações da DC só ficaram disponíveis no Brasil após o lançamento do HBO Max, serviço de streaming da Warner. Esse foi o caso de Krypton (2018–2019), Patrulha do Destino (2019-), Watchmen (2019-) e Stargirl (2020). Titãs e Gotham eram antes distribuídas pela Netflix, mas agora estão completas no HBO Max. No caso de Superman e Lois, produzida pela CW, entra no catálogo brasileiro na mesma semana de exibição dos Estados Unidos.

Da mesma forma que temos adaptações das maiores, DC Comics e Marvel, também temos as produções que eram, até então, desconhecidas. De um lado temos a Amazon com The Boys (2019-), do outro temos a Netflix com The Umbrella Academy (2019-). Produções que fogem do padrão que conhecemos e nos apresenta uma sátira sobre o mundo dos super-heróis, super violenta e explícita (às vezes até demais) e outra que foca muito mais nas relações familiares e deixa o elemento de super-herói um pouco de lado. Com o sucesso de The Boys, a Netflix também tentou emplacar sua própria adaptação, O Legado de Júpiter (2021), mas a série foi cancelada logo após a sua primeira temporada ser lançada.

Se pararmos para analisar, as produções em sua maioria são feitas para agradar o seu público fiel, mas também para trazer novos fãs a esse mundo. Sendo assim, os fãs assíduos são os que mais elogiam quando as empresas acertam, mas também são os que mais vão reclamar após um erro (ou vários). David Balista tem um canal no YouTube, onde frequentemente faz análise de filmes e séries, e nos deu sua opinião crítica sobre o assunto. Também falamos com Rafa Cuntin, estudante de artes cênicas e leitora de quadrinhos dedicada desde os 12 anos.

David Balista (Imagem: Divulgação/Café Nerd)

Em questão de variedade e inovação, a adaptação de quadrinhos de super-heróis (para filme ou série) está ficando saturada ou ainda há espaço para histórias pouco conhecidas pelo público geral? Ou para abordagens diferentes do padrão que vem sendo usado?

David: “Acho que houve uma saturação durante um período, onde a própria DC tentou criar seu universo cinematográfico, mas ela foi se reinventando, percebeu que dá pra ser diferente, The Boys provou isso também, e agora a própria Marvel aposta em séries, estilos diferentes dentro da sua própria fórmula. Os filmes de heróis se tornaram um gênero que está criando subgêneros. Eu acho isso muito bom, quanto mais, melhor!”

Rafa: “Completamente saturada. Pelo menos para mim, o que antes era um espetáculo levado das páginas para a telona, agora se tornou quase uma obrigação, pois para entender a história do MCU você precisa assistir 4 filmes por ano, além das séries que eles fazem para o disney+. Por mais que algumas obras tenham uma visão por trás, no fim acabam virando o clichê saturado de super-herói no final (vide WandaVision). Tendo a maioria se afundado na mesmice e clichês, as produções fora da curva chamam muito mais atenção sendo produções com uma visão, temas e críticas para abordar (peacemaker) ou até mesmo por apenas não se prender à obrigação de um universo compartilhado (The Batman).”

Rafael Cuntin (Imagem: Arquivo Pessoal)

Com a elevação do nível de construção de universo/saga feita pela própria Marvel, acha que ela vai conseguir criar outra história épica de nível igual ou superior à saga do infinito?

David: “Acho que a Marvel já está criando algo mais grandioso, usando as séries para aprofundar personagens secundários e introduzir subtramas que vão enriquecer muito os grandes eventos. Não duvido da criatividade e do poder financeiro da Marvel hahaha vai ser difícil, mas quem ganha com isso somos nós.”

Rafa: “Se ela pode criar uma história épica e grandiosa maior que a saga do infinito, é óbvio que sim. Mas será que terá o mesmo apelo que ela obteve? Creio que quando chegar no próximo ápice e convergência de histórias do MCU talvez o público geral já sinta a mesma fadiga que eu sinto em relação ao MCU.”

No fim disso tudo, podemos perceber e entender que nem toda adaptação vai ser necessariamente boa ou fiel à obra original. E que isso vai enaltecer ainda mais as “obras primas”. Mas independente de tudo e todos, os fãs de quadrinhos nunca vão deixar de acompanhar esse universo, pois nasceu e cresceu junto dele.

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Luca Tornaghi
Dados e Jornalismo

Estudante de Jornalismo, amante dos esportes e apresentador do “The Breakfast Cast”.