O som das rádios e os favoritos do Spotify

Por Ana Carolina Tavares e Fernanda Hamaty

Ana Carolina Campos
Dados e Jornalismo
5 min readOct 9, 2017

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Caio Barreto, 34 anos, tem uma longa jornada com a música. Começou a tocar aos 11 anos e aos 16 já estava formando sua primeira banda com os amigos. Aos 18, começou a tocar profissionalmente em bandas independentes e com alguns cantores conhecidos.

Reverse tocando no Super Star

Caio é o guitarrista da banda de Pop Rock, Reverse, que surgiu há 15 anos. Desde então, o conjunto já tocou em rádios independentes e está presente no Spotify, plataforma online de distribuição de conteúdo musical.

Reverse estava parada e, em 2015, recebeu um convite da Rede Globo para participar do programa Superstar, reality show que revelava novas bandas. Segundo Caio, a visibilidade da banda aumentou bastante com o programa, mas sempre foi mais difícil encontrar lugar nas rádios. “No rádio tem essa questão de ‘jabá’, o que conseguimos até hoje foi porque temos amigos que trabalham lá”, afirma o músico, fazendo uma comparação com o Spotify. Ele diz que a plataforma de streaming é muito mais simples de colocar músicas, mas isso não quer dizer que as pessoas irão ouvir suas músicas.

Infográfico comparando Spotify e Rádio

Uma justificativa para isso pode ser o estilo musical da banda. Uma pesquisa realizada pela Talk Rádio em agosto de 2017 indica que o gênero mais ouvido pelos brasileiros nas rádios é o Sertanejo. O Pop Rock e outros ritmos têm mais espaço no Spotify, como mostra a pesquisa do site Nexo, de novembro de 2016.

Segundo a produtora cultural, Dannis Heringer, as rádios ainda têm um modelo muito tradicional cultural enraizado e, por esse motivo, é muito difícil um artista independente conseguir se firmar. A rádio é do público de massa. “O Spotify é como se fosse um grande catálogo de tudo o que há hoje na música. Ali tem várias tribos, você escuta o que o você quer ouvir. É uma grande gravadora que abrange todos os estilos musicais sem focar no que que é de gosto de apenas um segmento de mercado”, analisa.

A prova disso está no fato de que, segundo a Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro, 36% dos cariocas preferem ouvir Pagode. No entanto, o Funk e a música Gospel têm um apelo muito maior nas emissoras. “O apelo é maior ao público de massa”, explica Heringer. De acordo com a produtora cultural, a rádio é um meio totalmente de massa, logo, é mais fácil que esses dois estilos sejam mais aceitos do que outros.

Apesar de ser um veículo de massa, cada vez mais as rádios de música estão sumindo, dando lugar a canais apenas de notícias. Um exemplo é a Rádio Cidade, fundada no Rio de Janeiro em 1977 com a proposta de tocar apenas Rock. Em 2006, a Cidade fechou e, com a ajuda de artistas do segmento, como Tico Santa Cruz e Pitty, retornou em 2014. Porém, em 2016, fechou suas portas novamente, anunciando em sua página no Facebook que “no Brasil é muito difícil sobreviver do Rock’n’Roll”. Para Heringer, isso se dá porque as rádios ainda têm uma aversão a mudança do seu estilo tradicional. A Rádio Cidade, explica ela, continuou com a ideia de manter uma programação tradicional em horários de pico. “É claro que todo roqueiro quer ouvir clássicos do Rock, mas por que não dar a bandas novas, com públicos renovados, a chance de estarem também nos horários de pico?”, questiona.

Enquanto isso, Spotify cresce e o público, principalmente o mais jovem, migra para lá. A faixa etária dos ouvintes do Spotify está entre 18 e 34 anos, informa pesquisa realizada pela Uol Notícias em 2015. Os artistas contemporâneos apostam na plataforma para alcançarem um novo público e difundir seu som, como era na época do MySpace. A Reverse, segundo Caio, estava presente no MySpace e hoje conta com o Spotify. Segundo o músico, a banda checa sua visibilidade no serviço de streaming uma vez por mês.

As mais tocadas no mundo, segundo o Spotify

Dannis Heringer concorda que o Spotify ajuda a disseminar novos estilos musicais, mas o enxerga como um facilitador e não um fim para entrar na grande massa que escuta música. Para ela, a rádio ainda tem força e poderia adotar playlists variadas, como é o caso da plataforma digital. “Existe uma rádio só para quem escuta pop ou só para quem escuta funk e pagode e dá certo. Acho que tudo é visão de mercado, se a rádio não consegue perceber todos os tipos de mercado em que ele está inserido, a rádio acaba saindo do Dial, como foi o caso, mais de uma vez da Rádio Cidade”, avalia.

Hoje em dia, os veículos de massa tradicionais competem com as inovações digitais. Os artistas não contam mais apenas com as rádios para divulgarem seu conteúdo e usam o Spotify como um complemento para atingir um público maior e novo. As rádios, então, devem renovar seu modelo. Buscar outros estilos musicais, que não atendam só a grande massa, renovando seu público e se fortalecendo, garantindo a manutenção do veículo.

Na plataforma Spotify se encontra música de diversas nacionalidades, porém é um bom meio para conhecer um pouco mais da música brasileira. A plataforma a partir do que você ouve oferece sugestões, fora as playlists deles. E nestas que a imensidão da música brasileira se esbalda. Há playlists com lançamentos nacionais, sucessos antigos, fora de gêneros específicos. Dentre os gêneros específicos estão desde sertanejo, pagode, rap e rock até os gêneros menos divulgados na grande mídia, como funk, folk nacional, pop rock, Indie nacional, entre outros. Definitivamente o Spotify é uma plataforma que te traz aquilo que você já conhece porém te apresenta um universo novo no cenário musical de forma bem sucedida.

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