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Cidade Maravilhosa: Os custos de morar sob os braços do Cristo

Renata Rijo Monteiro
Dados e Jornalismo
Published in
8 min readJun 17, 2020

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Como o preço do aluguel influencia no estilo de vida do carioca e o sonho de morar sozinho

Morar no Rio de Janeiro é um sonho para muitos. Afinal, até quem reside na cidade se rende diante das tantas belezas. Tema de belas canções e plano de fundo de muitas histórias, a cidade tem charme suficiente para fazer jus ao título de Cidade Maravilhosa.

Mas, morar no Rio tem um preço alto. Segundo uma pesquisa realizada pela FipeZap, apesar do valor por metro quadrado estar em queda pelo quinto ano consecutivo, ele continua sendo o mais alto entre as cidades brasileiras.

Economistas recomendam que gastos com aluguel e moradia consumam cerca de 30% da renda total da família. Mas no Rio de Janeiro, em 2014, essa porcentagem já alcançava uma média que variava entre 40 e 50%. Entre 2009 e 2014, o valor do aluguel subiu cerca de 443% mais do que a média salarial. Neste mesmo período, o preço dos aluguéis no Rio, teve uma alta de 117,39% enquanto a média salarial subiu cerca de 22%. Durante esses anos, a movimentação do mercado imobiliário foi grande.

Uma família com renda de 10.000,00 reais no mês, poderia gastar então, 3.000,00 reais de aluguel. Dependendo das necessidades de cada um e do tamanho do apartamento, esse valor seria facilmente extrapolado. Para manter a meta recomendada pelos economistas, o cenário mais provável seria procurar por uma localização menos valorizada, ou seja, afastada do grande Centro, onde os valores mensais referentes a moradia são mais em conta e abertos para negociação.

O aumento médio de preço dos imóveis no Rio, especialmente a partir do ano de 2011, cresceu assustadoramente. Em comparação aos anos dois anos posteriores, quando o aumento foi de 13,7%, em 2011 os valores aumentaram em 26%, isto é, o dobro. Na época, especialistas acreditavam que em 2014 o ano seria mais estável nesse aspecto, no entanto, foi um ano em que inquilinos e locadores precisaram ter cautela e tomar certas precauções. Além de ser ano de eleição, foi também ano em que aconteceu a Copa do Mundo, o que gerava dúvidas e instabilidade.

A Bolha Imobiliária

Ainda nesse período, começou a especulação a respeito de uma possível bolha imobiliária que estava se estabelecendo. Os custos de investimento em um novo imóvel e o aluguel por ele cobrado, não estavam alinhados. Além disso, com as obras e melhorias que fomentaram a cidade por conta da Copa, houve uma supervalorização de diversas áreas que consequentemente afetou o mercado imobiliário.

Outro agravante do mercado imobiliário no Rio é a especulação imobiliária, fator de risco que inclui até mesmo as comunidades, principalmente as da Zona Sul. O fenômeno da especulação se dá pela concentração de muitos imóveis no nome de uma só pessoa, que os mantém vazios até que a área em questão valorize e ofereçam maior possibilidade de lucrar. Exemplo claro desse tipo de movimentação é a favela do Vidigal, onde paga-se caro pela vista. Uma casa com três quartos, pode chegar a custar um milhão de reais. A especulação acontece também, porque um grande número de pessoas que não sabem onde investir, escolhem o mercado imobiliário e esperam que com o passar do tempo a área em questão valorize e que o preço de venda ou aluguel daquele imóvel aumente.

A especulação imobiliária é cercada por uma discussão que diz respeito a sua nocividade. Não há hoje uma lei que preveja a prática como crime, mas prefeituras e órgãos públicos responsáveis podem criar medidas que desencorajem esse movimento. Está entre as consequências da especulação imobiliária o encarecimento dos imóveis, geralmente em áreas centrais das grandes de cidades ou em áreas nobres como a Zona Sul, no caso do Rio de Janeiro. Para os especialistas, essa prática é considerada a grande culpada pela maioria dos problemas urbanos, principalmente nas metrópoles.

O bom filho a casa torna, mas alguns preferem nem sair

Os altos preços do aluguel não só no Rio de Janeiro, como também nas grandes cidades adia o sonho de muitos jovens de morar sozinho. Conhecida como Geração Canguru, número de jovens entre 25 e 34 anos que ainda vivem com a família aumentou nos últimos anos. Apesar da questão de incompatibilidade entre remuneração e custo de moradia não ser o único motivo para que a independência seja coloca como plano futuro, é o que afasta Brenda dessa realidade.

Brenda de Almeida Vanni, nasceu em Duque de Caxias no dia 15 de maio de 1999 onde mora até hoje com os pais e a irmã mais nova. Para ela, o sonho de morar sozinha fica barrado essencialmente pelo valor dos alugueis. A autonomia e liberdade de ter um canto para chamar de seu mais próximo da sua rotina seria também um facilitador da vida profissional e acadêmica que se divide entre o Centro da Cidade e a Zona Sul do Rio. O dia a dia de Brenda, começa as 05h00 da manhã e só termina às 20h00, quando além dos vários transportes públicos que usa para se locomover, precisa ainda caminhar por alguns minutos até chegar em casa. Mesmo assim, a jovem procura direcionar seus esforços para se manter produtiva em suas tarefas e ainda ter tempo para estudar um segundo idioma.

A possível bolha formada entre 2009 e 2014, vem se desfazendo aos poucos nos últimos anos. O preço do aluguel do Rio, tem entrando em queda desde 2016, mas mesmo assim é o mais alto em comparação com outras grandes cidades como São Paulo, registros da FipeZap referentes ao fim do ano passado calculam que o aluguel do metro quadrado na parte nobre da capital paulista custa cerca de R$ 79, já no Rio, o valor numa área equivalente é de R$ 136.

Nos últimos 4 anos, o preço do aluguel no Centro caiu de R$ 2.190,00 para R$ 1.824,00, já a média salarial da população do Rio de Janeiro caiu de R$ 2.325,00 para R$ 2.137,00. Apesar da queda nos preços, as possibilidades de alugar um imóvel, ainda se afasta da realidade da maioria da população do Rio de Janeiro.

Um carioca que tenha a renda mensal igual a renda média estipulada, não pode cogitar a possibilidade de morar sozinho, já que seu orçamento seria comprometido em 73%, caso quisesse alugar um apartamento de um quarto no Centro da cidade, por exemplo. O valor em questão, excede em 43% o recomendado por especialistas para que o equilíbrio orçamentário seja mantido.

“Se o imóvel em questão estiver abaixo do valor do mercado é mais vantajoso comprar, caso a pessoa não tenha dinheiro para realizar a compra à vista, é importante verificar as taxas e condições de financiamento oferecidas”, afirma o corretor de imóveis Renato Rijo Junior. Desde 2016, com a crise que se instalou no país as vendas no mercado imobiliário entraram em queda. Para o corretor, o mercado imobiliário indicava sinais de ascendência, mas com a pandemia o cenário passa a ser instável.

A maioria das prefeituras, se esquiva quando o assunto é combater a especulação. O que não significa que certas medidas não possam ser tomadas à respeito. No Rio, existem cerca de 31.000 imóveis desocupados para locação e em média 179.000 á venda. Sobretaxar IPTUS de imóveis e terrenos que estejam vazios ou inutilizados por um certo período de tempo, sob justificativa de que a prática compromete uso completo da infraestutura da cidade e definir um teto para os valores dos alugueis, variando de acordo com a área em que se encontra, são iniciativas públicas possíveis para reverter esse quadro complicador do mercado imobiliário.

Como outros lugares do mundo estão enfrentando a especulação

Berlim

Para conter o avanço desenfreado no preço dos alugueis, ocasionados pela especulação, o governo da cidade-Estado criou um conjunto de politicas públicas que consistem em reordenar o mercado imobiliário da capital alemã. Além de congelar o valor dos alugueis pelos próximos 5 anos, o prefeito de Berlim, onde cerca de 85% da população mora de aluguel e sentiu peso na alta dos valores, que dobraram na última década, recomprou 6.000 imóveis que se tratavam de moradias sociais antes do período das privatizações.

Mesmo com as críticas da oposição, o governo pretende ainda construir mais 6.000 propriedades por ano em um processo gradativo. A expectativa é que o número aumente em 500 a cada ano e em 2018, 3.500 obras foram aprovadas.

Inglaterra

Calcula-se que cerca de 18.000 pessoas morem em invasões no Reino Unido. A explicação para esses números é o fato de que invadir imóveis abandonados não é considerado crime por lá. A maioria dessas moradias foi invadida por jovens e de baixa renda, que não possuem condições de pagar pelos altos preços de alugueis, mas há quem seja adepto a essa movimento apenas por opção e estilo de vida. Os invasores são orientados pela Advisory Squatters, associação que realiza esse tipo de serviço gratuitamente e sobrevive de doações.

A legalidade dessas ocupações só é garantida mediante o cumprimento de regras impostas pelo governo, caso o dono da propriedade queira toma-la de volta, precisa entrar com um processo e a ordem de despejo pode levar cerca de dois anos para ser lançada. Se o invasor provar que mora na casa ou apartamento por mais de 12 anos, pode ter por meios legais, o direito de propriedade concedido a ele.

Nova York

Os esforços do governo novaiorquino, tem como principal objetivo protejer e amparar inquilinos reduzindo consequentemente as taxas de despejo no país. A lei que entrou em vigor em Junho do ano passado, reduziu o número de processos que requeriam a retirada de inquilinos; foram 35 mil a menos em comparação ao ano de 2018. O mercado imobiliário de Nova York é movimentado e continua em alta.

As medidas tomadas definem que o aviso prévio de aumento do aluguel deve ser dado com 90 dias de antecedência e o prazo é ainda maior para moradores antigos, os pedidos de despejo só podem ser reconhecidos pela justiça após atrasos de pagamento que ultrapassem o prazo de 14 dias, a garantia do contrato não pode ser maior do que o valor do aluguel e as imobiliárias não podem cobrar taxa superior a US$ 20 para fechar contrato.

Além das questões residenciais, o país também enfrenta outro problema: a vacância de imóveis comerciais. As leis criadas até agora, não incluem essa categoria que esbarra em problemáticas como altos preços de aluguel e os desequilíbrios de interesse entre governo, inquilinos e proprietários. Os maiores prejudicados nessa história são os pequenos empreendedores, que ficam suscetíveis aos aumentos do aluguel em áreas sujeitas a especulação, e são de fato o perfil de comerciante que preenche os negócios de rua.

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Renata Rijo Monteiro
Dados e Jornalismo

Carioca da clara, excesso do excesso, agridoce, aspirante a jornalista e apaixonada por histórias. Pronto, você já sabe tudo sobre mim. Prazer.