José Cruz/Agência Brasil

Queimadas já afetam qualidade de vida

Segundo dados do INPE, o ano de 2020 teve o maior número de alertas de incêndios e desmatamento no Pantanal e na Amazônia

Marina Manes
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5 min readApr 12, 2021

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Por: Marina Manes

Não é só o vírus da Covid-19 que vem dificultando de fazermos algo tão simples e natural como respirar. No ano passado, as queimadas no Pantanal e na Amazônia tiveram um aumento de 60%, em comparação com 2019, foi também o pior ano nos números do desmatamento registrados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) desde 2015. Milhares de pessoas tiveram suas casas queimadas, animais tiveram que fugir para sobreviver e muitos deles acabaram mortos na tentativa.

Em setembro do ano passado, houve um aumento de 25% das internações nos hospitais da Amazônia por problemas respiratórios. Muitas pessoas não fazem ideia, mas os moradores das regiões onde ocorre as queimadas sofrem os impactos delas em seus sistemas respiratórios.

Vitória, estudante de 15 anos, moradora de Cuiabá no Mato Grosso, além de ter enfrentar as consequências da pandemia nos estudos e na sua vida, ainda sofre com as queimadas que atingem o Pantanal brasileiro.

Diferente da maioria dos estudantes de ensino médio, o próprio clima da sua cidade é o que a atrapalha nos estudos. Quando chega a época do clima seco, chegam as queimadas e ela que sofre de rinite, é prejudicada, pois passa o período de junho a outubro sofrendo com crises alérgicas. “A fumaça e a folhagem queimada chegam até a minha casa, deixam o chão todo sujo e a fuligem ataca ainda mais minha alergia.”

“Teve certo dia que nem ligando o umidificador dava para respirar melhor. Como moro na zona rural, teve muita queimada perto de casa, e foi um desespero pelos bombeiros não chegaram em muitos lugares, já havia inúmeros chamados na cidade e é uma área de difícil acesso. Isso acaba afetando demais a minha saúde e os meus estudos.”

2020 em números

As queimadas do ano de 2020, tiveram como uma das principais causas, a grande seca que atinge os biomas das regiões amazônicas e pantaneiras no começo do segundo semestre de todos os anos, porém a maior causa para esses números terem sido tão expressivos e altos, está nos seres humanos. Dados de satélite do INPE revelam que a área desmatada na Amazônia chegou ao nível anual mais alto desde 2008, um total de 11.088 km² entre agosto de 2019 e julho de 2020. No mesmo período em 2008, o valor foi de 12.911 km².

Caroline Dreher engenheira ambiental formada pela Universidade Federal Fluminense do Rio de Janeiro, explica sobre esses dados, como funciona a coleta deles, os seus impactos ambientais e na nossa qualidade de vida:

“O desmatamento se próximo a áreas urbanas principalmente quando associado a pavimentação urbana pode causar problemas como enchentes nas ruas provocando alagamentos e destruição de casas. Na área de floresta, por exemplo, pode também causar extinção devido à perda de biodiversidade. Entre outros impactos não só ambientais, mas também como sociais, uma vez que muitas pessoas dependem de solo fértil para alimentação e disponibilidade de água para consumo. Além da dificuldade de locomoção e os riscos para a saúde dos humanos e dos animais.”

Marina Manes: Ano passado foi um ano em que a pauta do desmatamento no país esteve muito em alta. Em dados do INPE, vemos que 2020 foi o ano que mais teve alertas de incêndios desde 2015, quais as maiores causas para isso ter ocorrido que podemos identificar? A pandemia que vivemos pode ter tido alguma influência?

Caroline Dreher: “Creio que esse aumento nos alertas de incêndio possa ser devido à baixa de fiscalização, consequência pela falta de redimensionamento no quadro de pessoas trabalhando nos órgãos fiscalizadores (já tem um tempo que não abre concurso para o IBAMA), bem como sucateamento dos órgãos ambientais, que mal tem carro para trabalhar (como vi em relatos de pessoas que trabalham nesses órgãos, “quando tem carro disponível, não tem verba para combustível”).”

“Essa situação só se resolve se houver “vontade” por parte do governo e do próprio Ministério do Meio Ambiente. Talvez a pandemia tenha de fato potencializado isso a partir do momento que se voltaram os olhos da mídia e os recursos do governo para a minimização dessa crise, acaba que o meio ambiente fica em segundo plano. ”

Confira aqui a entrevista completa!

O ano de 2021

Registrando mais um recorde de desmatamento, os alertas de focos de queimadas na Amazônia Legal no mês de maio aumentaram em 49% em comparação a 2020, abrangendo uma área de 1.180 km². O número é ainda 34,5% superior a média história do mês e o maior desde o ano de 2004.

Greenpeace
Imagens de satélite registram focos de queimadas na Amazônia em maio de 2021

Os números já estão altos antes mesmo da chegada do inverno, quando o clima fica mais seco e ocorre mais queimadas naturais. É aconselhado mais que nunca, que tanto os moradores das regiões afetadas e próximas, quanto de regiões mais distantes, consumam bastante água e utilizem umidificadores para melhorar a qualidade do ar, para evitar a desidratação e problemas pulmonares.

Com as queimadas, há maior emissão de CO2, o que afeta o nosso sistema respiratório. Quanto mais próximo dos focos de queimadas, sintomas como dor de cabeça, fadiga e náuseas podem aparecer. Se apresentar algum desse sintomas, procure imediatamente um médico!

E lembre-se: segundo a lei nº 9.605/98, queimadas não naturais e provocadas por humanos são crime. Denuncie pelo telefone 0800 022 3660. A ligação é gratuita e o denunciante não precisa se identificar. O serviço funciona durante os sete dias da semana e 24 horas por dia.

Confira abaixo um pouco sobre a evolução da Legislação Ambiental brasileira:

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Marina Manes
Dados e Jornalismo
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Estudante de Jornalismo na Facha, cursando o sétimo período.