A “Demoficação” de Tudo

Daniel Romagnoli
Daniel Romagnoli
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4 min readAug 13, 2017

O medo do Cristianismo

Estava estudando algumas coisas sobre pós-modernidade (se é que isso realmente existe) e relendo as notas do meu TCC. Um termo que ficou reaparecendo com frequencia nas minhas notas foi o termo “demoficação”. Isso me levou a pensar e refletir sobre isso. Pensei “hmm isso daria um bom post!”… Então pensei em abordar isso aqui já que penso que seja interessante para todos nós.

O termo vem da ideia de que nós, os Cristãos, temos uma tendência de dar crédito ao demônio ou ao inimigo por tudo aquilo que nós não compreendemos, não aceitamos, ou do que vai contra “aquele que acredita em Deus”. Quando comecei a postar com muita frequencia aqui no Medium, enviava os links para amigos e colegas. Pessoal da igreja não acessava porque achavam que eu virei espirita (Medium… Médio…Mesa Branca… sacou?). Afinal, o filho do pastor (eu era naquela época) ta criando artigos em um site espirita, rs. Enfim… tudo é do capeta. É a tal de “costas largas do capeta” que meu pastor falava tanto a respeito. Ao olhar para a nossa história, como igreja cristã, temos de tempos em tempos feito isso.

Isso não é nada incomum. Um dos sentimentos mais fortes que podemos sentir e experimentar é o medo. O medo é um sentimento que é induzido perante algo que nos parece perigoso ou que pode nos machucar. Porém, recentemente psicólogos tem argumentado em “TED Talks” de que pode ser somente a falta de compreensão de algo ou o sentimento de não ter controle de uma situação. Há varias fobias (alguns argumentam que pode ser infinito) e por conta do medo passamos a ter outros sentimentos, como a ansiedade.

Apreendendo com a Historia

Vamos pensar historicamente… de forma bem simplória.

Uma das principais matrizes de poder da Europa era a Igreja. A força da Igreja não era somente para mover a fé das pessoas, mas havia força em orquestrar o cenário político. A Igreja estava ali para entronizar Reis e orientar os plebeus. (Se isso é abstrato para você, assiste a 6a temporada de Game of Thrones que você vai entender, rs)

Por outro lado, havia pensadores e progressistas. Filósofos não somente pensavam e refletiam sobre a vida, mas olhavam para a natureza de outra maneira. Com isso surge avanços medicinais e tecnológicos. Ora, se um extrato de planta pode sarar uma doença que está matando não sendo mais dependente da intermediação da Igreja (Clero que opera o milagre de Deus) então o poder passa para a Ciência. Nessa lógica, isso somente pode ser obra maligna. Com isso, surge as inquisições.

A Inquisição Romana (1543–1808) resultou em investigações contra Galileu Galilei, Giordano Bruno, entre outros. Com as inquisições contra cientistas, filósofos, médicos e outros pensadores, a Ciência progrediu lentamente. Em todo momento havia conflitos entre o progresso científico e a igreja. Esse regime de Censura Eclestiástica causou a degradação do avanço científico e tecnológico na Europa principalmente durante o século 16. O resultado disso não foi somente o impacto na ciência, mas limitou o desenvolvimento sócio-cultural. E assim, desacelerou a unificação da Itália.

Por um lado, temos historicamente a institucionalização (ou doutrinação) do medo em relação a avanços que provém da pesquisa e ciência. Por outro lado, sabemos que “o mundo jaz no maligno”. Então como ficamos?

Medo do cristianismo brasileiro

No Brasil vemos isso com muita clareza. De tempos em tempos recebemos via WhatsApp ou vemos no Facebook o Chip do Obama Care. A ideia de que um Chip que vai ser implantado na cabeça de todo mundo e que isso será o símbolo do Anticristo. Isso vem da fobia que a igreja teve quando foi lançado os primeiros cartões de créditos. Antes disso, quando começaram a utilizar códigos de barra centenas de sermões foram pregados avisando de que códigos seriam impressos na testa de todos. Uma das primeiras empresas no Brasil de venda de televisores era a empresa Elmer. A empresa Elmer vendia TVs com os pés embutidos. A TV era branca, de quatro pés e os pastores falavam que o Anticristo estava entrando na casa de todos. A TV passou a ser considerado o Cavalo Branco do Apocalipse. Quando surgiram os principais Tele-Evangelistas, sumiu esse papo… estranho né?

Sim, temos textos bíblicos que nos afirmam que existem sistemas no mundo que são malignos (João 12:31; 2 Corintios 4:4; Efésios 2:2; 6:12) e também que elas atuam contra a igreja e os santos (Efésios 2:1–3; 6:10–13; 1 Pedro 5:8; Tiago 4:7). Porém, percebo que é mais fácil aterrorizar os fieis e criar uma ideia de perseguição espiritual maligna invés de ensinar a sã doutrina.

Quando lemos o Novo Testamento, e principalmente as cartas do NT, a ênfase não está no “Capeta” e “as forças malignas que estão querendo sempre nos destruir”, a ênfase está em Cristo, a obra Dele, e a comunhão com Ele. Apesar de reconhecer que existem sistemas (independente quais são), somos ensinados a focar em um relacionamento pessoal com Jesus, e crescer na maturidade na fé.

Em resumo, nem tudo é do inimigo.

Eu convido você a olhar para os avanços da tecnologia como uma oportunidade. Use elas para propagar o Reino invés de demoficar e dizer que tudo é do Reino das Trevas.

Agora é sua vez. O que você pensa? Será que tudo é do capeta, ou será que exageramos porque não conhecemos a fundo os avanços que estão acontecendo ao nosso redor? Quero saber a sua opinião!

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