O poder do Clero e a ignorância do Povo.

Daniel Romagnoli
Daniel Romagnoli
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3 min readAug 4, 2017

Quando você mantém o povo ignorante, você mantém seu poder.

Isso tem sido algo que tenho refletido muito nos últimos dias. Há quase 500 anos passamos pela Reforma Protestante. Entre muito daquilo que foi contestado, uma delas (que hoje acredito que é o mais importante para a nossa caminhada) era o livre acesso e entendimento a Bíblia.

Antes de Lutero, Calvino e outros, a Igreja Católica usava exclusivamente o latim como língua oficial de culto. Como o povo comum não compreendia ou falava latim (com raras excessões), toda a compreensão do texto bíblico era mediada por meio do clero. Os padres liam e interpretavam os ensinos. Percebemos ao decorrer da história, até a reforma, a adoção de práticas pagãs no culto. Além disso, o clero era incontestado pois somente eles eram “detentores da palavra” (já viu isso algum lugar? rs).

Com a Reforma, os reformadores passaram a traduzir a Bíblia na linguagem do povo, dando livre acesso a leitura e interpretação, e assim disseminando o conhecimento.

Iniciei esse post falando que “quando voce mantém o povo ignorante você mantém o seu poder” e realmente acredito nisso. Quando analisamos estruturas sócio-políticos de autoritarismo, percebemos que uma das principais ferramentas para manter o poder centralizado é limitar o acesso ao conhecimento. Coreia do Norte e Rússia são exemplos claros de pedágios digitais e bloqueios totais as principais fontes de jornalismo mundial. Além do bloqueio ao conhecimento, sua ação político é agressivo, estruturando meios para manter o medo como um fim controlador.

Vejo que isso não é nada diferente quando pensamos sobre as igrejas modernas.

Antes de tudo, eu acredito na igreja local e acredito que o pastoreio é efetivo para a maturidade na fé.

Porém, quando ouço “a letra mata mas o espirito vivifica”, quando ouço que “nosso culto não pode ser racional”, quando ouço que “racionalizar a fé é religiosidade”, vejo figuras públicas com medo de perder seus tronos e o seu poder. Utilizam de ritos e profecias do Antigo Testamento para subjugar o povo assim como implementam em seus cultos símbolos judaicos, gregos e germânicos. Falam sobre um amor libertador e liberdade espiritual porém, são mais religiosos do que seus “irmãos” tradicionais de origem histórica.

Quanto “a letra mata” de 2 Coríntios 3:6, Paulo está falando sobre as Leis do Antigo Testamento e a suficiência de Cristo para nos salvar. A “letra” representa o “ministério da morte, gravado com letras de pedras” que foi dado por meio de Moisés. Hoje, o “espirito” representa a nova aliança em Cristo, revelado por meio do Espirito, escrito no nosso coração (3:3–8). Quando usamos esse texto fora do contexto, entendemos que “estudar” significa “matar o espirito”. Acredito em manifestações espirituais, nas manifestações dos dons/talentos e em coisas incompreensíveis. Sou convicto de que o Deus infinito age além da minha compreensão finito. Porém, nem tudo que reluz é ouro. Um anjo de luz nem sempre é anjo de Luz. Cristo mesmo disse que no fim muitos diram “eu fiz isso, e essas maravilhas” e Ele não os reconhecerão. A própria Bíblia diz para provar as profecias mas quando fazemos isso na igreja, somos rebeldes, insensatos e faltando espiritualidade.

No mesmo capítulo de 2 Cor. 3 Paulo deixa muito claro a importância da palavra revelada, o valor dessa palavra, que é verdade, e que é o conhecimento da Glória de Deus (4:6) que traz liberdade, e que nos transforma… engraçado que basta ler um pouco que tudo muda.

Hoje, somos incentivados, por aqueles em “poder”, a ir contra a própria palavra, a sermos irracionais, como aqueles da igreja de Corinto. Não tenho como não questionar: tudo isso para manter o poder? Tudo isso para não receber nenhuma forma de repreensão? Tudo isso somente para mostrar quanto eu realizo obras extraordinárias?

No fim, não há como escapar. Independente se você é pastor, apóstolo, bispo, novo na fé, líder de célula, ministro, ou qualquer outro título, não há escapatórias. Como diz Romanos 1, todos nós somos indesculpáveis. Não existe “tempo de ignorância” totalmente livre. Todos nós hoje temos acesso a Bíblia e a Deus.

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