[13] A primeira gravidez.

Daniela Reis
Bela flor
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3 min readOct 30, 2017

No trabalho, tudo ia bem, eu finalmente havia encontrado uma empresa que tinha um clima interno agradável, acolhedor e nada hostil. Estava em dificuldades financeiras, mas com uma proposta de retomada dos resultados comandada por seus acionistas, que contrataram um profissional engajador e competente — era esse o amigo do meu pai -, que chamou para si a liderança e a inspiração dos funcionários para reverter o quadro.

No processo de entrevistas, eu havia me identificado muito com o diretor de marketing, um sujeito simpático e sempre cheio de histórias para contar. Eu tinha certeza que ele havia gostado de mim também.

Aconteceu que, apenas um mês depois de começar a trabalhar, descobri que estava grávida. Eu havia tomado remédios muito fortes por causa da dormência no corpo, e por isso, não vinha tomando anticoncepcional.

A notícia da gravidez foi recebida com um misto de emoções. Por um lado, estava feliz por estar grávida, apaixonada e tinha mil fantasias a respeito de família e felicidade. E que agora se tornariam realidade. Por outro, estava preocupada e com medo, pois além de estar recém-admitida e feliz no novo emprego, eu tinha a carreira como o grande objetivo de vida. Como seria dar a notícia na empresa?

Realmente, não foi fácil. Havia em mim um julgamento muito grande a meu próprio respeito e uma preocupação constante com o que as pessoas iriam pensar. Eu era indicada do presidente da empresa e a simples ideia de que pudessem pensar que eu havia me aproveitado da situação para engravidar, era uma tortura para mim. E também havia uma outra coisa. Eu estava há tempo insuficiente para comprovar que, apesar de ser indicada pelo presidente, eu era, sim, competente.

Para completar, aquele mesmo diretor de marketing disse a frase que viria a ter um efeito muito importante na forma como eu me relacionaria com a maternidade e com a carreira dali por diante. Por um machismo inconsciente para ele e para mim, assim ele recebeu a notícia da gravidez: “que pena, se não tivesse engravidado, você teria uma carreira brilhante pela frente”.

Essa frase me afetou profundamente. Talvez eu devesse ter me indignado ao ouvi-la, mas, na verdade, senti medo. Só eu sabia o esforço e os sacrifícios que tinha feito até ali. Eu não poderia colocar em risco o meu futuro profissional, a carreira brilhante que ele, eu e todos viam à minha frente. Eu me senti muito mal, humilhada.

E foi então que, naquele momento, decidi internamente que iria provar para ele e para quem mais tivesse alguma dúvida, que a maternidade não atrapalharia a minha carreira. Eu iria trabalhar mais do que qualquer outro e mostrar resultados, de forma que não gerasse nenhum questionamento a respeito da minha competência e comprometimento.

E trabalhei, trabalhei muito durante a gravidez. Eu não vinha me sentindo muito bem, a pressão sempre muito baixa, os enjôos… Mas não esmorecia. Cheguei a ficar em casa umas duas ou três vezes durante os nove meses, quando o mal estar era maior do que a minha disposição para provar a minha capacidade, mas não me deixava abalar. Eu queria trabalhar até o último dia para aproveitar ao máximo o tempo com a minha filha.

Sim, era uma menina.

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