[06] A decisão de partir.

Daniela Reis
Bela flor
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2 min readFeb 25, 2017

No banco, como escriturária, eu assumia informalmente cada vez mais funções que exigiam responsabilidades além do meu cargo. Eu me envaidecia e meu pai se preocupava, como se já pudesse perceber que eu estava me deixando levar pelo status que tais funções me conferiam. Era ele quem me alertava que para a instituição, eu era apenas um número, e que era substituível. Eu preferia acreditar que não, que tudo aquilo era um esforço que seria recompensado. E de certa forma, foi.

Fui promovida a caixa da agência e ainda assim continuava desempenhando outras funções. Como assistente informal do gerente, sentava-me ao seu lado, em posição destacada na agência. Numa cidade pequena, isso me diferenciava.

E foi assim, encantada por essas pequenas doses de poder, que comecei a pensar que talvez aquela cidade fosse pequena para mim. Eu queria mais.

Terminei a faculdade e tomei a decisão que mudaria o rumo da minha história.

Ainda que eu não tivesse a menor ideia do que faria com o curso de Matemática — e também por total falta de conhecimento das trilhas alternativas — procurei a Universidade Federal de Minas Gerais e me inscrevi para o Mestrado em Matemática. Fui convidada pelo coordenador para uma conversa e acredito que ele tenha percebido de imediato que eu não tinha perfil para aquilo e nem ao menos sabia exatamente o que era e para quê servia um mestrado. Ainda assim, talvez pela determinação de alguém que havia cursado uma faculdade de duvidosa qualidade no interior, me ofereceu a possibilidade de cursar algumas disciplinas adaptativas para, se fosse realmente o caso, iniciar o mestrado no semestre seguinte.

Só faltava conseguir a transferência do trabalho, o que não foi difícil, graças à ajuda e alguma influência dos colegas da agência, que acreditavam tanto quanto eu no meu potencial.

Lá fui eu para a agência Silviano Brandão, que ficava a uma quadra de onde eu iria morar, pessoalmente recomendada pelo gerente da minha agência de origem, que passou a mão no telefone para compartilhar com a gerente administrativa as qualidades da pessoa que ela iria receber.

Eu estava plenamente feliz, sem sequer imaginar o que a vida me aguardava, os desafios que viriam pela frente.

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