[07] A despedida.

Daniela Reis
Bela flor
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1 min readFeb 25, 2017

Partimos de Lambari numa madrugada de inverno. A neblina que cobria a cidade tornava tudo ainda mais cinza e triste. Eu não poderia imaginar que o processo de arrumar as malas, as despedidas, ver a tristeza da minha mãe, fossem ter um efeito tão devastador sobre mim. Meu pai, que certamente cresceu ouvindo que homem não chora — e por isso talvez tenha derramado tão poucas lágrimas na nossa frente, a vida toda — , naquele dia, chorou.

A minha bagagem se resumia às minhas roupas, um sofá-cama desmontável que eu havia comprado com o dinheiro das férias, um CD player, trazido por uma amiga que vendia moambas do Paraguai, e cinco CDs. Um deles era o clássico The Wall.

Em Belo Horizonte, fui recebida pelas três meninas que já moravam no apartamento. Uma delas, cuja mãe era a dona do apartamento e amiga da minha mãe, era da mesma cidade que eu. Elas já moravam longe da família e já estavam acostumadas à dor da saudade, o que me levou a concluir que o melhor lugar para as minhas lágrimas eram o banheiro, debaixo do chuveiro. Era ali que eu transbordava a minha saudade de casa.

Não demorei a perceber que o salário de caixa de banco, que em Lambari era adequado para uma pessoa solteira, sem filhos e que morava com os pais, em Belo Horizonte não seria suficiente nem mesmo para as ligações interurbanas que passei a fazer diariamente para a minha mãe. Eu estava sofrendo.

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