[09] Entre dores, a alegria.

Daniela Reis
Bela flor
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3 min readFeb 25, 2017

O ano era mil novecentos e noventa e quatro. Eu tinha vinte e dois anos, uma dívida, muitas frustrações não reconhecidas e, provavelmente, uma depressão. Comecei a chorar mais do que o normal e a me sentir muito desanimada. Mas a minha imagem era um sucesso. Ninguém, nem mesmo minha mãe, poderia imaginar tudo o que se passava comigo.

Nesse momento, surgiu o concurso interno para gerente. Me agarrei a essa oportunidade como se pudesse ser salva por um novo cargo e um salário maior. Passei na prova e, para minha decepção, fui reprovada na avaliação do perfil. Eu não conseguia entender como poderia não ter perfil para ser gerente! E o meu potencial, que todos sempre enalteciam? Minhas qualidades de relacionamento? Nem mesmo a experiência que tinha tido como assistente informal do gerente da agência de Lambari havia somado a meu favor. Fiquei ainda pior.

Felizmente eu tive o impulso de procurar ajuda. Encontrei uma psicóloga que atendia pelo convênio do banco e comecei a me cuidar. Foi pelas mãos da Maria Amelia que fui conduzida pela primeira vez para a Cromoterapia e os Florais de Bach.

Justiça seja feita, não foi somente a psicóloga quem me ajudou a passar por essa etapa. Eu estava namorando uma pessoa que me inseriu em seus programas familiares de domingo.

E assim, com psicóloga, namorado, sogra, sogro e um lugar para ir no fim de semana, fui atravessando a fronteira da minha dor, testando os meus próprios limites e levando ao máximo a minha vontade de não desistir. Por pura vergonha do que eu julgava que seria um fracasso. Eu podia conviver com qualquer dor, mas por alguma razão, não conseguia conviver com o que entendia por fracasso.

Apesar de uma superficial melhora na minha vida, a relação com o dinheiro continuava tensa. Eu talvez utilizasse a necessidade de ter mais dinheiro como um gatilho para as conquistas que eu achava que precisava alcançar.

Um dia, passando pelo edifício central do banco em que trabalhava, tive a ideia de procurar a área de treinamento. Afinal, eu era formada em Matemática e estava fazendo uma pós-graduação em Administração Financeira… Fui recebida pela equipe de treinamento e deixei meu nome, se um dia precisassem de alguém, poderiam contar comigo.

Na véspera do Carnaval, recebo uma ligação na agência. Por uma daquelas maravilhosas sincronicidades, o curso de capacitação dos novos gerentes iria começar em poucos dias. E o superintendente do Rio de Janeiro, que seria o instrutor de matemática financeira, não poderia assumir a turma por outros compromissos de trabalho. E assim eu fui convidada a substitui-lo! Era felicidade demais! Eu seria instrutora para a primeira turma de gerentes!

Depois de aceito o desafio é que me dei conta de que não dominava todo o conteúdo, mas corri atrás. Passei o Carnaval estudando e no domingo seguinte, junto com o coordenador do curso, uma pessoa incrível que me apoiou nessa aventura, eu embarcava no aeroporto de Confins para aquela que seria não apenas a minha primeira experiência à frente de uma sala de aula de adultos, mas também a primeira viagem de avião.

Apesar das minhas notáveis deficiências no conteúdo, consegui me sair bem na didática e assegurei a segunda semana de aula, para uma outra turma de gerentes. Eu estava no céu. Longe da agência, contratada pelo próprio banco, ganhando valores adicionais pelo treinamento, hospedada em um hotel à beira-mar, no Rio de Janeiro, e, principalmente, distante das críticas e da tortura da Renilde.

Os meses seguintes foram uma sucessão de cursos. O banco tinha um centro de treinamento em Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte, onde treinei todos os novos gerentes, aprovados no concurso onde, por ironia do destino, eu mesma havia sido reprovada. Nesse período, resolvi meu problema financeiro e fui além, comprei o meu primeiro computador pessoal, um 286.

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