Mulheres, dados e o vórtice da desigualdade na política

Amanda Scarpin
Data Hackers
Published in
7 min readAug 31, 2020

Você já se perguntou sobre às quantas anda a participação política das mulheres no mundo?

O World Bank divulgou dados sobre a desigualdade de gênero na política, mostrando a proporção de cadeiras parlamentares ocupadas por mulheres no mundo todo de 1997 até 2019. Me interessei em explorar esses números assim que vi o tema.

Nesse artigo, pretendo explicar o processo que segui para construir uma visualização de dados sobre o assunto, da preparação dos dados até a criação da visualização — e quais foram as informações interessantes que encontrei.

Preparando o terreno

Os dados fornecidos pelo World Bank já vieram estruturados e prontos para serem explorados, mais ou menos dessa forma:

Fonte: World Bank

Ainda assim, dediquei um tempinho na preparação dos dados para fazer um cruzamento de dados da base do World Bank com uma base de nome de países e continentes para facilitar os meus filtros por regiões.

Vale destacar que, apesar de ter sido simples nesse caso por se tratar de uma base de dados estruturada, a etapa de preparação dos dados é essencial, crucial, fulcral para qualquer projeto de análise de dados. E o motivo é tão simples quanto importante: se o dado entrar errado, a informação vai sair errada. É preciso sempre garantir que os números estão corretos e que, dessa forma, será entregue uma análise válida e realista.

O que os dados tem a me dizer?

Com dados preparados, iniciei a análise fazendo uma exploração dos dados com a intenção de extrair informações dos números e entender a relevância delas. Tornar os dados relevantes e próximos de problemas com os quais as pessoas se preocupam é uma das etapas mais complexas de acertar.

É possível seguir inúmeras linhas de raciocínio ao explorar dados. Nessa base é possível explorar as informações sobre a proporção de cadeiras parlamentares por região, por ano, por aumento ou diminuição dessa proporção, olhar apenas para um país ou para todos juntos… Não existe um certo ou errado, o importante é que seja definido um objetivo claro para dar um direcionamento para a análise.

Aqui, foquei em entender se a participação das mulheres na política é representativa, se tem progredido e quais países se destacam no cenário mundial.

Construindo a narrativa

Abri o meu objetivo em quatro perguntas:

  1. Quanto a participação feminina na política representa no mundo?
  2. Quais países tem mais mulheres no poder? E menos?
  3. Como está a situação atual dos países?
  4. Como a participação tem evoluído ao longo dos anos?

A partir dessas perguntas, pude criar uma narrativa para a minha visualização. E é aqui que chegamos na melhor parte: os números contam histórias.

Para extrair informações a partir dos dados, eles precisam se tonar tangíveis. Contar uma história com os dados é a maneira mais direta de fazer isso.

E para contar essa história, vamos às perguntas:

Quanto a participação feminina na política representa no mundo?

Ao explorar os dados, encontrei que a participação política é 24,6%, ou seja, menos de 1/4 das cadeiras parlamentares do mundo são ocupadas por mulheres. No entanto, em 1997 essa participação era de 11,3%, o que quer dizer que melhoramos, mas a passos lentos. Minha visualização começa falando sobre isso através de um texto e um gráfico de linhas.

Cenário mundial consolidado, com texto e gráfico de linhas explicativos

Enquanto a proporção de cadeiras parlamentares ocupadas por mulheres aumentou nos últimos 22 anos, mulheres continuam sub-representadas: elas são menos de 25% no cenário político mundial

Quais países tem mais mulheres no poder? E menos?

Pegando os dados mais recentes de 2019, descobri que 23 países ainda tem uma representatividade menor que 10%, o que considerei algo bem baixo. Usei um gráfico de barras para mostrar esses países e facilitar a comparação eles. Me chamou atenção o Japão aparecer nessa lista, então trouxe um destaque para essa informação no título do gráfico.

Países com menor representatividade em um gráfico de barras, ordenado do menor ao maior

Em 2019, mais de 20 países ainda estão abaixo de 10% no número de mulheres em parlamentos nacionais — Japão é o único país do G20 nessa lista.

Olhando para o outro extremo da lista, encontrei que 12 países caminham para 50% de representatividade, já apresentando mais de 45%. Novamente, trouxe uma lista desses países utilizando um gráfico de barras e suas porcentagens atuais.

Países com maior representatividade em um gráfico de barras, ordenado do maior ao menor

… no entanto, 12 países alcançaram mais de 45% de cadeiras ocupadas por mulheres.

Ruanda tem impressionantes 61% de representatividade feminina na política. Pesquisei mais sobre o contexto do país e descobri uma história incrível por trás desse número. Ruanda deixou de ser uma nação que tratava as mulheres como propriedade, cuja função principal era ter filhos, para se tornar um país que determina constitucionalmente que pelo menos 30% dos cargos governamentais sejam ocupados por mulheres. Desde 2003, Ruanda tem tido a maior representação feminina de parlamentares do mundo. Dei destaque a essa informação abaixo do gráfico anterior.

Texto sobre Ruanda ter a maior representatividade do mundo

Em 2003, Ruana introduziu uma política para garantir um mínimo de 30% de mulheres no parlamento. Em 2019, as mulheres ocuparam 61,3% das cadeiras, o maior número no mundo.

Imagem: Governo Ruandês

Como está a situação atual dos países?

Após mostrar o contexto geral no mundo e destacar os melhores e piores países em relação a representatividade feminina, pensei criar algo que permitisse enxergar e comparar todos os países, mas sem causar poluição visual — o que pode ser relativamente desafiador quando se tem informações de todos os países do mundo e não quer usar um mapa (ele terá uma aplicação melhor mais adiante).

Depois de vários testes, criei o Vórtice da Desigualdade.

O vórtice da desigualdade reunindo todos os países numa espécia de furacão

O Vórtex da Desigualdade: você sabe a proporção atual de cadeiras parlamentares ocupadas por mulheres no seu país? Use o campo de pesquisa ao lado para fazer a pesquisa.

O vórtice da desigualdade é uma espécie de furacão que posiciona mais ao centro os países que tem uma representatividade feminina menor e, conforme a representatividade feminina aumenta, os países vão “saindo” do olho do furacão. Através da variação das cores e do tamanho dos bolhas, essa visualização também nos mostra como grande parte dos países ainda tem pouca representatividade.

O campo de pesquisa que citei no título é uma funcionalidade do software que utilizei, o Tableau, para destacar alguma informação. Aqui podemos procurar por qualquer país: onde fica Brasil nesse furacão?

Pesquisando sobre o Brasil, encontramos os nossos míseros 15,01% de representatividade feminina em 2019.

O Brasil no vórtice da desigualdade

Como a participação tem evoluído ao longo dos anos?

Para responder a última pergunta, coloquei um mapa (agora sim) onde é possível variar os anos e ver o quanto a participação feminina evoluiu no mundo desde 1997.

Mapa com as proporções por países ao longo dos anos

Navegue entre os anos e veja como o mundo mudou desde 1997

Demonstração do mapa com as proporções por países ao longo dos anos

Focando nas diferenças

Para facilitar o entendimento das informações, o principal elemento que utilizei para destacar as diferenças foram as cores. O dashboard segue uma lógica de deixar laranja escuro o que representa um número baixo, clarear conforme ele melhora e começar se tornar roxo quando passa a proporção de 40%. Deixei uma legenda de cores no canto superior para ficar claro quais proporções as cores comunicam.

Legenda do dashboard

Sou uma grande entusiasta do uso estratégico das cores, dos formatos e todas as possibilidades que o design oferece na visualização de dados, apesar de ainda ser bem iniciante e saber pouco sobre o assunto.

Fonte: 9gag

Deixo como registro final que pretendo evoluir nesse tema e compartilhar criações cada vez mais legais por aqui!

Et voilà!

Com um objetivo claro e perguntas bem definidas, usando gráficos relativamente comuns com cores estratégicas, cheguei na visualização “Women in Power”, ou “Mulheres no Poder”, que nos ajuda a enxergar e compreender alguns pontos importantes sobre a representatividade feminina na política.

O dashboard completo está nesse link, ou na minha página do Tableau Public. Desde que postei, notei oportunidades de melhoria. Se você também tiver sugestões ou comentários sobre essa visualização, compartilha comigo! Eu vou adorar saber.

Assim, seguimos buscando a melhor forma de contar as histórias por trás dos números.

Vamos conversar mais?

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Amanda Scarpin
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