Impressões sobre o CODA-BR — 1ª Conferência Brasileira de Jornalismo de Dados

Silvana Marcelina
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5 min readJun 23, 2016

No dia 21 de maio aconteceu em São Paulo a 1ª Conferência Brasileira de Jornalismo de Dados, uma iniciativa da Escola de Dados para estreitar diálogos e compartilhar conhecimento e experiências na perspectiva do trabalho guiado por dados. É claro que nós do Data Labe embarcamos nessa!

A CODA-BR trouxe para a mesa o debate sobre dados digitais e acesso à informação e também sobre dados digitais, vazamentos e privacidade. Além de workshops para apresentar algumas ferramentas para uso com dados e uma mesa no estilo “Lightining talks” (pequenas apresentações de caso) para apresentar algumas experiências interessantes de jornalismo de dados no Brasil e na América Latina. Nossa galera se espalhou na CODA-BR para extrair e compartilhar ao máximo desse encontro.

Um lugar, muitas trocas

Pequenos passos rumo a segurança, por Fernanda Távora.

Participar do CODA-BR foi como ver que o resultado de toda essa pesquisa inicial que nós aqui do Data Labe estamos fazendo para os nossos projetos pode ser recompensador. Os workshops, que nos mostraram novas ferramentas, as palestras, que nos trouxeram mais informações para se pensar, e a apresentação de projetos concluídos, que nos deram mais vontade ainda de concluir nosso trabalho, nos fizeram enxergar que mergulhar em meio aos dados é apenas o início de um trabalho que pode sim mudar muita coisa em nossa realidade.

Temas como segurança e a vigilância on-line foram pontos que nortearam muitas discussões na conferência, além de ser o tema que abordo na minha pesquisa aqui no Data Labe. Na palestra Security for journalists (segurança para jornalistas, em tradução livre), Vadym Hudyma, ativista de dados abertos e residente da Escola de dados, explicou como se proteger da vigilância na internet pode fazer parte do dia-a-dia. Pouca gente pensa nisso, mas os aparelhos celulares estão tão sujeitos a ataque quantos os computadores e laptops tradicionais. Um dos exemplos é que aqui no Brasil, as classes C e D são as que mais acessam a internet pelo celular, como mostra uma pesquisa de 2015, do governo federal .

Com pequenas dicas durante a palestra, Hudyma falou, por exemplo, de como medidas simples, como instalar um antivírus no celular, podem prevenir esses ataques. Além disso, priorizar senhas numéricas ao invés dos desenhos na tela inicial, baixar aplicativos de fontes confiáveis e manter as atualizações do sistema também são passos simples para garantir o mínimo de segurança. Apesar da limitação da língua — a palestra foi toda dada em inglês — foi possível entender que pensar em segurança dos dados na internet não é algo tão distante da nossa realidade.

“Dispositivos móveis também merecem nosso amor”: Vady Hudyma, jornalista ativista pró-dados abertos, resume os cuidados com a segurança dos celulares.

A troca de experiências é sempre importante, por Eloi Leones.

Foi muito legal ter participado e ter entrado em contato com pessoas que fazem o mesmo que nós aqui no Data Labe. É sempre interessante ver outros pontos de vista e até aprender ferramentas novas que abrem o leque de possibilidades para as visualizações.

O que mais gostei foram os Lightining talks, foi incrível ver as aplicações do jornalismo de dados em outros países e saber que a possibilidade de nós podermos analisar os dados podem realmente trazer mudanças. Mais interessante que isso foi ver como a falta de dados reforça uma invisibilização de alguns grupos da sociedade, como mostrou a Daniela Flor, que fez uma série de matérias para o Huffpost sobre LGBTfobia no Brasil e na falta de informações conseguiu uma saída: produzir os próprios dados. Daniela falou um pouco sobre os desafios de se produzir uma matéria sobre o tema com dados oficiais, caso que tem uma referência direta com minha pesquisa aqui no Data Labe. Na minha pesquisa sobre pessoas transgênero, eu questiono esta falta de dados — falarei mais em um texto futuro.

Jornalismo de dados para todos, por Paloma Calado.

Experiência ímpar, troca de saberes e altos aprendizados. As oficinas ensinando a manipular novas ferramentas foram incríveis, em especial a oficina que apresentou o Gephi (software de visualização de dados de redes sociais). Lindo de se ver a computação totalmente atrelada ao jornalismo. Particularmente, foi confortante saber das experiências de outros colegas de trabalho em suas pesquisas. Saber que o Jornalismo de Dados não é um mar de rosas, e é justamente isso que faz com que a satisfação final com os resultados seja enorme.

O lado negativo foi o curto tempo, porém nos deixou com o anseio de aprender mais. O evento foi aberto, bastava efetuar a inscrição. Contudo, senti falta da apropriação dos próprios brasileiros, o interesse em jornalismo de dados não tem sido o foco dos profissionais em geral. Grande parte dos participantes eram de outros países, por consequência a maior parte do CODA, excluindo alguns workshops, foi ministrada em Inglês. O jornalismo de dados precisa ser mais disseminado, pois é uma ferramenta que sabemos tão pouco como manusear ou nos apropriar.

O exercício da prática, por Fábio Silva.

Foi super gratificante e educativo participar do CODA-BR, pois nos permitiu observar, através da prática, como os dados vêm sendo trabalhados em vários lugares do mundo. Seja por sua visualização, análise, armazenamento, ou, até mesmo, pela restrição e acesso aos dados em diferentes países, variando de governo para governo. Os exemplos de restrições aos dados de fontes públicas nos levam a uma reflexão sobre a importância de continuar militando em prol da lei de acesso à informação.

A oportunidade de aprender diferentes formas de visualizações dos resultados e como elas interferem e se relacionam com a análise e na construção de suas narrativas, também foi um dos pontos altos do congresso. A experiência acabou proporcionando um novo rumo para a minha pesquisa, possibilitando um estudo mais embasado e aprofundado de dados extraídos a partir de redes sociais. Assim, meu trabalho consiste em mensurar percepções nas redes sociais e elencar editoriais de jornais impressos sobre a Baixada Fluminense através da ferramenta do Gephi, um software livre colaborativo que possibilita a manipulação de dados espaciais e textuais e uma representação visual gráfica mais dinâmica.

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Silvana Marcelina
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Mulher, negra e fluminense. Curadora, educadora e experimentalista em artes visuais. Interessada em macro e micro políticas, reflexão, crítica e afetos. ; )