Por novos modelos de jornalismo

Um dia de trocas e questionamentos sobre comunicação em tempos de golpe

Gilberto Vieira
data_labe
4 min readAug 17, 2017

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A primeira notícia é que temos novxs parceirxs. Foi num encontro rápido e intenso há menos de um mês que nós conhecemos a Amanda Rahra da Énois — uma agência escola de jornalismo que quer discutir e experimentar o futuro do jornalismo. O rolê é composto por um núcleo de jovens de diferentes áreas do conhecimento e também da cidade de São Paulo — principalmente das periferias — que estão pensando pautas, produzindo reportagens, prototipando formatos e construindo ferramentas que ajudam a refletir sobre a existência e as formas de financiamento do jornalismo para os próximos anos. É bem o que estamos fazendo do lado de cá. :)

No último sábado, 12 de agosto, nós estivemos juntos em São Paulo para discutir modelos de negócio para o jornalismo. Estavam presentes mais de 30 iniciativas de comunicação que estão pensando em saídas para a crise estrutural pela qual passa o jornalismo nesse Brasil em tempos de golpe.

divulgação do workshop e convidados

Além dos convidados que apresentaram suas ideias bem sucedidas de jornalismo do ~futuro~ o evento contou com gente como nós, que ainda passam por esse processo de descoberta de alternativas de sobrevivência no campo da comunicação. Ninguém trouxe respostas. Nós passamos um dia intenso levantando questões, complexificando nossas práticas, organizando nossos saberes e desafios. Eu listei aqui um tanto para pensarmos juntxs:

  • Como medir relevância para além dos cliques nesses tempos em que os jornalistas não são mais os representantes do “mercado da informação”? E se um like valesse um real?
  • Como nos livrar desse modelo de medição de escala? Como identificar nossa escala ideal?
  • É preciso saber empreender. Fato. Como então desenhar modelos que caibam em nosso perfil de criadores de conteúdo?
  • Bora pensar em outras mil formas de receita para além dos nossos conteúdos?
  • Como assimilar designers, programadores e gestores para nossos negócios jornalísticos?
  • Como viabilizar projetos essencialmente sociais que pouco dialogam com marcas e corporações?
  • Como disputar um mercado jornalístico ainda tão racista e sexista?
  • Como nos formar sem ter de esperar das universidades ainda inacessíveis e seus currículos tão defasados?
a programação

Foi uma troca intensa. E claro, as iniciativas de favela que estavam lá me deram orgulho e gás pra seguir. É muito bom saber que não estamos sós e que já não há como fazer jornalismo no Brasil sem considerar os comunicadores periféricos, sem participação popular, sem diversidade. As nossas pautas só serão importantes quando elas estiverem representadas por nós mesmos no campo amplo da comunicação. Quantxs pretxs ocupam cadeiras nos grandes jornais? Quantos sujeitos periféricos estão matriculados nos renomados cursos de Comunicação Social? Como garantir espaço e visibilidade na onda conservadora pela qual passamos?

Quem levanta a questão é um bonde pesado que olha para o mercado, para a universidade, para os modelos de negócio instituídos e que refaz, ressignifica e disputa:

Nós Mulheres da Periferia, um coletivo formado por oito jornalistas e uma designer, todas moradoras de bairros da periferia do município de São Paulo.

Migra Mundo, no ar desde 2012, é um espaço para abordar e debater as múltiplas facetas que permeiam as migrações no Brasil e no mundo. Lá tem tanto notícias e relatos sobre problemas vividos pelos migrantes dentro e fora do país como avanços e reconhecimentos obtidos na questão migratória.

Mural é aquele blog hospedado na Folha de S. Paulo escrito por correspondentes comunitários — em sua maioria estudantes ou já formados em jornalismo, mas, sobretudo, interessados em contar o que se passa na região em que moram, na periferia da Grande SP.

Vozes da Vila Prudente, um jornal impresso com notícias mensais da Vila Prudente, Zona Leste de São Paulo.

Capão News, uma página no Facebook de notícias quentes sobre o Capão Redondo.

Prato Firmeza: o guia gastronômico das quebradas, um serviço pra quem come e empreende na periferia, mas também uma vitrine da cidade que pulsa para além do centro.

Jajá vem novidades das parcerias que estamos inventando. Juntos somos bem mais fortes nessa disputa ideológica, política e estética que é o jornalismo.

o bondão que participou desse dia mara (disfarça os cabelo e barba desgrenhadxs)

O workshop foi realizado em parceria pela Énois, Insper, ONG Palavra Aberta e Online News Association (ONA).

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Gilberto Vieira
data_labe

Co-fundador do @data_labe, organização de mídia e pesquisa sobre favelas e periferias.