Por que o parto humanizado ainda está distante das mulheres pretas cariocas?

Elena Wesley
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Antes de nos encantar com a leveza do clipe “Bom mesmo é estar debaixo d’água”, no qual dança com Dayo ainda no ventre, a cantora Luedji Luna compartilhou nas redes sociais sua apreensão por estar grávida durante a pandemia. Como estava o atendimento nos hospitais em meio ao enfrentamento da covid-19? Como ficaram as atividades de pré-natal? Afinal, grávidas se encaixam ou não no grupo de risco? Estes eram alguns dos questionamentos da compositora baiana e de tantas outras mamães brasileiras.

Após o parto, Luedji publicou um depoimento sobre como a construção racista de que mulheres negras são mais fortes e suportam mais a dor contribui para que sejamos as principais vítimas de violência obstétrica no país e ressaltou que a proposta do parto humanizado pode mudar esse cenário. A partir daí começamos a nos questionar: se a Política Nacional de Saúde da População Negra existe para frear o racismo institucional que violenta gestantes negras no sistema público de saúde, como se dá o acesso dessas mulheres ao parto humanizado no Rio de Janeiro?

Coube ao nosso incrível coordenador de dados Paulo Motta — Polinho para as best friends — checar o que os números nos dizem sobre isso. De acordo com os registros de partos do Sistema de Informação de Nascidos Vivos, entre 2014 e 2018 o acesso de mulheres de baixa renda ou pretas ao parto humanizado na capital fluminense oscilou ao invés de aumentar progressivamente, que é o que se espera quando uma política pública é implementada. Além disso, caiu o número de gestantes mais jovens ou cujas mães têm até sete anos de escolaridade atendidas por esse modelo.

Ao analisar especificamente os partos realizados na rede pública entre janeiro de 2019 e junho de 2020, percebemos que as mulheres pretas representam apenas 16% das gestantes atendidas pela Casa de Parto David Capistrano, único equipamento público que oferece o serviço humanizado no Rio de Janeiro. Já na Rede Cegonha, que é o serviço tradicional do SUS, elas chegam a quase trinta por cento. A lógica se inverte quando verificamos os partos de mulheres brancas: elas são 14% na Rede Cegonha, mas ultrapassam 36% na Casa de Parto.

Novas perguntas surgiram, então: Por que as mulheres pretas não têm representatividade entre as assistidas no parto humanizado? Quais fatores são responsáveis por esse cenário? O que é necessário para a expansão do acesso ao parto humanizado? Quais os entraves? Quem tem lutado por isso?

Quer saber o que a gente descobriu? Confira em Parto das Pretas.

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Elena Wesley
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Nenhum de nós é livre enquanto o outro estiver preso.