#residênciadata_labe: encontro, trocas e sentido

Amanda Flor
data_labe
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4 min readSep 14, 2018

Algumas palavras sobre três meses intensos de muito trabalho e transformação.

A minha história com o jornalismo não é nada romântica. Eu nunca sonhei em ser repórter ou apresentadora, não tive um blog ou vontade de fazer parte da louca rotina de uma redação. Jornalismo nunca foi uma opção pra mim.

Tudo mudou quando eu me dei conta de que queria uma profissão que pudesse gerar impacto na vida das pessoas, que pudesse, de alguma forma, deixar o mundo um pouco melhor.

O data_labe surgiu pra mim através do Eloi, que sempre compartilhava no Facebook o que eles produziam. Eu achava super legal, mas não entendia muito bem o que era. Quando a chamada para a Residência foi aberta, eu me inscrevi sem a menor expectativa. Mudei meu horário no estágio, parei de frequentar uma aula na faculdade, estava sempre correndo para chegar na hora e tinha medo dos outros residentes não gostarem de mim. Não tinha certeza se daria conta, mas sabia que valia a pena tentar.

O primeiro encontro foi de muita conversa e um passeio pela Maré. Paramos no bar da Lica, no bairro angolano. Pude ver aquele lugar a partir de outra perspectiva e isso foi o início de uma profunda mudança em mim.

Primeiro encontro na casinha do data_labe

O primeiro mês foi de questionamentos, desconstruções, aulas, aprendizados e trocas. Tive contato com profissionais incríveis que abriram meus olhos para realidades desconhecidas até então.

Descobrindo se somos liberais ou conservadores

Fomos para São Paulo. Uma experiência inesquecível, em todos os sentidos.

Pé na estrada!
Hora de dar tchau

Conheci lugares e pessoas muito diferentes. E descobri um lado meu que gosta muito de turistar.

Espontânea
Felizes

De volta ao Rio, mergulhamos de cabeça na checagem e nos grupos de WhatsApp: milhares de mensagens por dia, vídeos, áudios de generais do Exército, fotos, memes, notícias verdadeiras que pareciam falsas, falácias e narrativas complexas. Nada disso foi fácil. Esse trabalho sugou bastante energia e causou um desgaste mental que ainda está aqui. Ler tudo aquilo que eu li deixa marcas.

Tanta coisa aconteceu e esses três meses passaram voando. Como é possível? Sem dúvidas, o data é um lugar muito especial. As pessoas que o compõem são muito especiais. Fazer jornalismo com qualidade é muito difícil, principalmente no momento em que vivemos. Fazer isso dentro da favela é ainda mais complexo.

O data_labe me ensinou que é possível produzir conteúdo de qualidade, mostrando os diferentes olhares que existem e que precisam ter espaço. Ele me ensinou que a favela e os seus moradores são muito potentes e muito fortes, e que lutam o tempo inteiro, de diferentes maneiras, pelo direito de viver em paz. O data me ensinou muito mais do que construir narrativas a partir de dados: me ensinou a ter orgulho de quem eu sou e do lugar de onde venho. Me fez ter certeza do que eu preciso defender e representar.

Vocês me mudaram para melhor, e fizeram isso de uma forma tão amiga, tão generosa. E agora eu tô aqui, me dando conta de que não nos encontraremos mais toda semana. A Thaynara não vai mais perguntar se tem bolo para o lanche. O Jordan não vai mais perguntar se tem café pronto. Não vou mais morrer de rir com qualquer coisa que a Clara diga e nem comer queijo coalho assado pelo Gil. Não vou mais ter salgadinhos, suco verde e morangos. Como vou fazer sem minhas duas mães? Eu tô sentindo saudade de tudo e de todos, e queria voltar no tempo só pra reviver tudo mais uma ou duas vezes.

A última vez

Eu acredito que tudo acontece por alguma razão. Obrigada por terem me escolhido, por terem me dado a chance de crescer com vocês. Por tantos momentos bons que estão guardados no fundo do meu coração. Espero que nossos caminhos se cruzem de novo. E, enquanto isso não acontece, eu fico com nossas lembranças tão felizes.

Obrigada, Eloi, Gil, Clara, Fernanda, Ju, Giu, Hannah e Pedro (in memoriam).

Obrigada, Thaynara e Jordan, meus companheiros de residência. Vocês são lindos, por dentro e por fora.

Obrigada, Maré, por tanta força e resistência.

Amo vocês, hoje e sempre.

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Amanda Flor
data_labe

Jornalista, produtora e gestora de marketing tentando contribuir para um mundo melhor.