Sobre Coda.br, humildade e networking no bar

Hannah de Vasconcellos
data_labe
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4 min readNov 14, 2018

Pelo terceiro ano consecutivo, a Escola de Dados realiza a conferência anual de jornalismo de dados e métodos digitais, o Coda.br. Pelo terceiro ano também, o data_ esteve lá. Aconteceu na Vila Mariana, em São Paulo, nos dias 10 e 11 de novembro e fomos eu, jornalista, e Giulia Santos, designer, como bolsistas para representar o data_. Também tivemos a companhia das eternas residentes do data_labe: Amanda Flor e Thaynara Santos, ambas estudantes incríveis de jornalismo.

Eu, Giulia, Amanda e Thaynara beeem felizinhas

Foram dois dias intensos, com muita anotação, ideias pipocando na cabeça e tentativas infinitas de escolher prioridades. Estar no Coda.Br foi um super desafio. Daqueles gostosos, claro. De cara, ser recebida por um time de mulheres negras na recepção foi um abraço. A sensação de estar num evento grande e super organizado fez com que eu me sentisse no lugar certo, sabe?

O primeiro painel foi inspirador, apesar de me sentir muito distante socialmente dos palestrantes. Isso demonstra que as dicas ditas ali foram formuladas com o cuidado de falar pra todas e todos. Conseguiram. O papo foi sobre como transformar informação em conhecimento usando jornalismo, ciência e design. Alberto Cairo, presidente do Knight em Jornalismo Visual da Escola de Comunicação da Universidade de Miami, — ou seja, um monstro no jornalismo de dados do mundo — falou sobre experimentar: “O que você não puder fazer no seu trabalho, faça por conta própria. Você vai trabalhar mais, mas é onde será mais produtivo e recompensador.” Anotei no papel e virou uma meta de ano novo.

Primeiro painel com Fernanda Viégas, Alberto Cairo e Daniel Waisberg | foto da Escola de Dados

O dia seguiu com a intensidade característica do Coda.br. Assisti a 5 aulas de mais de 1h cada, aprendi muitas ferramentas e anotei várias dicas. Mas o que realmente me marcou nesse primeiro dia de Coda.br foi ver o meu amor pelo jornalismo, minha graduação, ser resgatado. E acho que você deve entender o quão isso é poderoso e inspirador.

Mas…sabe aquele abraço que senti ao ver todas as recepcionistas sendo mulheres negras e lindíssimas com seus blacks logo na entrada? O abraço ficou meio frouxo e frio quando percebi que, de 38 palestrantes e keynotes, só 4 eram negras e negros. Além disso, vi poucos das minhas e dos meus ali do meu lado, aprendendo como alunas e alunos.

A sensação é de preguiça e exaustão: quando isso vai mudar? Quando a gente vai ver uma organização realmente preocupada em procurar em cada canto desse Brasil alguém negro pra compor espaços de poder? Numa sociedade racista, onde o racismo é estrutural e estruturante, o esforço tem que ser enorme mesmo e é isso.

É preciso dizer que percebi o esforço, mas percebi também que foi insuficiente.

o gif diz: só tô mandando o papo! | gif da Issa Rae disponível no Giphy

Apesar disso — e talvez exatamente por isso, já que eu, infelizmente, estou acostumada a ver poucos dos meus — toquei o dia aprendendo muito e cobrindo o evento com muitos memes e bom humor. Certeza que o coffee break maravilhoso e o encontro com pessoas com vontade de compartilhar conhecimento com um sorriso no rosto ajudou.

O segundo dia foi menos intenso; tava todo mundo cansado do dia anterior e com uma ressaquinha da cerveja pós-Coda que rolou no sábado à noite. A gente merecia e, pra mim, foi o momento mais produtivo em relação a contatos profissionais. Falei muito sobre o data_ entre um gole e outro e já temos uma reunião marcada rs.

tradução: não quero pensar, quero beber | gif de uma preta linda disponível no Giphy

Minha energia no domingo tava mais observadora e consegui perceber algumas coisas que não havia conseguido antes. Fiquei encantada com a paixão, o humor e a humildade que dominaram absolutamente todos os painéis e aulas que assisti.

Essa energia foi a que mais me contagiou. Ao final do evento, percebi como a humildade foi uma postura inerente ao Coda.br. Vi muitos palestrantes em aula na posição de alunos, ouvi também muitos “não sei te responder” seguido de um “vamos pesquisar juntos?” e senti que tá tudo bem não entender, se sentir perdida e desanimar às vezes. Conheci carreiras inspiradoras e possíveis. Arrisco dizer que nunca aprendi tanto em tão pouco tempo como jornalista, pesquisadora e pessoa.

tá meio borrado mas a gente é lindo, pode acreditar | gif da Escola de Dados

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Hannah de Vasconcellos
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Jornalista, mestra em Políticas Públicas em Direitos Humanos (UFRJ) e doutoranda em Antropologia Social (Museu Nacional/UFRJ). Escrevo o que transborda.