Uma #residênciadata_labe de muitas histórias

Juliana Sá
data_labe
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3 min readJul 26, 2018

Meus cinco meses experimentando fazer jornalismo no data_labe.

Fui residente durante a primeira temporada da #residênciadata_labe

Um dia eu escolhi cursar jornalismo, porque acreditei que a história das pessoas eram tão importantes quanto as informações. E que, na verdade, informação para mim só fazia sentido quando eu entendia como elas interferiam no dia a dia dos outros, nas trajetórias que estavam sendo construídas. Informação era/é pra mim algo que nos move em direção a colaboração com o outro.

Sou uma cearense em terras cariocas há três anos. Em 2016, vim morar na Maré, que se se tornou o meu lugar — cheio de afetos, trocas e encontro pessoal. Em um ano, consegui ter boas andanças e diálogos com outras mulheres nordestinas, e percebi quanto o jornalismo é cruel em excluir a imensidão das trajetórias que aqui se constroem. E são tantas, tantas!

Quando o data_labe abriu seleção para novos residentes em fevereiro fiz até campanha. Com todo respeito. É que, no último semestre suado da faculdade, depois de sete anos trabalhando com comunicação, eu precisava passar por alguma experiência que me lembrasse que é possível fazer jornalismo de forma diferente dos veículos tradicionais.

Durante quatro meses nós produzimos duas pautas. Como metodologia, optamos em investir mais tempo em conhecer histórias. Fomos a campo muitas vezes. Ouvimos muito. E, sobretudo, não fazendo só perguntas que estivessem focadas na apuração das informações que já tínhamos.

A partir das histórias, investigamos dados e direitos. Conversamos com especialistas. Cruzamos informações de pesquisas. Foi um importante exercício desacelerar para respeitar a sensibilidade de cada tema. Focar em construir não só uma reportagem, mas relações de respeito, confiança e atenção.

Minha maior convivência em campo foi na matéria sobre a comunidade angolana daqui. Era um enorme prazer ir até o bar da Lica. Não só porque a comida dela e ela sãomaravilhosas, mas porque lá esse exercício do ouvir se tornava nítido. Os angolanos, de início, mostraram que estavam fartos de dar entrevistas. Não era essa dinâmica que lhes interessava. Era preciso conhecê-los para falar deles. E isso não se faria em 30 minutos.

Os papos que aconteceram nos meses seguintes lá no bar sempre foram enriquecedores. Os angolanos tem uma noção de mundo, de política, de economia, de educação muito ampla e analítica. Saí de lá como se tivesse ganhado mais conhecimento do que no ensino médio inteiro.

Já no processo de elaboração da ‘Só Força’, foi doloroso perceber como o corpo feminino é desqualificado a todo momento pela sociedade. Esteja ele em ‘liberdade’ ou não. E que essa ideia de mulher forte é criada pela mesma sociedade que se apega a função de tolher nosso destino, nosso crescimento, nossa saúde mental. Depois dessa reportagem, acredito que vou ficar mais atenta a forças femininas que se manifestam ainda que ‘desviantes’. Talvez esteja ali só o caminhar em direção a uma construção própria, sem resposta a tantas expectativas sociais impostas.

O que fica dessa residência é o valor de produzir informação de forma mais empática, mais aberta, mais respeitosa. Pensando nas pessoas e no território. Confesso que vai ficar também muita saudade de chegar gritando nas escadas, de perguntar ‘quem vai fazer o café hoje para mim?’ e de perturbar todo mundo naquela salinha. ❤

As reportagens podem ser lidas no site do data_labe e foram desenvolvidas entre abril e julho de 2018, durante a primeira temporada de residências do data_labe com apoio do Fundo Brasil de Direitos Humanos.

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