R$3,2 milhões em 8.216 reembolsos suspeitos: as métricas do trabalho da Rosie nos últimos dias.

Quem acompanha os relatórios diários no APOIA.se da Operação Serenata de Amor já percebeu que o trabalho de aprimoramento da Rosie é constante. Nos últimos meses, nosso time técnico tem se esforçado com o objetivo de tornar nossa inteligência artificial mais genérica.

Esse é um grande passo na política de transparência no Brasil. Uma vez que a Rosie consiga se adaptar a diferentes bases de dados, seu alcance — e com isso, seu controle — se expandem, sendo cada vez mais úteis para as pessoas.

Esse trabalho de ampliação, porém, não está sendo alvo de todo o nosso foco.

Desde o primeiro mutirão de denúncias, onde identificamos suspeitas em mais de 800 reembolsos, temos a certeza de que a Cota para o Exercício da Atividade Parlamentar precisa da nossa atenção. Por seu grande volume de dados — aproximadamente 20 mil notas por mês, acreditamos que o trabalho de detecção de irregularidades tem muito a ganhar com a participação de um robô.

Por isso, a Rosie não parou de analisar as despesas reembolsadas a partir da Cota Parlamentar. E os resultados disso são mais de 8 mil suspeitas encontradas por ela, categorizadas em diferentes naturezas, todas com base no que diz a lei, e a partir de hipóteses criadas por nós.

São 2.158 suspeitas de refeições (muito) mais caras que a média esperada para cada restaurante, por exemplo. A regulamentação interna da Câmara dos Deputados não prevê limite de gastos com comida, bem como também não permite pagamento de alimentação a terceiros, mesmo que sejam assessores ou funcionários. A Rosie identifica quando um parlamentar gasta com uma refeição mais do que a média daquele mesmo restaurante: se a grande maioria das pessoas gasta R$ 40, um gasto é superior a R$ 100, por exemplo, é suspeito. Falamos mais dessa hipótese no nosso artigo sobre uma resposta do Dep. Fábio Mitidieri.

Ainda tendo como base a subcota de alimentação, identificamos 792 suspeitas baseadas no tempo de viagem dos deputados. Já que só o parlamentar pode se alimentar usando a cota, a Rosie considera suspeito todos os casos com refeições feitas por um mesmo deputado em cidades diferentes por um mesmo parlamentar em um intervalo de tempo menor do que a viagem entre os lugares. São casos como notas emitidas em regiões diferentes do país em questão de minutos.

Nosso maior volume de detecções, porém, veio de reembolsos feitos em empresas irregulares: são 5.240 suspeitas — e aumentando. Em geral, são CNPJs já baixados na data do reembolso e que, em tese, não deveriam poder mais emitir notas. A análise também se aplica a todas as empresas cujo status é outro que não “aberto” junto à Receita Federal.

Além disso, a robô ainda identificou 16 despesas suspeitas feitas por CPFs ou CNPJs inválidos, de acordo com a Receita, e 13 reembolsos de caráter eleitoral, isto é, em empresas destinadas às campanhas dos parlamentares. Ambas as irregularidades também estão previstas na lei.

Os números podem impressionar: são R$ 3,2 milhões em suspeitas, sem contar o dinheiro que já foi devolvido. Mas vale lembrar que esses são casos de suspeitas detectadas pela Rosie. O processo de trabalho prossegue com uma análise humana dos casos para que sejam feitas denúncias à Câmara dos Deputados, que então tem até 20 dias úteis para responder cada uma delas — em alguns casos, sem solução.

Na maioria das vezes, fomos notificados de que a denúncia tinha sido encaminhada ao parlamentar e nunca recebemos um retorno. Essa dificuldade foi uma das razões para a Rosie ter ganhado uma conta no Twitter. Precisamos de ajuda para transformar suspeitas em resultados.

Entre a nossa denúncia e o desfecho do caso, o processo é longo. Na realidade, é a parte que leva mais tempo. Infelizmente, a Rosie é a única robô em todo esse processo de trabalho.

Dependemos de pessoas como você, que querem ver a continuidade do trabalho que iniciamos.

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