Como comunidades empreendedoras resolvem problemas? — Parte 1

Daniel Lima
Databizz
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4 min readMay 15, 2020

Começaremos este texto com uma provocação que li e prontamente me chamou a atenção, ao ler o livro Startup Communities de Brad Feld: empreendedores devem se comprometer com a comunidade, por pelo menos 20 anos, em um compromisso de longo prazo. A lógica disso está diretamente ligada às idas e vindas da economia. Elas crescem, atingem picos, retraem, sucumbem ao fundo do poço, crescem novamente e estes ciclos se repetem. Agora estamos vivendo uma retração grave, mas que certamente irá se recuperar, assim também como não sabemos quando e nem como. Mas o trabalho em rede pode mitigar os impactos negativos e ajudar com que oportunidades sejam mais rapidamente observadas, ensaiadas e colocadas em práticas.

É fácil, de dentro da bolha onde vivo, dizer que o trabalho em rede vai ajudar muitas empresas de TI a sobrevirem bem a esta pandemia, como se fosse uma “marolinha”, parafraseando o que disseram na crise do final da última década. Mas e as empresas “tradicionais”, como se digitalizam? E as “não tradicionais”, como se conectam aos desafios, sem enxugar gelo ou operarem no modo apagar de incêndio?

No auge da 3ª revolução industrial, se ponderava que com a troca de informações mudaríamos o formato cartesiano de se trabalhar, para algo dito randômico e sairíamos de um processo de trabalho linear, para um modelo exponencial. Entenda, essa fase da revolução deu início no pós-guerra, e somente com o avanço da Internet, é que de fato começaríamos a experimentar tais mudanças em larga escala, com o coletivo. Mas ainda, sim uma outra metade ainda vive um modelo pautado no mecanicismo e no funcional.

Augusto de Franco, publicou em 2009 em sua Escola-de-Rede, que do ponto de vista de redes, poder é um fenômeno de padrões mais centrais do que distribuídos. Partindo dessa afirmativa, entendemos que quando mais distribuído for esse poder, menos possível de ser hierarquizada essa rede se torna. Comunidades são redes e redes precisam ser orgânicas suficientes para se tornarem estruturas sociais, que representem as necessidades de grupos distintos, mas que possuam o mesmo, ou similar, objetivos concretos.

Vejamos um caso prático e bem rápido de se explicar: o Porto Digital, parque tecnológico urbano na cidade do Recife, possui uma estrutura de gestão baseada no conceito de Tríplice Hélice, onde o poder é dividido entre Estado, Sociedade Empresarial e Academia. Nenhum destes atores possui maioria no conselho e portanto, não se pode decidir nada sozinho. Todas as estratégias propostas com base em políticas públicas criadas pela Organização Social (OS), que gerencia o parque, precisam passar não apenas pelo crivo do conselho, mas deve estar em consonância com o que os principais grupos impactados por estas decisões esperam receber. Com isso, o parque se tornou um exemplo de gestão não centralizada, que perdura por mais de 20 anos, onde já se trocaram diversas correntes ideológicas de Governo. A interferência é a mínima possível e quando há tentativas disso, são rapidamente neutralizadas.

No Brasil, muitas comunidades emergentes se inspiram no exemplo do Startup SC (Santa Catarina), mas garanto que país a dentro, existem diversas outras comunidades sem tanta fama, que desempenham um papel crucial na economia local e principalmente nas pessoas. Algumas que você pode consultar após terminar este texto são: UberHub (Uberlândia/MG), Jerimum Valley (Natal/RN), Rapadura Valley (Fortaleza/CE), RedFoot (Londrina/PR) e a Comunidade RS (Rio Grande do Sul). Eu tô deixando de fora comunidades já consolidadas como a ZeroOnze, Errejota, São Pedro Valley e a nossa Manguezal, que falo mais sobre logo abaixo.

Diagrama de Baran (1926–2011)

Analisando o Diagrama de Baran (1926–2011), publicado em 1964, podemos entender qual seria o modelo ideal de rede para comunidades: a distribuída, formando uma grande teia totalmente interligada em diversos pontos, onde não precisamos saber onde as coisas começam e sim como elas se conectam e se retroalimentam.

No entanto, o mais longe que hoje nossa rede se encontra, é o que mostra a figura B. Descentralizada, mas ainda com diversos pontos centrais de partida, onde ao final, eles podem ter algum tipo de choque de poder entre si. Podem ou não estarem alinhados com o mesmo propósito, mas todos estão diretamente interligados em sua jornada.

E como a sua comunidade ou a sua rede se posiciona de acordo com a figura? E de fato há um trabalho em rede acontecendo? Há um compartilhamento de ideias, soluções e um trabalho conjunto de solução de problemas? Há objetivos centrais em sinergia com os principais atores locais?

Pensem nas perguntas e na semana que vem, traremos mais algumas provocações e insights sobre o tema.

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Daniel Lima
Databizz

Marketólogo, especialista em Gestão Agil de Projetos, mestrando em Design. COO da Databizz, professor do MBA da Unicap e membro da Manguezal.