Como ideias viram negócios

Renata Sellaro
Databizz
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10 min readSep 25, 2019

O mundo vive a revolução digital, que marca o início da Era Da Informação, a qual se dá em um mundo multiconectado, onde recebemos informação o tempo todo. O acesso a conteúdos acontece de maneira fluida e orgânica. Quanto mais abertos a esses conhecimentos, mais suscetíveis a gerar ideias e a nos tornar indivíduos mais criativos estamos. Assim, somos transformados e também somos agentes transformadores de uma realidade que é frequentemente alterada, e, nisso nascem as novas descobertas.

As descobertas são resultados de um longo processo de absorção e compreensão dentro de uma realidade que está em constante mudança, sobretudo no que diz respeito à inovação. E assim, nascem negócios inovadores em ambientes de estremas incertezas, nesse contexto é comum usarmos técnicas envolvendo design thinking, lean startup e métodos ágeis para entendermos como podemos usar ferramentas a favor da inovação.

No livro Vai lá e faz, escrito por Thiago Mattos, ele explica que antes que a descoberta de fato comece, somos movidos por uma inspiração. A inspiração vem como uma fase em que se prepara um “terreno” e o faz “fértil”, isso pode ocorrer alimentado das mais diversas fontes de informação.

Thiago continua a esclarecer que, “Com inspiração, floresce uma vontade”. Todavia, essa vontade vem de infinitas possibilidades que não bem definidas, e a partir delas aparecem as ideias, e muitas delas são descartadas.

Todo empreendedor inicia resolvendo uma dor, uma adversidade, uma dificuldade, ou seja, um problema. Se não existe algo real a ser resolvido, há poucas chances da ideia sair do papel. A descoberta de uma boa ideia não começa pela solução, e sim pela adversidade. Ela que nos traz propósito, mas para resolvê-la começamos a entender e imergir na mesma.

De acordo com o design thinking, esse é o momento de compreender o que você sentiria caso estivesse na mesma situação daquele que vive o obstáculo, ou seja, praticar a empatia.

Para conceber esse e os demais processos costumamos trazer o duplo diamante. A ideia que ele transmite é convergir e divergir, em dois grandes momentos. Começando pela fase de empatia e pesquisa, ou seja, sentir como o usuário, para isso, usamos algumas técnicas para extrair melhor o sentimento das pessoas.

É importante sempre estar lembrado de que o problema é do usuário, mas quem tem que percebê-lo é você. Henry Ford, fundador da Ford Motor Company, disse “Se eu tivesse perguntado às pessoas o que elas queriam, elas teriam dito que queriam cavalos mais rápidos.” E é por isso que na hora de distinguir a dor do seu usuário é preciso fazê-lo sem interferir, de maneira imparcial e com escuta ativa. Para isso é preciso imergir e interpretar o dia a dia do usuário através de pesquisas de como pessoas agem diante do inconveniente, observar, fazer parte do processo e ver pela perspectiva do outro.

Para isso usamos diversas técnicas de pesquisas quantitativas, qualitativas, netnográficas, entre outras. É muito rico para a pesquisa fazer entrevistas com as pessoas para analisar como é vivenciado por ela a dificuldade que ela enfrenta. É muito importante que o entrevistador tenha a concentração totalmente voltada a escutar e observar, analisando o que eles fazem, conhecendo a adversidade usando a observação. Essa fase, não cabe julgamentos, temos que divergir em informações e ouvir o que o questionado traz.

Não menos importante do que conseguir fazer uma boa entrevista, é saber fazer uma análise da mesma. Um jeito interessante de compilar os dados é fazendo a jornada do usuário. documentar e mapear todo o processo como acontece hoje para para conhecer o contexto ao qual a dor acontece, essa etapa é interessante para que na ideação você consiga uma solução assertiva.

Catalogar e compilar os dados obtidos nas entrevistas através de personas também se mostra muito eficaz. Nessa fase, cria-se uma pessoa fictícia, baseada nos resultados dos entrevistados. A sua persona será um referencia de maneira generalizada, uma síntese das pessoas que você pesquisou, uma forma simples de mostrar os tipos de comportamentos padrões das pessoas entrevistadas. Lembre-se que você pode criar mais de uma persona para o mesmo projeto, caso seja necessário.

Nessa fase de definição, a ideia é convergir e saber exatamente a oportunidade a ser trabalhada diante dos resultados encontrados na fase anterior. Um desafio bem definido facilitará toda a segunda parte do processo.

Com as informações coletadas na fase de divergência organizadas para o projeto começa-se a indicar o desafio pontual a ser resolvido. É o momento de saber sintetizar a dificuldade que seu projeto vai resolver em uma única frase, delimitar a que precisa ser resolvido. É necessário eleger a problemática de forma que ela seja assertiva e compreendida não apenas para quem convive com ela.

Com o desafio muito bem definido, volta-se a divergir e pensar nas soluções para tal. É comum usar técnica de brainstorming, em que as ideias e sugestões devem fluir sem preconceitos, se houver censura é possível que bons resultados não sejam sugeridos.

Trazer ideias inovadoras é algo que necessita de diferentes visões, sob diferentes perspectivas e experiências, por isso, é sempre válido ter times diversos e multidisciplinares. Nessa etapa, ainda não se leva em consideração a usabilidade ou praticabilidade, então, todas as ideias são iguais.

Outra forma muito utilizada é a técnica 635, na qual se tem 6 pessoas escrevendo 3 ideias em 5 minutos. Basicamente, a técnica consiste em reunir os participantes, cada um com uma folha de papel, e todos têm um tempo de 5 minutos para escrever três ideias. Terminado o tempo, giram-se os papéis e cada participante escreve três novas ideias na linha abaixo da página do membro anterior durante mais 5 minutos, até que se complete a rodada. Ao final, haverá um total de 108 ideias nas seis fichas.

A prototipação é a fase em que vamos desenvolver a ideia para testar antes de realmente construir o produto. O intuito é criar um produto de trabalho da fase de testes que deve ser feito de forma mais simples, é uma proposta do que você acredita que seja a forma ideal de resolver sua dificuldade. Importante dizer que não precisamos testar todas as funcionalidades de uma vez, podemos prototipar por partes, e, a partir de feedbacks dos testes, podemos medir os resultados. Como diria David Kelley, “se uma imagem vale mais que mil palavras, um protótipo vale mais que mil reuniões”.

O protótipo pode ser de vários níveis de fidelidade (baixa, média ou alta) e o alcance deles pode variar em vários fatores, desde realista e detalhado até feito à mão em papel.

Os protótipos de baixa fidelidade são muito usados na fase inicial para validação de conceitos, esse tipo de protótipo também é chamado de rascunho ou sketchs , com foco em representar visualmente as funcionalidades sem se preocupar com a estética.

Os protótipos de média fidelidade são simples e analisam mais as funcionalidades, porém são mais refinados que os de baixa fidelidade e não possuem um design gráfico, todavia, são levadas em considerações a usabilidade das telas com simulações simples de uso.

Já os de alta fidelidade, tem-se funcionalidades e estética mais finais do produto. Também chamados de mockups, eles são geralmente produzidos em um programa como figma ou adobe xd. Eles são os mais usados para testar a validade de uma proposta com usuários.

Jacob Nielsen diz que prototipar é “encontrar problemas de usabilidade antes de se gastar dinheiro em algo que não funciona”, ou seja, a partir de uma ideia, testamos, medimos, com o protótipo para depois irmos construir de fato o nosso primeiro MVP.

Essa fase é o ter uma solução que resolva o problema erroneamente e é por isso que o testar é tão importante. Apesar de ser algo pequeno simples, não deve ser subestimada a importância, da riqueza dos dados gerados pelo usuário durante os testes com o protótipo. É interessante lembrar que, de forma diferente do protótipo, na qual é possível que os usuários realizem o teste de forma gratuita, já no MVP é indicado validar seu produto comercialmente.

A partir de um protótipo, iniciam-se os testes com usuários interessados na sua solução. O valor dessa fase está em perceber quais as funcionalidades e recursos a pessoa vê interesse na solução e buscar novos insights do que pode ser melhorado. O resultado obtido a partir de testes com usuários deve ser obtido através de diferentes fontes, não apenas de feedbacks diretamente explícitos pelo usuário, mas também por observações no momento do teste.

É importante ressaltar que esse processo não é linear, é comum voltar em algumas das fases e revisitar alguns momentos, o resultado de teste é um ótimo momento para isso, as alterações devem ser feitas antes de começar a construir o produto de fato.

A hora de construir de fato o mínimo produto viável. O MVP é uma versão mínima do produto, . muita gente erra por nunca sentir que a ideia está pronta e passa muito tempo lapidando essa ideia e nunca deixa de prototipa-lá para começar a construir o seu MVP.

A sua solução nunca vai estar totalmente pronta até que você valide com o mínimo possível. Após o resultado do teste com o protótipo, o desenvolvimento do produto costuma seguir o ciclo lean de startup. Nesse momento é recomendado que não se tenha muito perfeccionismo e entenda-se que está construindo o primeiro produto, que deve ser elaborado dentro das condições possíveis para trazer valor ao mercado. O desenvolvimento deve ser constantemente validado com o usuário, para não se investir recursos (e possivelmente esgotá-los) antes de interagir com o mercado.

Existem alguns exemplos mais comuns de formas de desenvolver a primeira versão de seu produto.

MVP Fumaça trata-se de um anúncio, vídeo, rede social ou landing page do produto/serviço com o objetivo de de fazer uma grande divulgação da ideia. O objetivo é expor o seu produto para gerar relevância dos seus clientes.

MVP Mágico de Oz é um produto em operação, porém, com pessoas trabalhando por trás, onde espera-se algo programado, sem que o usuário perceba, permitindo uma melhor definição do que é essencial para o produto e qual a prioridade na construção do mesmo.

MVP Concierge é a forma mais utilizada, é uma forma que dificilmente é escalável, porém é muito eficaz para entender como o produto ou serviço funcionará na prática. Ele permite um grande consciência das necessidades dos usuários, possibilitado o entendimento da solução a necessidade do mercado antes de escalar, e, consequentemente gerando uma proposta de valor.

A validação da sua solução está ligada a o número de usuários, usando, gerando dados, dando feedbacks, mas sobretudo, pagando pela sua solução. A importância de ter pessoas pagando traz para sua validação a certeza de que os usuários vão realmente usar o seu serviço ou produto porque necessitam dele e não apenas para testar. Outro fator determinante é que, quando temos dinheiro envolvido, os feedbacks torna-se muito mais exigentes. Essa fase permitirá um entendimento ainda melhor do mercado e será muito rico para as próximas versões do seu produto.

Com a solução validada, indica-se uma ferramenta interessante é o golden circle de Simon Sinek. Ele explica que, geralmente, as pessoas começam falando de empresas e negócios de fora pra dentro do círculo, em contrapartida, empresas diferenciadas usam a lógica reversa.

A lógica casa perfeitamente como mecanismo de descoberta para criação da base do projeto. Estruturar nesse formato ajuda a visualizar de forma clara e coesa. Sua ideia deve ser simples. O golden circle vai te ajudar a despertar para esclarecer e saber como construir um negócio empreendedor em cima de ideais que te inspiram e, só assim, vão poder inspirar outras pessoas.

No centro do círculo temos o “por quê”. O por quê começa essa ferramenta como forma de trazer o motivo que faz você empreender nessa ideia e não em outra, ou, o que faz você trabalhar nisso e não em outro coisa ou outro local. Por quê essa foi sua escolha e tantas outras infinitas possibilidades que você tem? Trata-se de propósito e legado que vai acompanhar todo seu processo.

Entramos então no “como”, aqui falamos de método e processo para operacionalizar o nosso propósito. Essa parte é como você faz torna você diferente de todos os outros que já tentaram, tentam e vão tentar resolver esse problema, é a forma única que você encontrou para fazer sua ideia acontecer.

Finalmente chegamos no o que fazemos. Muitos erram tentando começar a descoberta por aqui. Essa fase nada mais é do que o produto ou serviço que o seu empreendimento oferece. O fato é que, se a descoberta do por quê e do como foi bem feita, descobrir o “o que” torna-se apenas uma consequência. O mercado vai incorporar seu negócio pelo porquê você faz, e não o que você faz. O que você oferece é só uma porção da legitimidade da sua finalidade (ou seja, da legitimidade do seu “por que”).

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Renata Sellaro
Databizz

Mestranda em Design pela Cesar School, formada em engenharia civil e MBA em gestão de projetos. Trabalho com inovação, tecnologias, empreendedorismo e startups.