Uma Epidemia de Paralisia Corporativa

ed dantas
Databizz
Published in
3 min readApr 15, 2020

Estamos em 2520. Hoje é possível viajar entre planetas e poder voltar para a sua Terra depois de partir. Sempre existe uma passagem de volta. Poder navegar entre mundos foi uma habilidade desenvolvida pelos organismos muito tempo atrás. No início não eram todos que viam essa importância de navegar entre espaços diferentes e de habitar populações diversas em novos territórios. Atualmente não restam dúvidas que essa capacidade é uma questão de sobrevivência.

Voltamos para 2020, os organismos paralisados e em choque hoje são as empresas analógicas, chamadas por uns de organizações clássicas. Os territórios que elas habitam estão em uma rede ultraconectada, em que um possível sopro do bater de asas do outro lado do planeta pode criar um furacão global meses depois. É nessa tempestade mundial que muitas empresas se encontram; operações baseadas em papel estão paralisadas e centenas de milhares de colaboradores estão descobrindo como fazer o mesmo do clássico, em um novo território ocupado que são as suas casas.

Relatos das primeiras semanas de quarentena organizacional começaram surgir. O ócio decisório das lideranças, não saber por onde começar, qual dia da semana estamos e soluções como grupos de conversas adicionais ou planilhas surgem como sequelas de um medo corporativo de perda do controle. A completa incerteza do amanhã cria um feitiço do tempo em que planos estratégicos do passado não servem mais e o futuro imaginado não existe como pretendido. Milhares de empresas entraram em um coma induzido de não pensar ou agir diferente, adiar decisões semana a semana, esperando por um mundo normal que não tem passagem de volta para a mesma realidade.

Como evoluir, na crise, fazendo o mesmo de antes com capacidades e ferramentas já conhecidas? Os CNPJs precisam de novos tratamentos para os sintomas de medo e vacinas duradouras para as Epidemias de Paralisia Corporativa (EPC).

Sem a saída para o desafio acima, lockdowns corporativos não serão meros acidentes vasculares nas decisões das empresas, serão mecanismos de seleção natural impiedosos para uns e justos para a sobrevivência de quem mais se adapta. Não demitir em 2 meses e não fazer nada serve apenas para adiar uma morte previsível de quem não sabe navegar entre novos mundos. Um tempo esticado para pensar ou esperar não significa experimentar rápido novas soluções, além da crise e para a próxima crise.

Esses organismos clássicos costumam sobreviver por que eles não foram sobrescritos ainda por outros mais sofisticados, provavelmente devido à ausência de um atrito de futuro ou impacto com uma concorrência mais evoluída. É justamente nesse futuro que o exercício de visão otimista e autorrealizável precisa de lideranças mais preparadas para experimentação muito além do horizonte de eventos, de crise. Esses viajantes deveriam deixar de lado planos estratégicos que não se adaptam e manter alguma estratégia transformacional ágil como passagem de volta para um mundo novo, ainda nascendo.

Os CEOs que combatem as Epidemias de Paralisia Corporativa (EPC) podem navegar, agora, em novas capacidades transformacionais que vão servir também para a próxima grande crise.

Voltamos para 2520. Um novo bater de asas acontece em um outro planeta e viajantes, CEOs, comandantes de espaçonaves organizacionais retornam para a Terra com antigos e clássicos sintomas de algo. A história se repete, a primeira vez como uma paralisia generalizada de espera e a segunda vez como uma passagem de volta fictícia comprada para um mundo que não existe mais. O organismo que experimentar o navegar correto, além do horizonte do momento, consegue ativar a seleção natural em que se adaptar é a passagem de volta para os novos territórios de sua própria autoria.

segundo texto => Uma Paralisia Além do Digital

Ed Dantas — Abril 2020 / CEO da Databizz, Professor na formação executiva do CESAR School e Head de Inovação no Complexo Industrial-Portuário de Suape. [ed@databizz.com.br]

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CEO da Databizz, Professor na formação executiva do CESAR School e Head de Inovação do Complexo Portuário de Suape.