Você não precisa de Transformação Digital.
7 motivos para você se perguntar se anda apenas buscando a sobrevivência digital.
Em 2015, Duncan Watts em seu livro Tudo é óbvio, dedica um pedaço dele a explicar o conceito de novidade. Em sua breve explicação: Quando algo vira novidade, é porquê já deram um nome óbvio para algo que já está sendo vendido como velho.
E será que Transformação é uma novidade? Olhando ao redor a respeito do tema, está na hora de termos uma conversa franca a respeito do termo que foi cunhado e se tornou a nova grande moda das organizações e consultorias tecnológicas, para terem mais motivos para continuarem vendendo seus projetos.
E o motivo é um só, vai dar trabalho e pode não dar certo.
Na partida, transformação de verdade, vai propor conduzir o negócio a um lugar completamente novo. E como dividir a atenção com toda a carga de atividades que já existem no dia a dia, ainda acrescentar novos desafios, rotinas com algo que não necessariamente tem impacto de curto prazo nas metas e indicadores das lideranças? Já ouviu falar de trocar o pneu com o carro andando? É por aí. Sem incentivo, o corpo maior da empresa não entrará além do curto prazo.
Em segundo lugar, será preciso convencer a diretoria e o conselho de que os projetos precisam ter autonomia e liberdade, poderem propor mudanças e ter espaço para implementar elas dentro da organização. E como mudar o trabalho internamente, sem dar a entender que se está desfazendo o que foi conquistado ou vencer a resistência do “sempre foi feito desse jeito”?
Em terceiro lugar, será preciso vencer a barreira do medo de ser substituído por alguma obsolescência criada por novas tecnologias. E como conseguir apoio para melhorias de processos repetitivos sistemáticos e previsíveis, se muitas vezes eles estão atrelados a pessoas antigas da empresa, que possuem um valor histórico para a organização, ou que parecem pouco dispostas a aprender um novo jeito de trabalhar?
Em quarto lugar, será preciso olhar de maneira mais descentralizada para o negócio. Mas qual o sentido de investir mais dinheiro em novos negócios, ou trabalhar em conjunto com outros atores muito menores, onde simplesmente posso fazer em casa, mais rápido e com posse total do que está sendo criado? E sem necessariamente substituir a principal fonte de receita do negócio?
Em quinto lugar, é preciso comprometer um orçamento para mais do que um e-commerce. Digitalizar o modelo como os produtos ou serviços eram oferecidos. Mas como garantir que o investimento está sendo realizado da maneira certa, que os treinamentos estão sendo efetivos, se não é o ROI a principal métrica que deve definir o resultado e não haverá bônus pelos resultados obtidos?
Em sexto lugar, será preciso garantir segurança psicológica(que inclusive, em tempos de trabalhos cada mais subjetivos e menos manuais, repetitivos e previsíveis, tem se tornado cada vez mais relevante) dentro dos times de trabalho, pois esse é o principal valor cultural para abertura à inovação. Mas como dar espaço para a segurança aconteça, se a única voz que possui espaço na hora da decisão é a liderança e pouco se investe preparação de novas vozes?
E por último, é preciso abrir a organização para cooperação e para trabalhos conectados com outros diversos tipos de atores. Mas como fazer isso, sem garantir que esses novos e pequenos negócios tenham acesso a segredos, patentes, processos, inteligências e não se tornem concorrentes do meu negócio?
Transformação digital não é sobre tornar o negócio uma plataforma. Mas é sobre habilitar um compromisso com a mudança, e sem garantia concreta de acerto na primeira tentativa. É preciso diversificar experimentos no mesmo modelo mental que se diversifica investimentos.
Até então, pouco antes da pandemia, já se sentia um forte e imperativo tom de fala em relação ao tema, num ar profético de que não haveria mais negócios fora do digital no curto prazo. O que a pandemia trouxe foi um alerta de que os famosos cisnes negros(eventos inesperados que mudam o cenário como um todo) podem mudar a realidade completamente, obrigando negócios a se moverem numa direção com o qual não estavam preparados.
E do dia para a noite, foi preciso aprender a colocar grande parte senão a maioria da empresa para um modelo de trabalho remoto, entender como grande parte dos trabalhos presenciais se adaptaram para o offline, conseguir desenvolver uma nova forma de interagir e intermediar produtos sem mais visitas físicas e todas as mudanças, que alguns meses depois, já sabemos que tivemos que passar.
Realizar uma jornada de transformação digital é o compromisso com a mudança. Assumir que é possível fazer um exercício contínuo de se antecipar ao que vem pela frente, porque você é quem está ditando o ritmo delas. E em mudanças de era, cresce quem não fica parado.