Você não precisa de Transformação Digital.

7 motivos para você se perguntar se anda apenas buscando a sobrevivência digital.

Victor Hugo Soares
Databizz
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4 min readJun 2, 2020

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Em 2015, Duncan Watts em seu livro Tudo é óbvio, dedica um pedaço dele a explicar o conceito de novidade. Em sua breve explicação: Quando algo vira novidade, é porquê já deram um nome óbvio para algo que já está sendo vendido como velho.

E será que Transformação é uma novidade? Olhando ao redor a respeito do tema, está na hora de termos uma conversa franca a respeito do termo que foi cunhado e se tornou a nova grande moda das organizações e consultorias tecnológicas, para terem mais motivos para continuarem vendendo seus projetos.

E o motivo é um só, vai dar trabalho e pode não dar certo.

Na partida, transformação de verdade, vai propor conduzir o negócio a um lugar completamente novo. E como dividir a atenção com toda a carga de atividades que já existem no dia a dia, ainda acrescentar novos desafios, rotinas com algo que não necessariamente tem impacto de curto prazo nas metas e indicadores das lideranças? Já ouviu falar de trocar o pneu com o carro andando? É por aí. Sem incentivo, o corpo maior da empresa não entrará além do curto prazo.

Em segundo lugar, será preciso convencer a diretoria e o conselho de que os projetos precisam ter autonomia e liberdade, poderem propor mudanças e ter espaço para implementar elas dentro da organização. E como mudar o trabalho internamente, sem dar a entender que se está desfazendo o que foi conquistado ou vencer a resistência do “sempre foi feito desse jeito”?

Em terceiro lugar, será preciso vencer a barreira do medo de ser substituído por alguma obsolescência criada por novas tecnologias. E como conseguir apoio para melhorias de processos repetitivos sistemáticos e previsíveis, se muitas vezes eles estão atrelados a pessoas antigas da empresa, que possuem um valor histórico para a organização, ou que parecem pouco dispostas a aprender um novo jeito de trabalhar?

Em quarto lugar, será preciso olhar de maneira mais descentralizada para o negócio. Mas qual o sentido de investir mais dinheiro em novos negócios, ou trabalhar em conjunto com outros atores muito menores, onde simplesmente posso fazer em casa, mais rápido e com posse total do que está sendo criado? E sem necessariamente substituir a principal fonte de receita do negócio?

Gráfico de análise de trilha de investimentos corporativos em transformação. Imagem de The Corporate Startup, 2017.

Em quinto lugar, é preciso comprometer um orçamento para mais do que um e-commerce. Digitalizar o modelo como os produtos ou serviços eram oferecidos. Mas como garantir que o investimento está sendo realizado da maneira certa, que os treinamentos estão sendo efetivos, se não é o ROI a principal métrica que deve definir o resultado e não haverá bônus pelos resultados obtidos?

Ilustração de análise de alocação de investimentos para direcionar ambições de investimentos por tipos de empresas. Imagem de The Corporate Startup, 2017.

Em sexto lugar, será preciso garantir segurança psicológica(que inclusive, em tempos de trabalhos cada mais subjetivos e menos manuais, repetitivos e previsíveis, tem se tornado cada vez mais relevante) dentro dos times de trabalho, pois esse é o principal valor cultural para abertura à inovação. Mas como dar espaço para a segurança aconteça, se a única voz que possui espaço na hora da decisão é a liderança e pouco se investe preparação de novas vozes?

E por último, é preciso abrir a organização para cooperação e para trabalhos conectados com outros diversos tipos de atores. Mas como fazer isso, sem garantir que esses novos e pequenos negócios tenham acesso a segredos, patentes, processos, inteligências e não se tornem concorrentes do meu negócio?

Transformação digital não é sobre tornar o negócio uma plataforma. Mas é sobre habilitar um compromisso com a mudança, e sem garantia concreta de acerto na primeira tentativa. É preciso diversificar experimentos no mesmo modelo mental que se diversifica investimentos.

Até então, pouco antes da pandemia, já se sentia um forte e imperativo tom de fala em relação ao tema, num ar profético de que não haveria mais negócios fora do digital no curto prazo. O que a pandemia trouxe foi um alerta de que os famosos cisnes negros(eventos inesperados que mudam o cenário como um todo) podem mudar a realidade completamente, obrigando negócios a se moverem numa direção com o qual não estavam preparados.

E do dia para a noite, foi preciso aprender a colocar grande parte senão a maioria da empresa para um modelo de trabalho remoto, entender como grande parte dos trabalhos presenciais se adaptaram para o offline, conseguir desenvolver uma nova forma de interagir e intermediar produtos sem mais visitas físicas e todas as mudanças, que alguns meses depois, já sabemos que tivemos que passar.

Realizar uma jornada de transformação digital é o compromisso com a mudança. Assumir que é possível fazer um exercício contínuo de se antecipar ao que vem pela frente, porque você é quem está ditando o ritmo delas. E em mudanças de era, cresce quem não fica parado.

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Victor Hugo Soares
Databizz

Tecnoempático, Aspirante a futurista e leitor de Hardscience