Dados e Psico: 5 lições que eu gostaria de ter ouvido no início

Paula Costa
Datapsico
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5 min readOct 23, 2020

Se você está lendo esse texto, aposto que em algum momento já se sentiu meio esquisitão/esquisitona por juntar dados e Psicologia. Essa galera que, como você e eu, gosta de combinar os dois mundos passa por situações que não aparecem nas aulas da universidade. Eu sou a Paula, estudante de Psicologia na UFCSPA, apaixonada por dados&gente e esse é meu primeiro texto no PsicoData! Querendo bater um papo, é só chamar!

Nos meus 2 anos e uns quebradinhos estudando e trabalhando com dados de Gestão de Pessoas e Recursos Humanos, tenho aprendido algumas coisas interessantes. Aí pensei:

Seria muito bom se alguém tivesse me falado essas coisas no início…

Por isso, quero compartilhar com vocês 5 lições que aprendi trabalhando com dados em Psicologia.

1. É possível ser humano com dados.

Já trabalhei com análise de dados em ambientes diversos. Tive experiências bem acadêmicas e outras bem empresariais, assim como já tive públicos que sabiam MUITO de análise de dados e públicos que nunca tinham tido contato com uma tabela de correlação. Então, eu entendi que, para algumas pessoas, é estranho juntar o exato com o humano. Parece que esses mundos são opostos e não se combinam de modo algum. Teve um momento importante em que me questionaram se eu estava “largando de ser humana para trabalhar com dados”. Claro que não! É possível ser humano com ou sem dados, assim como é possível ser desumano com ou sem dados. Analisar dados é uma método e o seu propósito depende de quem o está utilizando.

Quebra-cabeça com algumas peças desencaixadas

Nas minhas experiências, utilizo os dados para ouvir o discurso coletivo das pessoas e tentar desenvolver ambientes laborais mais saudáveis, que levem em conta o bem-estar e a saúde dos trabalhadores. Na minha visão, isso é pra lá de humano! A pergunta que sempre ecoa na minha cabeça é: “A partir desses dados, como eu posso gerar conhecimento que vá ajudar essas pessoas?”. Humanização é muito mais sobre postura do que sobre método. Para ser humano com dados basta ser humano na vida...

2. Dados podem ser rebeldes.

Criar expectativas é complicado, ainda mais se tratando de dados. Por vezes, começamos uma pesquisa não só com as hipóteses, mas com os resultados e as discussões já formuladas nas nossas cabecinhas pensantes. Só que os dados, meus amigos, podem ser muito rebeldes.

Cubo de madeira
Photo by Kieran Wood on Unsplash

Mais de uma vez, minhas análises não mostraram o que eu estava esperando. No início, eu brigava muito com meus dados. Procurava erros metodológicos, pensava que estava calculando algo errado, refazia, e lá estava o resultado que eu não queria ter que explicar. Minha única opção era sentar com os dados que estavam ali, imparciais, me esperando. Ironicamente, quando parei de brigar com eles e tentei encontrar formas alternativas de explicá-los, os meus maiores insights surgiram. Conhecimentos interessantíssimos podem sair de resultados imprevistos, por isso valorize quando seus dados te trazem alguma surpresa. Como num filme, o plot twist é o clímax do negócio.

3. Sentir-se perdido(a) é normal, pois a jornada não vem com mapa.

Para alguém da Psicologia, entrar na ciência de dados é um desafio, pois não temos uma trajetória clara a seguir. Sabemos o que é necessário para ser um profissional de Psicologia Clínica, Social ou Organizacional por exemplo. Trabalhando com dados, a situação é diferente. Apesar de o mercado estar precisando de profissionais interessados em dados e em pessoas, a formação desse profissional não é estruturada, muito menos abrangida dentro das universidades.

Quebra-cabeças roxo com um amontoado de peças
Photo by Bianca Ackermann on Unsplash

Alguém que trabalha com dados de pessoas estuda sobre tratamento de base de dados, visualização de dados, estatística, metodologia científica, programação ou tudo isso junto. Porém, por enquanto, nós temos que construir nossa própria grade curricular, sendo protagonistas da nossa própria carreira. E isso pode ser assustador. Por isso, eu digo para você que está iniciando, tudo bem sentir-se um pouco perdido no início. Tendo um estudo consistente e que faça sentido para você, os conteúdos vão se encaixando como um quebra-cabeça. No início, não sabemos como as peças se ligam até conseguirmos juntar algumas. Aos poucos, tudo vai se conectando e ficando mais claro.

4. Simplifique problemas, não pessoas.

Quebra-cabeça metade montado

Pessoas são complexas e os dados estão aí para ajudar. Com a análise de dados, muitos insights podem surgir, os quais “a olho nu” provavelmente passariam despercebidos. Quando olhamos para as pessoas com a lente dos dados, precisamos ter em mente que a análise de dados é um dos métodos possíveis para entendermos melhor a complexidade humana. É tentador acreditarmos cegamente que nossos modelos vão abarcar todas as singularidades. Assim como é ingênuo pensarmos que nossas análises estão livres de vieses, tendenciosidades e preconceitos, que não percebemos. Por mais refinado que tenha sido o tratamento estatístico, modelos são recortes, não verdades absolutas, por isso devem ser constantemente revisitados e questionados. Quando estivermos simplificando pessoas ao invés de problemas, é hora de dar um passo atrás e rever nossos conceitos.

5. Parece uma caminhada solitária… mas não precisa ser.

Você já deve ter percebido que, dentro da Psicologia, pessoas que gostam de dados não são a maioria (ainda hehehe). Por mais que o cenário global esteja mudando e grandes referências no mundo do trabalho olhem para um futuro baseado em dados, isso não é comum no Brasil. Por isso, para quem está começando, pode parecer uma caminhada um pouco solitária… mas não precisa ser assim. Tente encontrar outras pessoas com essa paixão por dados e gente. Bata um papo, chame para a conversa, crie rede. Uma categoria se desenvolve quando há discussão entre as pessoas. Debater nossas práticas é importante e compartilhar sentimentos, desafios e pepinos do dia a dia traz uma leveza para essa jornada.

Mesmo no início, esses são alguns aprendizados que adquiri nessa jornada de análise de dados em Psicologia. Na minha opinião, todos esses tópicos são ideias que eu adoraria ter ouvido de alguém o quanto antes e, como alguns de vocês podem estar passando por experiências parecidas, resolvi compartilhar. Recapitulando o início do texto, eu gosto dessa esquisitice de quem junta dados e Psicologia, pois essa paixão vem de pessoas que acreditam que os opostos se complementam para compreender o coletivo e o humano de forma mais científica e assertiva. Então, que sigamos nessa jornada juntos!

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Paula Costa
Datapsico

Estudante de Psicologia, apaixonada por dados&gente. Textos com início, algum meio e sem fim, pois as dúvidas não cessam. www.linkedin.com/in/paulavcosta