Suicídios no Brasil: De 2010 a 2019

Gabriel Rodrigues
Datapsico
Published in
5 min readSep 10, 2021

O tema do suicídio é importante de ser discutido durante a campanha do Setembro Amarelo. Nós aqui do PsicoData já abordamos assuntos importantes voltados a isso. Ano passado, lançamos um banco de dados organizado com os dados do DATASUS entre 2014 e 2018 das pessoas que morreram por suicídio (você pode vê-lo aqui, e entender sua organização aqui).

Esse ano, em 2021, vamos trabalhar com os mesmos métodos previamente adotados. Dessa vez, vamos tentar descrever os dados da série temporal de 10 anos no Brasil, entre 2010 e 2019. Nesse post, vamos abordar:

  1. A série temporal de suicídio ao longo de 10 anos.
  2. Quem morre por suicídio.
  3. Onde o suicídio acontece.

Quer entender como todo o projeto foi feito?

  • Acesse esse link para entender a organização do projeto todo e acessar algumas outras visualizações interativas disponíveis.
  • Acesse esse link para ter acesso ao repositório no GitHub e entender como as visualizações foram realizadas.

Série temporal

Inicia-se com uma observação geral sobre o fenômeno do suicídio nesses últimos 10 anos. De forma geral, a quantidade de suicídios aumentou todos os anos, indo de 9476 no ano de 2010 a 13554 no ano de 2019. Em média, foram registrados 11249 suicídios por ano nesses 10 anos.

Uma possibilidade é que o aumento de casos de suicídio esteja seguindo o aumento populacional ao longo dos anos. Essa variável não foi controlada e caracteriza uma das principais limitações desse projeto, já que um aumento de suicídio em números brutos não significa aumento percentual de suicídios em relação à população brasileira.

Quem morre por suicídio?

Em geral, os homens morrem mais de suicídios que as mulheres no Brasil. O número absoluto de suicídios registrados foi de 88394 para homens (78,58%) e 24075 para mulheres (21,40%).

Importante: Na base de dados DATASUS, não foi encontrada uma variável que pudesse especificar se a pessoa que morreu de suicídio se identificava como cis ou como trans. Nesse sentido, há falta de informação qualificada sobre o suicídio de pessoas trans em uma das principais bases de dados pública em saúde do país. Em meio a essa dificuldade, a Associação Nacional de Travestis e Transsexuais (ANTRA) publicou que houve um aumento e 34% no número de suicídios de pessoas trans no Brasil em 2020, quando comparado a 2019 (link da reportagem). Tais dados, entretanto, foram baseados nos casos alcançados pela ANTRA. A falta de uma variável que codifique isso de forma acessível no DATASUS dificulta o mapeamento do suicídio de pessoas trans — que pode ser considerado um problema de saúde pública. Outra importante variável que não é considerada pelo banco de dados do DATASUS é a orientação sexual, importante atravessamento relacionado à saúde mental.

Raça/cor

Em relação à raça/cor, de acordo com a classificação do IBGE:

  • A maioria dos casos de suicídio atinge a população autodeclarada branca
    (51,29%).
  • Somando-se os percentuais da população autodeclarada preta (5,42%) e
    autodeclarada parda (41,80%), tem-se que 47,22% dos casos atinge a população negra do Brasil.

Trabalho e suicídio

Desde 2010 até 2019, apenas 10 profissões/ocupações estão presentes no topo dos casos de suicídio.

Três das 10 ocupações estão relacionadas à agricultura. Ainda, por ano, percebe-se uma evolução no número de casos registrados de suicídios por estudantes. A partir de 2017, esse é o público que mais morreu de suicídio.

Onde o suicídio acontece?

A maioria dos suicídios, em números brutos, ocorreram nas regiões Sul e Sudeste. Um problema de olhar para números brutos é ignorar números relativos a população do estado. Por isso, foi dividido o número de suicídios pelo número de habitantes de cada estado. Essa variável nova chamada “taxa de suicídios” foi utilizada para a criação do mapa abaixo.

Em relação aos números brutos:

  • Roraima registrou o menor número de suicídios (n = 402),
    seguido por Amapá (n = 429) e Acre (n = 508).
  • São Paulo é o estado com maior número de registros de suicídio (n = 21970), seguido por Minas Gerais (n = 13541) e Rio Grande do Sul (n = 11860).
  • Vamos lembrar que a média de suicídio por ano, nesses últimos 10 anos, foi de 11249 casos ao ano. Nesse sentido, Minas Gerais colaborou para o registro de 1 ano de casos de suicídio no Brasil — o mesmo poderia ser dito do Rio Grande do Sul.
  • Seguindo o mesmo raciocínio, São Paulo colaborou para aproximadamente 2 anos de casos de suicídio no Brasil. No geral, esses três estados registraram 42% de todos os casos de suicídio no Brasil nesses últimos 10 anos.

Proporcionalmente ao número de habitantes (número de habitantes retirados do IBGE):

  • A menor taxa de suicídios foi no Rio de Janeiro, contabilizando 0.034% de
    pessoas que morreram por suicídio considerando o último censo do IBGE.
  • Seguindo o Rio de Janeiro está o estado de Pará (0.035%), Bahia (0.037%), e Alagoas (0.037%).
  • Os estados com maior proporção de suicídios por número de habitantes foram Rio Grande do Sul (0.111%), Santa Catarina (0.102%) e Mato Grosso do Sul (0.093%).
  • Apesar de São Paulo possuir um maior número bruto de suicídios, quando
    controlado pelo número populacional do estado a taxa de suicídio de SP (0.059%) se aproxima da média dos outros estados (0.063%).

Fechamento

É relativamente complicado acessar os dados de suicídios no banco de dados do DATASUS. Quando acessados, muitas vezes os dados estão incompletos e exigem procedimentos demorados de limpeza. Sobre o fenômeno do suicídio, muito se pode aprender a partir desses dados. Infelizmente, algumas informações importantes parecem ainda faltantes (e.g. orientação sexual, pessoa cis ou trans, nível socioeconômico, etc.).

Caso queira aprender mais sobre o fenômeno do suicídio, recomendamos o Instagram de Tiago Zortea (pesquisador de suicidologia) e seu blog.

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Contato

Espero que tenha gostado das análises. Qualquer dúvida, observação ou comentário são muito bem-vindos! Fique à vontade para se manifestar e vamos aprender juntos 😄

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Gabriel Rodrigues
Datapsico

Sou um psicólogo que trabalha com Análise e Ciência de Dados desde a graduação — busco criar e compartilhar conteúdo sobre esses assuntos. linktr.ee/gabrielrr