Entrevista com Victória Sacagami e Larissa Elisa sobre uma visualização dos parques públicos cariocas.

Rodrigo Medeiros
datavizbr
Published in
6 min readAug 12, 2019

Essa semana tivemos a oportunidade de entrevistar Victória e Larissa Elisa que realizaram uma visualização sobre os parques públicos cariocas. Esse projeto também resultou numa publicação na revista Infodesign. Primeiramente gostaríamos de agradecer por terem aceitado a entrevista e por compartilhar conhecimento com a comunidade de visualização de dados no Brasil.

Fonte: Behance do projeto

Vocês poderiam contar um pouco da trajetória de vocês com visualização de dados? Poderíamos nos contar também como iniciou o projeto de visualização dos parques públicos do Rio de Janeiro?

A visualização de dados na verdade, caiu de paraquedas em nossas vidas. Na época, estávamos cursando o curso de Comunicação Visual Design na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), quando surgiu a oportunidade de uma bolsa de Iniciação Científica, em uma parceria da EBA (Escola de Belas Artes) com o PROURB (Programa de Pós-Graduação em Urbanismo) da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo). Tendo como orientação a professora Lucia Costa, da FAU, e co-orientação, professora Julie Pires, da EBA, começou assim, junto com o projeto dos parques públicos, nosso primeiro contato com a visualização de dados.

Trabalho cartográfico desenvolvido pela Profa. Dra. Lucia Costa nos anos 1980.

O projeto inicial tratava apenas da atualização dos dados de um trabalho cartográfico, desenvolvido pela Lucia Costa nos anos 80, que buscava mostrar possíveis correlações entre a distribuição dos parques públicos no Rio de Janeiro, com a população, renda per capita e data de criação dos parques. Além da atualização desses dados, precisávamos organizá-los de forma a tornar o mapa visualmente mais eficiente. Conforme fomos desenvolvendo o trabalho, percebemos que apenas a cartografia não era o suficiente para contemplar tantas informações, tornando-o confuso e limitado. Começamos então a buscar outras representações gráficas que dessem esse suporte, e nisso entramos no mundo da visualização de dados.

O legal foi ver como existem diversos tipo de gráficos, além daqueles que estamos habituados. Encontramos referências incríveis, visualmente agradáveis e que atendiam a nossa necessidade, isso fez com que todas ficassem animadas em fazer algo nesta linha. Uma das principais inspirações que encontramos foi a biblioteca D3 (voltada para visualizações para web), que utilizamos como referência visual. Além disso, visualizações tais como o Wind Map, feito pela Fernanda Viégas e Martin Wattenberg, e Writing Without Words, da Stefanie Posavec, foram também alguns dos outros projetos que nos mostraram como a visualização de dados pode ser algo interessante e eficaz.

Vocês fizeram uma versão estática da visualização utilizando o Adobe Illustrator e Adobe Indesign. Vocês pensaram em fazer alguma versão desse projeto de forma interativa, além do gif animado que vocês postaram no Behance do projeto?

Nosso projeto, devido a sua complexidade, foi pensado para ser interativo sim. Como não tínhamos conhecimento em programação, a maneira provisória que encontramos para simular a interatividade consistiu na criação de um PDF interativo, usando o Adobe Indesign. Nele criamos botões em cada um dos ícones (bairros, parques, áreas de planejamento, etc.) e linkamos às suas respectivas páginas, com todas as informações detalhadas que reunimos durante a pesquisa. E isso acabou dando um certo trabalho. O gif animado no Behance foi feito apenas para representar essa interatividade já criada no PDF.

Fonte: Behance do projeto

O PDF acabou sendo uma opção muito limitada, não só pelas barreiras no desenvolvimento da interatividade, como também na acessibilidade do documento. A todo momento tínhamos em mente que a solução ideal seria uma plataforma, ou alguma outra opção para web, que facilitasse o acesso da população a esses dados. Ainda desejamos dar continuidade a essa ideia. Queremos desenvolver o projeto de forma que qualquer pessoa possa inserir dados também, utilizando essa visualização para tratar sobre diferentes assuntos, além dos parques públicos cariocas.

Como foi o processo de criação do projeto? Vocês seguiram alguma metodologia específica para infográficos ou visualização de dados?

Primeira proposta de layout

O projeto consistiu, primeiramente, pela coleta e atualização dos dados que haviam sido usados na primeira versão do trabalho. Compilamos então dados referentes aos parques que foram criados, seus respectivos tamanhos, e sua localização, assim como dados sobre população e renda per capita das regiões do Rio de Janeiro. Durante esse processo adicionamos também uma nova categoria, referente ao tipo de parque, onde dividimos as informações entre Parques Públicos e Parques Naturais, já que estes possuem especificidades diferentes.

Após a coleta, geramos uma planilha que facilitou a análise desses dados, pois nos permitiu criar subdivisões, bem como visualizar, ainda apenas em números, as áreas mais discrepantes do Rio de Janeiro, principalmente referente à renda per capita. Nesta etapa fizemos uma filtragem daquilo que deveria ou não entrar na visualização. Parques sem informação oficial, ou aqueles cuja administração não estava vinculada a nenhum órgão, não foram utilizados por exemplo.

Segunda proposta de layout

Com todos os dados analisados e selecionados, iniciamos então os testes de representação. Com a ajuda do RAW Graphs, plataforma que permite inserir e visualizar rapidamente dados em escala, e após diversos testes, erros e acertos, chegamos a um layout que atingiu nosso maior objetivo, o de agrupar todos os dados em uma única visualização. Depois fomos refinando, fazendo os ajustes de cor, e buscando torná-la visualmente mais eficaz.

Por fim, desenvolvemos a simulação de uma interatividade, para unir o antigo mapa, que ainda se fazia necessário por representar espacialmente a localização dos parques, à essa nova visualização, além de vir como auxílio para a navegação.

Qual foi a maior dificuldade desse projeto?

Como queríamos compilar os diferentes tipos de dados em um gráfico só, para podermos ter um panorama geral, nossa maior dificuldade foi essa. A ideia era criar algo diferente, ao invés de separar as informações em vários gráficos, além de fazer algo que despertasse o interesse das pessoas. Como estávamos lidando com dados sobre tempo, localização, quantidade de população e renda, atrelar todos eles foi um desafio, mas valeu a pena. Criamos diversos tipos de gráficos antes de chegarmos ao resultado final, indo desde do scatterplot, gráfico de linhas, até o gráfico de coordenadas paralelas, e entre muitos outros. Depois fomos analisando quais funcionavam mais para cada dado, e pensando em formas de juntar todos eles de um jeito que funcionasse. Queríamos também que o gráfico remetesse de alguma forma ao tema do projeto, ou seja, que remetesse aos parques. Começamos a rascunhar, e aos poucos, foi tomando a forma de uma árvore.

Além disso, não podemos deixar de falar também sobre a dificuldade da coleta dos dados. A transparência de dados públicos é essencial para auxílio na compreensão por parte da população acerca do entorno no qual estamos inseridos. Infelizmente, eles nem sempre são apresentados da melhor forma, e de fácil acesso, isso fez com que gastássemos mais tempo do que o necessário nessa parte inicial da pesquisa. De qualquer forma, isso acabou sendo também um incentivo, para que pudéssemos desenvolver um trabalho que ajudasse as pessoas a conseguirem visualizar de forma mais clara esses dados complexos.

Quais dicas vocês poderiam sugerir para quem está começando na área de visualização de dados (livros, autores, pessoas para seguir no twitter e behance)?

A área de visualização de dados está crescendo cada vez mais, e consequentemente, mais pessoas estão falando sobre isso. É legal ver a quantidade de novos projetos, agências e grupos surgindo. Talvez para quem esteja começando, seria bacana conhecer um pouco sobres as opções e funcionalidades de cada tipo de gráfico. O Dataviz Catalogue, assim como o Dataviz Project, são duas plataformas boas para isso. É interessante conferir também o trabalho de pessoas já conhecidas na área, como Fernanda Viégas, Alberto Cairo, Nathan Yau, Edward Tufte, Ben Fry e Hans Rosling por exemplo. Muitos deles possuem diversos livros dando uma excelente introdução ao assunto. Stefanie Posavec e Giorgia Lupi, possuem projetos incríveis, e publicaram também o Dear Data, livro de visualizações trocadas entre elas, através de cartões postais. Por fim, para praticar um pouco, achamos que o Raw Graphs é uma ferramenta online simples e acessível, permitindo que qualquer pessoa possa visualizar e analisar dados.

A equipe do datavizbr agradece mais uma vez a participação da Victória e Larissa Elisa nessa entrevista. Acompanhem nosso twitter para saberem de novos conteúdos.

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Rodrigo Medeiros
datavizbr

Interaction Designer and Professor, PhD. Curator at @datavizbr. #ux #dataviz