3 bons motivos para não usar gráficos que tem nome de comida — pizza, donut e spaghetti
Fui convidado para uma palestra no Share 2016 — Edição Porto Alegre. Falei sobre visualização de dados e técnicas de apresentação para profissionais de monitoramento e métricas. O nome da palestra foi Relatórios: Extreme Makeover, e a experiência foi bem legal. Para fazer essa apresentação reli três livros, comprei dois novos, fiz um curso de oratória e aprendi muito!
Muita gente gostou da palestra e veio falar comigo na hora do café. Fiquei feliz de ouvir de algumas pessoas que genuinamente demonstraram a intenção de mudar seus relatórios com base nas recomendações que dei sobre os tipos de gráficos, uso de KPI's e até dicas simples de como entregar informações.
Mas nem todo mundo gostou. Como fiquei um pouco nervoso no começo (me empolguei contando a história de Carlúcio, um analista de monitoramento que se dá mal em uma reunião) acabei estourando o tempo e tive que correr com uma parte da apresentação.
Isso deixou algumas pessoas reclamando que o conteúdo principal poderia ter sido abordado melhor. E outras esperando motivos mais sólidos para tomar essa decisão importante: abandonar definitivamente o uso desregrado dos gráficos de pizza e similares em relatórios.
Não é a primeira vez que recebo respostas negativas quando insisto que gráficos de pizza são terríveis e devem ser abolidos. Até entendo alguns motivos para a resistência: é bem prático para quem faz relatórios continuar usando um recurso que está facilmente disponível em todas as ferramentas de analytics e sai em dois cliques no excel.
A polêmica que me motivou a escrever este artigo surgiu após apresentar este slide da palestra.
Algumas pessoas questionaram o motivo da minha birra no twitter:
Resolvi então aprofundar um pouco mais e explicar os três motivos simples para você evitar usar gráficos de pizza. Observe este gráfico antes de ler:
Agora, antes de continuar, tente responder: qual é o aumento percentual de pessoas mais interessadas em ciência após o programa?
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Possivelmente você demorou cerca de 4 segundos. E isso é muito! O problema dos gráficos de pizza são algumas limitações de design que ficam óbvias se você prestar atenção:
- São terríveis com valores pequenos
Quando você tem muitas categorias, as que tem valores abaixo de 5% ficam literalmente escondidas. - Dependem do uso de cor
Quando você tem muitas categorias, você precisa de cores para salientar essas diferenças. Só que é difícil escolher cores de forma eficiente por conta do posicionamento das categorias no gráfico. E um fato importante: 8% da população masculina é daltônica ou sofre de algum tipo de dificuldade em perceber cores. Você vai arriscar usar um gráfico que depende tanto assim de cores? - Dificultam a comparação direta
Perceber rapidamente a diferença entre valores próximos (ex.: 38% vs 33%) é bem complicado num gráfico de pizza. Faça um teste: remova os labels de um gráfico de pizza e tente adivinhar o percentual. E fica pior quando você quer comparar dados de muitas categorias em momentos diferentes.
Se você ainda não está convencido, veja com carinho o redesign abaixo, proposto pela Cole Nussbaumer em seu novo livro, Storytelling with Data. São os mesmos dados do gráfico anterior, apresentados de três maneiras diferentes: somente texto, barras e slopegraph:
Lembre se que o objetivo principal de um relatório deve ser comunicar os dados e facilitar com que a informação apresentada vire conhecimento na cabeça do cliente — a pessoa que vai tomar realmente a decisão.
Não é uma questão de poder usar, ou de gostar, é puro bom senso. Não sou eu cagando regras, isso já foi objeto de estudos bem profundos! Segundo Bertin, um cartógrafo francês que estudou os fundamentos da semiologia gráfica, e Edward Tufte, um dos pais da visualização de dados, o gráfico de pizza não funciona bem quando é usado para representar várias categorias. Se você pode usar algo melhor, tão simples de fazer e mais belo, que motivo você tem para insistir no erro e prejudicar a compreensão das informações que você está entregando?
Para saber mais:
Semiology of Graphics — Jacques Bertin
Para os nerds que querem se aprofundar em semiologia dos gráficos, este é um livro fundamental sobre o assunto. Nandico, tá aí?death to pie charts
Artigo bem bacana da Cole Nussbaumer com um exemplo intrigante3 reasons pie charts suck
Uma outra análise, de 2013.
Fique à vontade para fazer suas questões nos comentários ou converse comigo no twitter. Se tiver um tempinho, responda a pesquisa sobre como seus clientes entendem os gráficos e visualizações de dados que você cria.