Visualização de Dados Inclusiva

Ligia Galvão
datavizbr
Published in
5 min readAug 28, 2019

Uma das preocupações em desenvolver um painel gerencial com os principais achados dos conjuntos de dados é torná-los claros, concisos e completos para a audiência. Além de um grande conhecimento em análise, os profissionais que trabalham com a criação de dashboards precisam dar atenção para o design. Achar o gráfico certo que melhor representa um determinado dado ou decidir pela paleta de cores que serão usadas, é quase um trabalho artístico.

No momento de escolher as cores do painel alguns desenvolvedores buscam usar as cores das empresas, as cores do sinal de trânsito ou as cores que estão em evidência no momento. Mas muitos se esquecem que uma pequena parte de sua audiência pode ter alguma limitação em enxergar as diferentes cores que compõem o painel gerencial, como é o caso das pessoas daltônicas.

Talvez este descuido ocorra pelo baixo número da população mundial conviver com o daltonismo, onde cerca de 5% dos 7,7 bilhões de indivíduos do mundo sofre com a dificuldade de diferenciar cores. E dentro das organizações para o qual você esteja desenvolvendo um dashboard, este número pode chegar a zero. Mas como falamos tanto de inclusão, é importante colocar os daltônicos dentro da discussão dos dados, permitindo a criação de um dashboard compreensível para todos.

Antes de iniciar as mudanças no dashboard, é importante entender que existem 4 tipos conhecidos de daltonismo:

1- Protanopia: O indivíduo não consegue enxergar a cor vermelha.

2- Deuteranopia: O indivíduo não consegue enxergar a cor verde.

3- Tritanopia: O indivíduo não consegue enxergar a cor azul.

4- Monocromia: O mais raro, o indivíduo não consegue diferenciar as cores, tendo uma visão total em escala de cinza.

Entender os tipos de daltonismo abre uma percepção do quanto é difícil trabalhar cores em um painel gerencial mais inclusivo, e que não adianta apenas substituir as cores verdes e vermelhas pela azul, por exemplo, a questão é mais complexa. Mas também banir as cores dos dashboards é uma tarefa desnecessária.

É muito difícil criar um dashboard com as cores ideias para atender aos daltônicos, por isso a sugestão é trabalhar as cores com ícones e textos. É a mesma solução criada pelo sistema de trânsito na maioria dos países. As cores verde, amarelo e vermelho são usadas mundialmente para controlar o trânsito ou definir o status de um controle (controlar o estoque, acompanhamento de vendas, entre outros).

Mas para o trânsito ser um ambiente seguro para os daltônicos, a maioria das cidades usam o ícone de um bonequinho junto com as luzes. Onde o bonequinho andando junto da cor verde sinaliza que o pedestre pode atravessar a rua, e o bonequinho parado junto da cor vermelha indica que a pessoa não pode atravessar a rua. Para o caso do sinal amarelo o bonequinho aparece piscando, alertando para o fechamento do sinal.

Uma outra solução usada pelo trânsito é colocar as cores do sinal sempre na mesma posição, ou seja, nos semáforos do Brasil, as cores mudam sempre do verde, passando para o amarelo e terminando no vermelho, até o ciclo recomeçar. No trânsito brasileiro, essas cores geralmente se movem de baixo para cima, onde a cor de baixo é sempre o verde, a do meio amarela e por fim a vermelha, no topo. Assim a pessoa daltônica não se preocupa com qual cor está aparecendo, mas sim de qual posição está saindo a luz.

Os dashboards devem seguir a mesma lógica, trabalhar as cores junto de textos, números, figuras e ações. Abaixo alguns exemplos que podem nos guiar na criação de painéis mais inclusivos:

– No clássico gráfico de velocímetro, não há a necessidade de substituir as cores vermelha e verde. Como no exemplo abaixo, o daltônico consegue se guiar pela posição dos medidores e pelo contraste entre cada cor:

– No gráfico de termômetro, até quem consegue distinguir todas as cores vê pouca relevância em qual cor está sendo usada. Neste tipo de gráfico o resultado numérico é o mais importante e precisa ser destacado.

– Use a posição da seta para ressaltar os valores, como na tabela abaixo:

– Os dois exemplos a seguir, são excelentes modelos para trabalhar a posição do gráfico. No primeiro modelo, as músicas são classificadas em um quadrante onde apresenta uma escala da música da cantora Lizzo seguindo quatro variáveis. Neste caso, o resultado é apresentado pelo tamanho da pétala em cada quadrante. Repare que a posição de cada pétala direciona mais a análise do que a cor das pétalas.

Fonte: Justin Lorenzo Pimentel
Fonte: Gwendoline Tan

– Uma outra opção é trocar as cores por imagens, como no gráfico abaixo:

Fonte: Royce Ho

Ou até mesmo por emojis:

Fonte: Chee Ann

Para quem cria seus dashboards na ferramenta Excel, sugiro assistir o vídeo do canal Excel Turbo, onde o Cristiano ensina como incluir emojis na ferramenta.

A intenção é criarmos dashboards cada vez mais inclusivos e de fácil compreensão de todos. Sendo assim, não há cores ou gráficos proibidos, use sua criatividade para comunicar de forma clara. Caso tenha o conhecimento de alguma pessoa daltônica na equipe, convide ela para participar da criação do dashboard. Se isso não for possível, abaixo estão alguns sites que podem ajudar a te colocar um pouco no lugar de quem tem limitações para diferenciar as cores:

https://enchroma.com/pages/test

https://brasil.elpais.com/brasil/2017/10/08/cultura/1507468141_020732.html

Color Blind Test

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Vamos Analisar!

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Ligia Galvão
datavizbr

Especialista em Inteligência de Mercado. Mestre emCustomer Intelligence & Analytics pela Pace University, Nova York.